Como ocorre em todo o planeta, o Peru também é tributário do grande processo migratório global do sul-norte e, em particular, do processo migratório entre países vizinhos da nossa América do Sul. A presente nota traça o perfil da população peruana e de seus processos migratórios como forma de dar início a um olhar mais aprofundado do grupo no Brasil.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INEI-2023), a população peruana superou 33,7 milhões, dos quais 1,5 milhão são estrangeiros, portanto, os peruanos nativos seriam 32,2 milhões. Somando mais de 3,3 milhões de peruanos que vivem no exterior, então estamos falando de 35,5 milhões de peruanos que, para se ter uma ideia, representam 0,4% da população mundial.
Aproximação ao perfil da população peruana
Desde o ponto de vista territorial, 59% da população vive na região costeira, 26,8% na serra e 14,2% na selva. É um dos países com menos densidade populacional no mundo, sendo apenas 26 habitantes por km2, característica semelhante à do Brasil que tem 24 habitantes por km2.
82,6% da população reside em áreas urbanas, sendo Lima a que concentra mais de 10 milhões de pessoas. Em seguida Callao, Trujillo, Arequipa e Piura com mais de 1,1 milhão. Outras cidades (Piura, Cusco, Cajamarca, Junín e Lambayeque) mostram seu potencial como polos regionais de desenvolvimento, embora insuficiente para neutralizar o centralismo limenho.
A idade mediana da população é de 33,6 anos (2023), maior do que se tinha em 1993 (28,9 anos) e muito mais do que nas décadas anteriores a 1993, quando a média era de 23 e 24 anos. Como é possível ver, a população peruana está envelhecendo. Se aproxima à idade mediana da China (38 anos) e dos Estados Unidos (40 anos), mas ainda estamos longe do Japão (48 anos).
A maioria da população jovem (15 a 29 anos), que representa 23% da população total, se identifica como mestiça e vem de setores populares andinos, ainda que com a crescente participação dos setores médios, principal fonte dos processos migratórios.
Migrantes peruanos
Estima-se que mais de 3,3 milhões de peruanos deixaram o país, dos quais 51,9% são mulheres e 48,1% homens. Este “desequilíbrio” faz parte das tendências do processo migratório que, há algumas décadas, mostram que as mulheres têm mudado seus motivos para migrar: priorizam o trabalho ante a família.
Ao contrário dos migrantes de outros países, 83,5% dos peruanos que vivem no exterior têm um status de imigração regular. Quase 70% destes têm estudos superiores, o que revela uma descapitalização dos recursos humanos no Peru. 14,5% dos migrantes têm entre 18 e 29 anos e 67,1% têm entre 30 e 59 anos. Outro fato relevante é que mais de 70% dos peruanos que vivem no exterior têm empregos remunerados.
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Em processo migratório, cerca de 3,3 milhões de peruanos deixaram o país, dos quais 51,9% são mulheres e 48,1% homens
Os 30,2% dos peruanos que deixaram o país residem nos Estados Unidos; 15,4% na Espanha; 13,6% na Argentina; 11,8% no Chile; 10,2% na Itália; 3,7% no Japão; 1,9% no Canadá; e, no Brasil, 1,8%. Consistente com as anteriores, as remessas ao Peru em 2023 (4 bilhões de dólares, aproximadamente 2% do seu PIB) provêm principalmente dos EUA (quase 50%).
Peruanos no Brasil
Até 2004, 25 mil peruanos estavam cadastrados no Brasil. Para 2023, estima-se cerca de 61 mil, sendo metade em São Paulo. Embora a migração peruana para o Brasil tenha tido um pico nos últimos meses por conta da crise multidimensional enfrentada pelo Peru, não é novidade a história de que, por décadas, os peruanos procuraram por uma vida melhor em terras brasileiras.
Os primeiros migrantes foram os que residiam em zonas fronteiriças e depois deram lugar aos migrantes de todo o país.
As primeiras levas de peruanos que chegaram ao Brasil entre as décadas de 80 e 90 foram muito marcantes. Eram contingentes de estudantes que vinham conseguir carreiras profissionais sob a influência do “bom ensino superior” oferecido pelas universidades públicas, especialmente em São Paulo e Campinas. A maioria deles decidiu ficar e trabalhar no Brasil.
As razões pelas quais um peruano busca se estabelecer no Brasil são as mesmas razões pelas quais os peruanos migram para qualquer parte do mundo: trabalho, família e expectativas. São razões associadas à economia brasileira e ao seu desenvolvimento, ao seu melhor padrão de vida, à melhor prestação de serviços básicos por parte do Estado, bem como a sua crescente importância no cenário internacional.
O ponto de chegada mais solicitado é a cidade de São Paulo, com uma população superior a 22 milhões de habitantes, quase metade da população estadual que ultrapassa os 44 milhões. Seu desenvolvimento industrial e seu potencial no comércio e no turismo, assim como na área de serviços, são motivos suficientes para gerar interesse nos migrantes peruanos, especialmente por jovens entre 19 e 39 anos. Apesar das dificuldades linguísticas, os peruanos conseguiram se integrar à sociedade brasileira, demonstrando que a miscigenação dominante em ambos os países faz com que a empatia não seja um bem escasso.
Segundo o Consulado Geral do Peru em São Paulo, a maioria dos peruanos que vivem nesta cidade são jovens com menos de 35 anos, quase com paridade de gênero. A ocupação principal que declaram está associada ao comércio (artesanato e produtos alimentares), serviços diversos que vão desde oficinas de confecção e mecânica até trabalhos domésticos, nas regiões Centro e Leste da cidade. Sua origem remonta aos setores populares e médios de Lima, Cusco, Puno e Arequipa.
Na nota seguinte veremos com mais detalhes o perfil dos peruanos no Brasil, sua localização territorial e níveis de organização, além dos regulamentos dirigidos a eles.
(*) Nilo Meza é economista e cientista político peruano.
(*) Tradução Rocio Paik.