O julgamento para decidir sobre o último recurso do australiano Julian Assange contra sua extradição para os Estados Unidos começou nesta terça-feira (20/02) em Londres, sem a presença do fundador do WikiLeaks, que está doente, segundo seu advogado.
“Ele não está bem hoje, ele não vai comparecer”, declarou o advogado Edward Fitzgerald no início da audiência no Tribunal Superior de Justiça de Londres.
Após 13 anos de processos judiciais, dois magistrados examinarão durante dois dias a decisão da Justiça britânica que, em 6 de junho do ano passado, negou a Assange o direito de recorrer contra sua extradição aos Estados Unidos, onde o australiano é acusado de espionagem pelo vazamento em larga escala de documentos confidenciais do governo norte-americano.
Desde 2010, a Justiça norte-americana exige a extradição de Assange, que pode pegar até 175 anos de prisão de acordo com a Lei de Espionagem dos EUA, por vazar, através do WikiLeaks, documentos classificados como segredos de defesa.
“Temos dois longos dias pela frente. Não sei o que poderá acontecer, mas vocês estão aqui porque o mundo inteiro está nos observando”, disse a advogada e esposa do réu, Stella Assange, diante de simpatizantes que se reuniram em Londres para acompanhar a análise do recurso. “Eles devem saber que não podem escapar impunes disso. Julian precisa de liberdade e todos nós da verdade”, disse ela.
Na segunda-feira (19/02), em entrevista ao canal BBC, Stella Assange afirmou que se o ativista perder esta ação, “não haverá mais nenhuma possibilidade de apelação” no Reino Unido. Assange ainda teria, no entanto, um último recurso a ser julgado no Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH), afirmaram seus apoiadores em dezembro.
Stella Assange havia alertado na semana passada sobre a fragilidade do estado de saúde do jornalista. Ela se casou com Assange na prisão, há dois anos. O casal tem dois filhos pequenos, de cinco anos e seis anos e meio. “A saúde dele está piorando, física e mentalmente. A vida dele corre perigo a cada dia que permanece na prisão e, se for extraditado, ele vai morrer”, afirmou na quinta-feira (15/02) em uma entrevista coletiva na capital britânica.
Detido desde 2019
A extradição do australiano de 52 anos é solicitada pela Justiça dos Estados Unidos por publicar, desde 2010, mais de 700.000 documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas de Washington, em particular no Iraque e Afeganistão. Se a extradição for aprovada, Assange pode ser condenado a várias décadas de prisão nos Estados Unidos.
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Após 13 anos de processos judiciais, dois magistrados examinarão recurso contra a extradição aos Estados Unidos
Ele foi detido pela polícia britânica em 2019, após passar sete anos confinado na Embaixada do Equador em Londres, onde buscou refúgio para evitar a extradição por acusações de agressão sexual na Suécia. Advogados do jornalista dizem que ele foi espionado pela CIA durante sua permanência na sede da diplomacia equatoriana.
O australiano está há quatro anos na penitenciária de segurança máxima de Belmarsh, no leste de Londres. A campanha “Free Assange” o apresenta como um mártir da liberdade de imprensa.
O governo britânico aceitou em junho de 2022 sua extradição, mas Assange apresentou um recurso, o que adiou o cumprimento da decisão judicial. O pedido norte-americano foi aceito pelos juízes britânicos depois que o governo dos Estados Unidos informou que ele não seria enviado para a penitenciária de segurança máxima ADX, em Florence (Colorado), chamada de “Alcatraz das Montanhas Rochosas”.
“Julian será colocado em um buraco tão profundo que nunca mais o veremos”, alertou Stella Assange na quinta-feira.
No mesmo dia, o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, criticou a perseguição prolongada contra Assange. O Parlamento australiano aprovou na semana passada uma moção, apoiada pelo premiê, que pede o fim da perseguição contra Assange, para que ele possa retornar com sua família à Austrália.
Relatório da ONU
No início de fevereiro, a relatora especial da ONU sobre a tortura, a advogada australiana Alice Jill Edwards, pediu ao governo britânico a “suspensão da iminente extradição de Julian Assange“.
“Ele sofre há muito tempo de transtorno depressivo periódico e existe o risco de suicídio”, disse Edwards. “O risco de que ele seja mantido em regime de isolamento, apesar da sua saúde mental precária, e de que a sua sentença possa ser desproporcional levanta a questão de saber se a extradição seria compatível com as obrigações internacionais do Reino Unido em matéria de direitos humanos”.
Em um comunicado conjunto divulgado na semana passada, as federações internacional e europeia de jornalistas afirmaram que “os processos em curso contra Assange comprometem a liberdade de imprensa em todo o mundo”.