O primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina se aproximam. Os argentinos irão às urnas em 22 de outubro em uma disputa acirrada, que tem o ultradireitista Javier Milei, pelo partido A Liberdade Avança. Pesquisas recentes apontam que Milei, o governista Sergio Massa e Patricia Bullrich, da direita argentina tradicional, podem chegar ao segundo turno.
Uma possível vitória de Milei preocupa alas progressistas do país e também da América Latina. Isso por que o presidenciável já minimizou a ditadura militar argentina, prometeu reduzir o Estado e investimentos públicos, além de demonizar a política.
Para Adriano Diogo, que foi presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, a “única” candidatura desta eleição argentina que poderia barrar uma vitória de Milei e “salvar a democracia” seria da atual vice-presidente Cristina Kirchner. O ex-deputado estadual e ex-vereador comenta que é ela quem “dialoga com as massas e movimentos sociais” do país.
“A reserva moral da Argentina são os agrupamentos de direitos humanos, que dão a linha e elegem presidentes. Cristina é perseguida e impedida de ser a candidata. Somente ela candidata que salvaria a democracia”, disse ele durante a edição de terça-feira (03/10) do programa Outubro.
Diogo criticou a postura do peronismo e a escolha do ministro Sergio Massa para concorrer à Presidência. Segundo ele, o candidato do governo “só não é um candidato clássico de direita porque é apoiado pelo peronismo“. O político disse estar acompanhando a eleição com a “eminência de um desastre anunciado”.
No Outubro, Diogo apontou que o peronismo errou ao escolher Massa, que, na sua interpretação, a “renovação da esquerda” teria que ser outro nome, como Juan Grabois, líder do partido Pátria Grande e da organização social Movimento dos Trabalhadores Excluídos (MTE), que concorreu com o ministro da Economia para ser candidato. A vaga, para ele, ainda poderia ter sido preenchida pelo chefe da pasta de Justiça e Direitos Humanos, Martín Soria, ou o ministro do Interior Eduardo Wado de Pedro, filho de desaparecidos da ditadura militar e figura ligada ao kirchnerismo.
Já a cientista política Ana Prestes recordou a liderança de Cristina no país, afirmando que, caso a vice-presidente saia às ruas, ela consegue “fazer mobilização e arrastar multidões”. “Ela é a única que consegue e que pode agarrar a mão de Massa para inflar a campanha. Ela tem muito poder”, disse.
Ana Prestes, que também estava na bancada do programa, concorda com Diogo quando é apontado que as pautas sociais, de movimentos e direitos humanos são os pontos primordiais da Argentina: “As pautas que podem salvar o peronismo é a dos direitos humanos e da democracia. Isso, nas últimas semanas, têm sido reforçado. Tivemos uma marcha das mulheres, por exemplo. E se algo pode salvar [a eleição de Massa] é essa agenda”, afirmou.
Ainda que em baixa, a cientista política aponta ainda que o peronismo tem um “lugar muito importante na sociedade argentina”, que isso tem um “peso forte”, já que, para ela, conforme a campanha avança e as pessoas vão tendo ciência de quem é o Milei, as “placas tectônicas podem ir se encaixando em alguns lugares comuns”.
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Para Adriano Diogo, atual vice da Argentina é ‘perseguida e impedida de ser a candidata’
Nesse ponto, a socióloga Rita Coitinho, que também participou da edição de terça, afirmou que o peronismo tem utilizado o discurso de Milei para “chamar atenção ao antinacionalismo”, já que o candidato da extrema direita “não tem compromisso com as instituições argentinas construídas nos últimos 40 anos”.
“O peronismo tem explorado [essas falas de Milei] e isso pode ter sido um dos fatores que tenha elevado o apoio ao Massa. Milei meteu os pés pelas mãos no debate quando falou da ditadura, que é uma ferida aberta da Argentina, claro que mais presente nas pessoas de com mais de 40 anos”, disse.
Brasil e China na eleição argentina
Uma das questões do Outubro foi as relações do país sul-americano com Brasil e China e como esses Estados estão sendo utilizados pela direita, mas também na campanha de Sergio Massa.
Coitinho analisou que as questões que envolvem as relações internacionais estão sendo “menos exploradas” nessa campanha do que em outras. Para a socióloga, o pleito esta mais debatido no que tange o dólar e o Banco Central.
“Tem se tratado mais de política internacional nessa relação com o dólar. O Massa chegou a falar [no debate] sugerindo que o Milei não só quer dolarizar como colocar uma bandeira estrangeira nas Malvinas, fazendo um certo apelo nacionalista com essa história argentina”, disse ela, apontando que o ultradireistista Milei “tem falado abertamente contra qualquer tipo de negociação com a China”.
Para Ana Prestes, a China é vista de uma “forma péssima”, afirmando que existe “racismo, preconceito e xenofobia” contra Pequim que é geral na América Latina, um cenário que não é diferente na Argentina.
Mas a cientista política acredita que a figura do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, é uma referência na Argentina, como é para uma parte latino-americana. “Não sei se para a população geral funciona isso, funciona mais para uma população engajada”, afirmou.