Clique no banner para ver todos os duelos de opinião já publicados
Em defesa dos direitos dos homossexuais, atletas deveriam boicotar jogos de Sochi 2014?
NÃO
Já pensou se Jesse Owens tivesse boicotado as Olimpíadas de Berlim, em 1936? Ele não teria ganhado suas quatro medalhas de ouro no atletismo. Não teria humilhado Hitler na própria casa do ditador, ao demonstrar claramente que os arianos não são tão superiores assim. Não teria entrado para a história.
Naquela época ainda não se usava o boicote a eventos esportivos como arma política, nem se sabia (só se desconfiava) de todo o potencial maléfico da Alemanha nazista. Mesmo assim, Jesse Owens fez a coisa certa. Foi a Berlim e manchou os delírios do Führer de maneira indelével.
Para Jean Wyllys, SIM: boicote é a melhor opção
Estamos em plenos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, sediados na cidade russa de Sochi. Uma das competições mais polêmicas de todos os tempos, por causa da draconiana legislação antigay aprovada pelo governo Putin no ano passado.
O estado russo, insuflado pela Igreja Ortodoxa e pelos setores mais retrógrados da sociedade, agora pode reprimir com mão pesada tudo o que entender como “propaganda gay”.
Qualquer pessoa com alguns neurônios funcionando sabe que isto não existe: ninguém é convencido pelos outros a “virar” gay. Mas os homofóbicos classificam como propaganda qualquer manifestação pela igualdade dos direitos, tais como paradas, ONGs e até revistas ou sites voltados para o público homossexual.
Leia mais:
Atirador mata duas pessoas e fere seis em catedral da ilha russa de Sakhalin
Existem muitos países com leis ainda piores. Mas, a Rússia é um caso específico: é enorme, poderosa, rica em gás e petróleo. Faz parte do chamado “BRICS”, ou seja: quer entrar para o mundo desenvolvido. Mas, nenhum país é desenvolvido se não proteger suas minorias.
Agência Efe
Esquiadora norueguesa durante a prova de esquí nórdico, no 6º dia das olimpiadas de Sochi
Ativistas da causa LGBT expuseram a hipocrisia de marcas como a Coca-Cola ou a Procter & Gamble, que se fazem de moderninhas no Ocidente mas não hesitaram em patrocinar os Jogos de Sochi.
O próprio Comitê Olímpico Internacional traiu seus ideais ao não se posicionar de maneira contundente contra os desmandos do país-anfitrião. Todos esses atores mais do que merecem a avalanche de críticas que vêm recebendo.
NULL
NULL
Chegou-se a falar até mesmo em boicote puro e simples aos Jogos. Afinal, a exclusão da África do Sul de quase todas as competições internacionais teve um papel fundamental na derrubada do apartheid.
Mas as experiências anteriores não foram exatamente bem-sucedidas. Em 1980, os Estados Unidos e alguns de seus aliados não foram às Olimpíadas de Moscou, em protesto contra a invasão soviética do Afeganistão. Quatro anos depois, a URSS e seus satélites faltaram aos jogos de Los Angeles. Ambos os eventos perderam muito de seu brilho, mas nenhum ganho político concreto foi computado por nenhum dos lados.
Restam os atletas. Muitos foram instados pelas redes sociais a permanecer em casa, principalmente os de orientação homossexual. Seria um desfalque e tanto: afinal, os gays são numerosos em modalidades como a patinação.
Leia mais:
Yanukovich encontra Putin em abertura de Jogos Olímpicos de Sochi
Mas é injusto cobrar deles tamanho sacrifício, como disse o patinador americano Johnny Weir, que se preparou a vida inteira para este momento. E agora querem que ele abandone seu sonho? Desperdice sua vida em nome de uma causa?
Claro que há causas que valem bem mais do que nossas próprias vidas. Mas, no caso de Sochi, o movimento LGBT será melhor servido se gays e simpatizantes comparecerem em massa. E derem um jeito de protestar “in loco”.
Como fez a delegação da Alemanha, que desfilou na cerimônia de abertura em uniformes que evocam o arco-íris da bandeira gay. Ou a patinadora holandesa Ireen Wüst, bissexual assumida e medalhista de ouro nos 3.000 metros. Ao subir ao pódio, a moça arrancou um abraço de ninguém menos do que Vladmir Putin.
Ó lá o presidente da Rússia fazendo propaganda gay!
(*) Tony Goes é publicitário, blogueiro, roteirista e colunista da Folha de São Paulo
*Os artigos publicados em Duelos de Opinião não representam o posicionamento de Opera Mundi e são de responsabilidade de seus autores