No programa SUB40 desta quinta-feira (12/05), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou o poeta e músico Lucas Afonso sobre slam e oralidade no Brasil.
Apresentador do Slam Da Ponta, realizado mensalmente em Itaquera, Zona Leste de São Paulo, Afonso explicou que se trata de um encontro que é quase um esporte, uma batalha de poesia, que abarca todas as linguagens poéticas. Os participantes têm suas vozes e seus corpos como ferramentas para dar vida às suas poesias. No final da noite, alguém é escolhido como vencedor.
Cada vez mais popular, o slam, um movimento tradicionalmente periférico, está se inserindo nas escolas, com efeitos, segundo ele, positivos.
“Mexe muito com a vida dos jovens. Primeiro porque retoma a importância do fazer coletivo, nem que seja de montar uma roda de poesia na praça — algo que é importante para a vida. Depois porque tem uma coisa do nível da autoestima. Você protagoniza um momento com a sua palavra, sua voz, e todos escutam e aplaudem. Para além de que cada lugar revela uma importância diferente, que surge pelo estímulo à oralidade, à intimidade com a voz”, contou o poeta.
Para além disso, o slam tem um fator politizante de grande relevância já que os poemas sempre são atuais, tratando de questões políticas e sociais que atravessam a vida dos poetas, muitas vezes.
“E com a popularização, acho que o slam continua tão politizado ou mais. Pode ser que para ocupar alguns espaços a gente tire um pouco o pé do acelerador, mas, como não dá para controlar o que o poeta vai falar, não dá para saber o que vem. E o que a gente tem visto é que quanto mais o slam vai se ampliando, mais intensas as discussões. Vai transformando a própria cena do slam”, ponderou.
As próprias poesias de Afonso, que é autor do livro de poemas A última folha do caderno, são de alto teor político. Em 2015, ele ganhou o campeonato brasileiro de slam, o Slam Brasil, com uma obra sobre o rompimento da barragem de Mariana. Como resultado, ele foi convidado para participar do torneio mundial, em Paris, onde foi semifinalista.
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“Lá se perde um pouco da poesia, porque, para facilitar, tem um telão com o poema no idioma do poeta, em inglês e em francês para facilitar. Então é diferente se você está me vendo performar ou lendo o poema num telão, mas foi muito especial mesmo assim. Eu fui semifinalista, passei da fase de grupos e foi uma surpresa. Sempre ganhavam poetas franceses ou que falassem inglês, eu fui sozinho e sem falar francês, fiquei bem feliz de levar a minha obra, a minha palavra”, relembrou.
‘Vou votar em Lula no primeiro turno’
Filho de uma funcionária da saúde e de um metalúrgico, Afonso revelou que cresceu em uma família petista. Seus pais estão filiados ao Partido dos Trabalhadores desde sua fundação e o estimularam a ser crítico, ler e o apresentaram ao universo do samba, “meu primeiro contato com a poesia foi através do samba”.
É por isso que o poeta foi taxativo: “vou votar em Lula no primeiro turno e no segundo. Acho que estamos vivendo um momento que é um divisor de águas no Brasil, estamos escolhendo entre a viver ou não em uma democracia”.
Afonso, entretanto, não se mostrou otimista. Segundo ele, Jair Bolsonaro não lhe inspira confiança, “não consigo imaginá-lo passando a faixa”. Para ele, o presidente, se perder, “vai perder atirando”.
Além disso, uma vitória de Lula e sua chegada ao Palácio do Planalto também não significaria o fim da batalha: “a partir do dia 1 de janeiro [de 2023] estarei como qualquer cidadão periférico defendendo o que é nosso. Vou fazer campanha hoje, mas na hora que tiver que encher o saco, vou encher o saco também”.