No programa SUB40 desta quinta-feira (08/09), a economista Lígia Toneto, secretária estadual da Juventude Petista do estado de São Paulo, avaliou que a demonização generalizada da política desde o golpe de 2016 teve efeito conscientizador sobre os jovens brasileiros. Para ela, isso se reflete, por exemplo, no recorde histórico de mais de 2 milhões de eleitores entre 16 e 18 anos que tiraram título para votar pela primeira vez e na grande quantidade de candidatos jovens para os cargos de deputados estaduais e federais desde 2020.
Um fator importante nesse processo diz respeito à conscientização dos jovens sobre as perspectivas perdidas nos últimos anos. “Quem estava no ensino médio está vendo que os irmãos mais velhos estavam podendo ser os primeiros da família a entrar na faculdade. E são esses que estão tendo que abandonar o ensino médio para trabalhar e ajudar em casa”, exemplificou a economista em entrevista ao jornalista Haroldo Ceravolo Sereza, diretor de redação de Opera Mundi.
“Quem entrou na universidade não tem emprego na área em que se formou. São pessoas que viram muitas oportunidades e tiveram um descontentamento muito grande, o que gera uma retomada de vontade de participação política.”
Desde as movimentações que levaram ao golpe, disseminou-se na sociedade o senso comum de que o Estado é essencialmente corrupto, ineficaz na economia, ruim para o desenvolvimento e para o planejamento. Formada pela Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, Toneto aponta o rebote da avalanche antissistema.
“O fato de Lula estar agora na frente nas pesquisas, depois de passar 581 dias preso, criou um espaço para contestar que talvez essa narrativa de demonização do Estado e da política não fosse toda a verdade. As pessoas estão indo votar nessas eleições achando que a escolha delas pode fazer diferença”.
A dirigente julga que o PT tem avançado na abertura para a participação da juventude, inclusive pela instauração de 20% de cotas para jovens em todas as instâncias de direção partidária. “Passei a fazer parte da direção estadual numa dessas cotas para jovens, o que me permitiu ter muito acesso a espaços de decisão, a participar da organização de tarefas importantes, a escrever resoluções partidárias”, conta.
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Lígia Toneto é economista e secretária estadual da Juventude Petista do estado de São Paulo
Os 53 vereadores com menos de 30 anos eleitos nacionalmente pelo PT alavancam as candidaturas para deputados estaduais e federais em 2022. “Conseguimos ter muitas lideranças jovens que se formaram, foram eleitos ou estão se candidatando agora no país todo, com grande potencial eleitoral”, diz.
Para ela, ainda há avanços a serem conquistados na transição geracional: “Isso tudo não é fruto só de benevolência, mas de organização da juventude do PT, de conseguir empurrar portas e forçar barreiras. Fazemos um balanço crítico, por exemplo, do que aconteceu em 2020 aqui na cidade de São Paulo. Não tivemos nenhuma renovação na nossa bancada”.
Toneto participou da equipe de formulação do programa da candidatura de Fernando Haddad ao governo estadual e integra a rede de jovens economistas progressistas Desajuste, que tenta abrir espaços numa ciência tradicionalmente protagonizada por forças conservadoras.
Citando um estudo que constata a tendência maior de alunos de economia em faculdades tradicionais a se alinhar ao liberalismo no processo de formação, ela descreve o campo de disputa da FEA: “Por mais plural que seja o corpo docente, com grandes expoentes formuladores de esquerda, a estrutura do curso é muito mais na perspectiva ortodoxa do mainstream”.
Questionada por Sereza sobre o fato de parte dos economistas uspianos seguir apoiando as políticas do ministro Paulo Guedes, a entrevistada criticou o atraso do debate econômico no Brasil. “Tem muita gente muito presa em dogmas que não fazem sentido em nenhum lugar do mundo, muito menos num país periférico. Num debate econômico, a primeira coisa que perguntam é sobre o teto de gastos, quando todo mundo sabe que ele nunca existiu, que há muito tempo já não é respeitado”.
Integrante do núcleo de economistas da Fundação Perseu Abramo, do PT, Lígia Toneto deposita esperanças de guinada no retorno do ex-presidente petista ao poder. “A desigualdade cresceu muito no mundo, inclusive nos países do centro. Se tem um líder global capaz de conduzir esse processo é Lula. A gente ouve economistas do mundo todo falarem isso na Fundação Perseu Abramo, há uma expectativa muito grande do que pode ser o próximo governo”, finaliza.