“O povo brasileiro é de muita luta. E é sábio. Sabe o momento em que pode ganhar na luta política ou o momento em que sua luta principal é pela sobrevivência”, declarou Igor Felippe Santos, jornalista, militante do Movimento Brasil Popular e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em entrevista a Breno Altman no programa SUB40 desta quinta-feira (09/06).
Coordenador dos Comitês Populares de Luta pela eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, o militante de 39 anos avalia que a luta do povo brasileiro passou por um refluxo por conta do golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff, da pandemia, do bolsonarismo, do desemprego e da fome.
Para ele, uma das explicações possíveis para este cenário de refluxo seria por conta de um consciência do povo de que, em eventuais derrotas, a classe trabalhadora é quem mais sai prejudicada deste processo.
Ainda assim, na batalha para reverter a desmobilização, o Movimento Brasil Popular realiza o trabalho de base junto ao Partido dos Trabalhadores (PT) e à Central Única dos Trabalhadores (CUT), congregando diversos movimentos sociais, como o MST, o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e o Levante Popular da Juventude. Um dos desafios centrais é superar as dificuldades das campanhas Fora Bolsonaro em contagiar as massas nos últimos anos.
Santos cita, como fator de desarticulação, as mudanças profundas no mundo do trabalho e nas relações trabalhistas, em que 35 milhões de brasileiros vivem na informalidade. “Numa relação não regulamentada é muito mais difícil se organizar. Como o trabalhador informal vai lutar no território e pressionar o Estado?”, pergunta.
Em contraponto, observa, os comitês de base que têm conseguido avançar mais em termos de organização e mobilização são aqueles que tratam com prioridade de temas mais próximos dos problemas concretos da população, como o desemprego e a fome.
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Igor Felippe é jornalista e militante do MST, além de coordenar os Comitês Populares de Luta
Das lições aprendidas pela experiência dos governos petistas, que passou por uma fase de institucionalização e afastamento das bases, torna-se primordial a reaproximação em níveis que transcendam as campanhas e os objetivos eleitorais: “Precisamos aproveitar o clima de campanha para desenhar uma nova estrutura política organizativa que possa, no próximo período, ou servir de base para aplicar um programa de mudança no caso de eleição de Lula, ou ter um acúmulo para fazer a resistência num eventual segundo governo Bolsonaro”.
A tarefa, portanto, é muito maior e mais complexa do que simplesmente levar Lula à presidência, avalia Igor. “A partir do processo de enraizamento dos comitês populares, queremos sair da campanha com melhores condições para enfrentar as lutas que virão no próximo período”.
Durante a entrevista, os jornalistas discutiram também a transformação brutal dos modos de fazer campanha em anos recentes e a defasagem da esquerda no domínio das redes sociais e da comunicação via aplicativos como WhatsApp e Telegram, dominados com maior eficiência pelo bolsonarismo.
Na avaliação de Igor, a esquerda chegou tarde ao mundo das novas tecnologias, aprisionada por paradigmas antigos de comunicação, que de certa forma ainda se mantêm no presente.
“Em 2018 houve um choque: como é que Bolsonaro se elege presidente com oito segundos na televisão? A partir de lá conseguimos avançar um pouco, mas estamos aquém da necessidade que o momento histórico nos coloca”, reconhece.
Altman mencionou o descompasso entre a comunicação da direita, mais minimalista, telegráfica e com pouco a dizer, e da esquerda, tradicionalmente discursiva, e Santos observou que em termos numéricos Lula ainda não derrota Bolsonaro em nenhuma rede social. O desafio para o campo progressista, em 2022, passará por esse confronto inevitável e pela urgência em reconstruir uma comunicação direta e eficaz com os setores populares.