Uma nova ameaça paira sobre a humanidade, resultado da política suicida dos Estados Unidos – pretendem impedir pela força as mudanças geopolíticas irreversíveis decorrentes da emergência de China, Índia, Rússia, Irã, Turquia, Indonésia, Arábia Saudita e Brasil –, e produto da globalização e financeirização do mundo: o ressurgimento do fascismo sob a capa de uma extrema direita internacional conservadora, reacionária e xenófoba, agravada pelo fundamentalismo religioso.
Países como o Brasil correm riscos em duas frentes: tanto sua soberania como sua democracia estão em xeque, pois suas elites, sem projeto nacional de desenvolvimento, são pressionadas por forças extremistas e, ao mesmo tempo, revelam-se incapazes de dar uma resposta à desigualdade, à pobreza e à concentração de renda, riqueza e patrimônio. Assim, oscilam entre manter o status quo e impedir o avanço da extrema-direita para o poder.
A atuação orquestrada da extrema-direita no cenário internacional levou um grupo de parlamentares brasileiros, entre os quais os senadores Humberto Costa (PT/PE) e Eliziane Gama (PSD/MA), e os deputados Rogério Correa (PT/MG), Jandira Feghali (PCdoB/RJ), Pastor Henrique Vieira (PSOL/RJ) e Rafael Brito (MDB/AL), a viajarem aos Estados Unidos para visitar parlamentares democratas daquele país e articularem uma frente em defesa da democracia e de combate ao fascismo. Isso porque políticos brasileiros de extrema-direita conseguiram convencer parlamentares republicanos a pautar uma audiência no Capitólio sobre a existência de uma ditadura no Brasil conduzida pelo Supremo Tribunal Federal e pelo governo Lula. O próximo passo da frente parlamentar em defesa da democracia será incluir no movimento representantes do Parlamento Europeu.
Não há como derrotar a extrema-direita e o fascismo sem uma revolução social que resolva a questão nacional e democrática, retome o projeto de desenvolvimento nacional e realize as urgentes e necessárias reformas tributária, para que os que ganham menos deixem de arcar com o peso maior dos impostos e os ricos passem a pagar segundo seus ganhos, e bancária-financeira. As classes populares e a esquerda têm o desafio de liderar essa coalizão política capaz de substituir a incapacidade das elites financeiras e agrárias, atraindo para a aliança os setores médios democráticos e empresariais.
Essa equação se resolve com um governo que coloque o Estado e suas instituições a serviço desses objetivos e mobilize as classes populares progressistas para sustentar um programa reformista que não se concretizará em um único mandato, e sim num período histórico. Exige um partido político à altura desse desafio e lideranças com convicção e vontade política de se renovar e liderar essa luta política, organizando as classes populares para ser a força principal dessa coalizão.
A questão é se o PT e suas lideranças estão à altura desse desafio, que será conduzido sob a liderança do presidente Lula, que tem capacidade e prestígio para liderar um movimento político nacional e fazer uma revolução social e colocar o Brasil como país soberano líder na integração da América do Sul. Muitas vezes, os povos, em sua construção como nação, tomam decisões e escolhem caminhos que os levam à destruição. Exemplos históricos não faltam, basta lembrar a Alemanha nazista e o Japão imperial e militarista.
Nem sempre há unidade e consenso para decidir que caminhos adotar na busca do bem-estar e da felicidade. Para além da divisão em classes sociais, há dentro de cada uma, dependendo do período histórico, divisões, e nem sempre as classes proprietárias e/ou as classes trabalhadoras atuam por consenso.
Assistimos hoje a uma profunda divisão dentro dos Estados Unidos, expressa no trumpismo e na luta contra o sistema, que visa subverter o consenso histórico do império norte-americano. Na Europa, a social-democracia que assumiu o neoliberalismo enfrenta a extrema-direita, que já governa ou inviabiliza governos de maioria em seus países.
O desafio das lideranças e partidos políticos e das diferentes forças sociais é formar uma coalizão que viabilize uma maioria para governar e avançar rumo a um programa que expresse a nação e os interesses das classes sociais que a compõem. Pode ser em defesa da democracia ou da soberania nacional, ou em defesa de um programa de desenvolvimento nacional que expresse os interesses das diferentes classes que se aliaram na busca de um objetivo histórico.
O Brasil enfrenta esse desafio, e as forças de extrema-direita, que já governaram o país, estão se organizando para retomar o governo em 2026. Contam com adesão nas classes populares, força parlamentar expressiva, apoio de governadores e prefeitos de cidades importantes. As eleições municipais são um teste para definir a correlação de forças no país.
Cerco ao bolsonarismo
Não fomos capazes de manter, nas eleições municipais, a frente ampla que elegeu Lula em 2022 e, em muitas cidades, o bolsonarismo participa de frentes com partidos que apoiaram Lula, como em São Paulo. O desafio do PT e dos partidos que compõem a centro-esquerda é impedir o crescimento do bolsonarismo. Mesmo que a direita ou o chamado centrão não apoie a pauta autoritária do bolsonarismo, é possível que se componha com ele em agendas econômicas, o que é um impeditivo para um programa de desenvolvimento nacional. Há um fato novo: o fortalecimento dos partidos de direita que assumem um programa liberal e conservador, mas não de extrema-direita, e se organizam na base da sociedade.
As esquerdas, depois de um período de derrotas e repressão não apenas jurídica, retomaram o governo com Lula em 2022 numa política de frente ampla contra o bolsonarismo, mas são minoria no Parlamento – assim como o PL. No curto prazo, nosso desafio é a retomada das lutas sociais e a implantação, pelo PT, de uma organização partidária em todo o país que lhe garanta transformar o apoio eleitoral e social (que já tem) em um novo processo político de retomada do crescimento com distribuição de renda.
Precisamos dar visibilidade à Frente de Centro-Esquerda e à Frente Ampla, e expressá-las no governo, sob pena de não sermos capazes de mantê-las em 2026. O maior desafio é a reeleição de Lula e a continuidade de um programa de mudanças – e não apenas o necessário e urgente combate à pobreza e à fome. Para isso, a prioridade é aumentar de forma expressiva nossa bancada na Câmara dos Deputados e impedir que a extrema-direita cresça no Senado. Tarefa que exige sua articulação já nas eleições municipais.
O cenário internacional é de crises e guerras e o tempo para mudanças é mais curto com os avanços tecnológicos e as mudanças geopolíticas, exigindo do Brasil e do nosso governo a consciência de seu papel na América do Sul e no mundo. Para assumir a liderança da integração e da reconstrução da governança mundial, precisamos ter coesão nacional e um programa mínimo que unifique uma maioria eleitoral e construa uma coalizão político-partidária e social capaz de governar e retomar fio da história de nosso país como uma nação pacífica, democrática e justa.