A comemoração norte-americana pela morte de Bin Laden deve ser vista de forma compreensiva, mas com muita descrença em relação à política internacional. Claro que é plenamente compreensível que uma parcela da população entre em clima de euforia: primeiro pelo atentado de 11 de setembro de 2001, segundo porque a morte do líder da Al-Qaeda passa a ideia de vingança, de acerto de contas.
É importante lembrarmos que foi disseminado pelos próprios governantes americanos um clima de ódio contra Bin Laden, personificando nele toda a indignação popular. A ofensiva contra a organização Al Qaeda tem ainda o aspecto de resgate da auto-estima norte-americana, tão desgastada com a crise econômica que se enraizou no país.
Não podemos deixar de fora da análise o superdimensionamento do fato em si pelo governo Obama, como uma forma de buscar na morte de Bin Laden o fato novo de resgate da aceitação da sua gestão, que perde constantemente popularidade, colocando em risco sua reeleição.
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Feita essa breve análise da euforia que toma conta dos EUA, temos de analisar o significado da morte do maior líder do Al Qaeda. Para o enfraquecimento da organização, representa quase nada. O próprio Bin Laden previa a sua morte, com certeza se preparou para isso e preparou a Al Qaeda também. Certamente, a rede hierárquica está estruturada para essa baixa e para outras, de tal forma que ela mantenha a sua capacidade organizativa e sua capacidade de ação.
Como a própria CIA (inteligência policial americana) prevê, a caça ao líder da Al Qaeda e a sua execução legitimarão uma reação que ninguém consegue prever a dimensão e repercussão.
A Al Qaeda existe, cresce e tem força por dois aspectos básicos. Primeiro, pela política externa norte-americana de subjugar nações e de resolver conflitos pela força; o outro “fermento” da organização é o ambiente religioso, político, cultural do Oriente Médio.
Nesse sentido a postura do governo Obama em relação à política externa é uma decepção: ele reproduz exatamente a lógica do governo Bush. A esperança de que os EUA governados pelo primeiro negro da história pudessem instaurar uma outra cultura na resolução dos conflitos internacionais fica cada vez mais como uma esperança perdida.
E, no momento em que o povo, das diferentes nações e países do Oriente Médio, vai à ruas pedindo democracia, no seu sentido mais amplo, passando por cima de lideranças políticas esgotadas, rompendo o silêncio religioso, criando as bases populares para um nova cultura política e, talvez, de uma nova identidade, aparece o governo americano, em mais uma ação de força bélica, como aquele que é capaz de unificar “todos”, principalmente a juventude radicalizada, contra o inimigo comum.
A morte de Bin Laden é muito mais uma criação da “sociedade do espetáculo” do que uma iniciativa que tenha resultados concretos nas ações terroristas ou que altere os conflitos internacionais. Ao contrário, a curto prazo, deve crescer no Oriente Médio a propaganda e o sentimento anti-americano, criando um fato novo, que, no momento, deve enfraquecer a crescente onda que move multidões pela democracia como valor central.
Efetivamente, a morte de Bin Laden terá, na conjuntura, mais efeitos concretos na política interna americana do que significará um avanço na política internacional de construção de uma unidade mundial contra o terror ou de enfraquecimento das redes que alimentam os movimentos discordantes da atual hegemonia política mundial.
Os movimentos políticos que escolheram as ações terroristas como método só serão enfraquecidos quando mudarmos a lógica de superação dos conflitos internacionais, menos força bélica e mais diálogo, e, claro, quando a democracia for o elemento de aglutinação dos descontentes nos países do Oriente Médio, e não mais o sentimento anti-americano, principalmente entre os jovens.
O governo da presidenta Dilma está correto ao não apoiar ações como essa, que eliminaram Bin Laden e que nada representam de concreto na política internacional, a não ser o reforço de uma prática ineficaz e superada. Menos espetáculo e mais diálogo.
Edinho Silva é presidente estadual do PT/SP e deputado estadual.
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