Atualizada às 19h38
“Não somos black blocks para influir no processo eleitoral venezuelano. Nós vamos buscar informações e vamos dar poucas declarações sobre o que conversarmos aqui. As declarações serão dadas na tribuna do Senado Federal”. Desta forma, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) contrapôs a visita da nova comitiva de parlamentares brasileiros a Caracas à realizada na semana passada, encabeçada pelos senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Aloysio Nunes (PSDB-SP).
Agência Efe
Senadores brasileiros assistiram vídeo apresentado pelas vítimas das guarimbas
Uma semana após senadores brasileiros, que pretendiam visitar presos políticos e conversar com a oposição ao governo do presidente Nicolás Maduro, terem retornado ao país sem conseguir deixar os arredores do aeroporto, a nova comitiva – integrada por Lindbergh Farias (PR-RJ), Telmário Mota (PDT-RR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), além de Requião – cumpriu uma ampla agenda com a oposição e situação. Os senadores, no entanto, se recusarama visitar os políticos opositores que se encontram detidos, que era um dos objetivos da comitiva anterior, liderada pelos tucanos.
“Nos convidaram para ir ao presídio, mas não é esse nosso objetivo. Não podemos chegar num país e nos dirigirmos para um presídio sem permissão. Nosso objetivo é ouvir e não fazer um espetáculo”, afirmou a senadora Vanessa Grazziotin.
A primeira agenda dos senadores que integram a comitiva foi o encontro com as vítimas dos protestos violentos ocorridos em 2014, às 8h (10h30 no horário de Brasília). O líder opositor Leopoldo López, que se encontra detido, é acusado de ter incentivado esses protestos que provocaram a morte de 43 pessoas.
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a porta-voz do movimento, Desiree Cabrera, criticou a visita dos senadores opositores. Ela lamentou que a “direita se sensibilize com apenas um dos lados da história”.
Já Yendry Velazquez, viúva do capitão da Guarda Nacional Ramzor Bracho, morto por supostos disparos de manifestantes opositores, lamentou a propagação do que chamou de “imagem não verdadeira do ocorrido”: “Meu marido recebeu um tiro pelas costas e morreu em decorrência da perda de sangue”, disse, emocionada. Ele morreu três meses depois de se casarem.
Os senadores se encontraram com membros do partido Vontade Popular e com as esposas de Leopoldo López e Antonio Ledezma, Lilian Tintori e Mitzy Capriles, respectivamente. Na reunião, a organização ressaltou que o encontro teve como propósito conversar sobre a situação dos políticos que se encontram presos, a crise social e os supostos ataques a deputados e prefeitos. “Nossa vontade absoluta é que todos os casos de homicídio e violações de direitos humanos sejam investigados e haja justiça”, afirmou o dirigente Freddy Guevara.
A comitiva também se reuniu com a MUD (Mesa da Unidade Democrática), cujo principal expoente é o ex-candidato à presidência Henrique Capriles. No encontro, o secretário-geral da organização, Jesús Torrealba afirmou que o país “atravessa uma situação grave que se reflete no mal-estar da sociedade e por esse motivo é preciso oferecer alternativas à população” e pediu uma observação séria durante as eleições “que não venham fazer turismo”, afirmou.
A agenda conta ainda com um encontro com a Defensoria e o Ministério Público, com o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, e com a ministra de Relações Exteriores, Delcy Rodríguez. As conversas estão sendo realizadas dentro do Congresso venezuelano, para que se evite qualquer reclamação por possível ingerência em assuntos internos do país.
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Agência Efe
Senadores devem retornar ao Brasil ainda nesta quinta
Os senadores acordaram com o presidente da CRE (Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional), Aloysio Nunes, a criação de uma comissão para acompanhar todo o processo eleitoral venezuelano, que será realizado em 6 de dezembro. A definição da data para as eleições parlamentares era uma das principais reivindicações da oposição e motivou a greve de fome à que López se submeteu.
Lindbergh ressaltou, durante a entrevista coletiva concedida ao chegar a Caracas, que “a pior coisa que pode acontecer para a Venezuela, o Brasil e toda a América Latina é o país entrar em uma guerra civil”, o que segundo ele esteve a ponto de ocorrer durante os protestos ocorridos no início de 2014. “Nós queremos legalidade democrática, eleições livres. Estamos aqui para conversar com todos”, ressaltou.
O senador petista também criticou o fato de o Senado não ter criado uma comissão unitária para decidir “onde ir, com quem conversar”. “Uma coisa é uma visita partidária, onde se vai manifestar preferência política”, disse, em referência à comitiva anterior. “Existem regras de diplomacia parlamentar (…). Queremos fazer um trabalho muito sério e na volta vamos apresentar os resultados ao Senado”, destacou.
“A primeira comitiva veio com um objetivo claro, de reforçar a oposição, e nós estamos aqui para ouvir todos os lados”, afirmou Vanessa Grazziotin. Ela disse, ainda, que o Senado brasileiro não tem o direito de se intrometer nos problemas internos políticos da Venezuela e que a comissão fala em nome do Parlamento brasileiro, não de uma legenda específica.
Para Motta, os senadores tucanos não tiveram os objetivos alcançados “porque voltaram do aeroporto, sem resposta para o Parlamento. A Venezuela sempre foi um país democrático e é nossa parceira no Mercosul, por isso é importante ouvir o que acontece aqui”.