As eleições presidenciais na Colômbia serão realizadas no próximo 29 de maio. Trata-se da continuação do processo eleitoral que começou em 13 de março, quando se efetuaram os comícios legislativos e as consultas dos partidos e coalizões para escolher — pelo voto direto dos colombianos e colombianas — os candidatos à presidência que hoje estão na disputa.
O resultado em março permite observar um panorama no qual a coalizão Pacto Histórico, integrada por várias forças políticas e movimentos, como a Colômbia Humana, a União Patriótica, o Partido Comunista, o Polo Democrático, além de mais de 70 organizações sociais, de profundo lastro popular, se consolidou como uma alternativa para obter uma vitória inédita do campo da esquerda, dos setores progressistas e democráticos no país.
O Pacto Histórico apresenta como fórmula para a presidência Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá, senador e liderança que a longo da história do país, particularmente nos debates do Congresso, tem deixado claro seu compromisso com e eliminação dos fatores que sustentam a violência política executada pelos grupos paramilitares de extrema direita e orquestrada desde os cantos mais nebulosos e as entranhas do poder mafioso que há décadas tomou por assalto o Estado colombiano.
A candidata à vice-presidência é Francia Márquez, uma mulher de coragem cuja vida se mistura com a defesa da vida nos territórios dos afrodescendentes, dos povos originários, com a luta pela paz e a conquista dos direitos em favor dos mais vulneráveis. Se trata de toda uma lição de resistência e de entrega por um bom viver e por, como ela própria diz, uma “vida saborosa”, digna e justa para todos e todas.
Entretanto, a comunidade internacional e especialmente os democratas do mundo, trabalhadores da paz, da segurança, da alegria dos povos, têm que estar muito atentos à maneira como se pretende minar esta possibilidade de edificar uma Colômbia diferente à já conhecida de massacres, operativos militares, bases estrangeiras, desemprego e fome.
A direta age em desespero. O Centro Democrático, que aglutina as forças mais reacionárias, grandes empresários, setores vinculados à tática paramilitar, sustentam a candidatura do sr. Federico Gutiérrez. Um candidato pré-fabricado, distante dos interesses populares e sobretudo comprometido com a continuidade de um Estado em decomposição, excludente e economicamente atrelado às fórmulas mais severas e restritivas de direitos sociais do neoliberalismo fracassado.
Na órbita comunicacional se trata de infundir o medo e um clima de “salto ao vazio”, como se o Pacto Histórico não representasse um projeto de país, com alicerce nos interesses nacionais e populares. O candidato Gutiérrez demonstra não ter propostas, senão performances, atuações e visões que já foram expostas em outras campanhas pela mesma direita, ao tempo que faz compromissos com o mais eloquente do poder econômico para transmitir a ideia de que tudo continuará igual.
Twitter/Gustavo Petro
Por isso, esta campanha do Pacto Histórico é totalmente diferente. Não é apenas uma campanha contra o chamado “uribismo”, termo com o qual é comum se referir ao legado de um homem sinistro como o ex-presidente Uribe, que com sua política de “segurança democrática” sumiu ao país em um dos períodos mais cruéis e violentos contra o povo. A campanha é contra a continuidade de um sistema político em franca decomposição e decadência, no sentido institucional, no qual se perderam os fios dos freios e contrapesos para o controle arbitrário do poder; inepto tanto no sentido econômico porque sem fórmulas para o desenvolvimento com distribuição da riqueza como também no sentido social, porque sem alternativas para a crise que se revela na insegurança alimentar; contra um governo criminoso e sem política de paz, porque não permite avançar a um cenário de tolerância e respeito pela vida senão que expressa sua ação na violência e nas chacinas como a mais recente na região do Putumayo, no sul-ocidente do país, sobre a qual pediu explicações a própria ONU; contra uma direita que em termos de política externa, que em lugar de trabalhar pela cooperação e de cara à América Latina, sumiu numa relação escandalosa e submissa aos interesses da OTAN na região e se comprometeu com a atitude hostil e ameaçadora contra Venezuela e outros povos do continente.
O que fica claro é que há mais de uma razão para torcer para uma vitória do Pacto Histórico na Colômbia.
No centro do debate está a necessidade urgente de implementar o Acordo de Paz de 2016, cujo caráter é de compromisso internacional. O início de uma gestão para a democracia e a dignidade das pessoas implica concretizar as propostas do Acordo, que sintetiza aspirações legítimas, viabilizadoras de uma realidade nos campos de reforma agrária, da substituição de cultivos considerados ilegais com respeito ao meio ambiente e à qualidade de vida.
Um Acordo que, desde logo, avança em outros temas, dentre eles, um de extrema relevância no momento, que se trata das garantias para o exercício da oposição política, sem a ameaça á vida e ás liberdades públicas, de forma a gerar um ambiente propicio para o exercício da cidadania nesta campanha e na jornada do 29 de maio.
O ano passado, por esta mesma época, a Colômbia viveu um intenso período de resistência e luta popular, que demonstrou um novo grau de subjetividade e organização no conjunto do movimento social. É essa resistência e essa vibração e força que deve se expressar nas urnas para um novo tempo no país. Há mais de uma razão para torcer, acompanhar, trabalhar e avançar, porque não é só a Colômbia. Uma vitória do Pacto Histórico é uma vitória dos democratas do mundo, contra os reflexos do dia a dia de um fascismo já condenado pela história.