O jornalista Breno Altman entrevistou a documentarista Paula Sacchetta, de 34 anos, no SUB40 desta quinta-feira (19/05), sobre as dificuldades de circulação do gênero cinematográfico no Brasil e do papel das plataformas de streaming em sua difusão.
A entrevistada explicou que para impulsionar um documentário as “plateias” são fatores importantes, mas que esse impulsionamento também depende do tipo de documentário produzido. Já que, afirma Sacchetta, “empresas privadas vão comprar os filmes que quiserem e vão pautar o mercado”.
Neta do líder trotskista Hermínio Sacchetta e filha do jornalista e pesquisador Vladimir Sacchetta, a cinegrafista contou sobre sua ligação com o jornalismo, inclusive tendo participado da cobertura da Primavera Árabe em Cairo, no Egito, e sobre a transição para documentarista, em trabalhos politicamente engajados.
Sacchetta dirigiu os documentários Verdade 12.528 (2013), sobre a Comissão Nacional da Verdade, Precisamos Falar de Assédio (2016) e do webdocumentário Saul Klein e o Império do Abuso (2022), obra sobre as denúncias de abuso sexual contra o empresário e membro da família fundadora das Casas Bahia.
Em Saul Klein e o Império do Abuso, mulheres vítimas do empresário dão depoimentos sobre as violências sofridas pelos donos da rede de varejo de móveis e eletrodomésticos brasileira.
Saul Klein é filho de Samuel Klein, fundador das Casas Bahia, e “montou o esquema e viveu dando festas e estuprando mulheres em escala industrial durante 30 anos. É muito perverso, como um filho herda isso do pai?”, questiona a cineasta.
“Há relatos de funcionários que lembram a presença de crianças. Saul estuprava meninas a partir de 15 anos, e Samuel estuprava crianças a partir de 9 anos”, acrescenta.
Facebook/Paula Sacchetta
Documentarista debate a forma como as plataformas de streaming dão preferência às obras de diretores homens brancos da burguesia
Durante o programa, Sacchetta descreve o impacto do documentário Verdade 12.520, impulsionado pelo aniversário de 50 anos do golpe civil-militar de 1964. A obra registrou os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, dedicada a investigar as violações de direitos humanos ocorridas no período da ditadura, incluindo entrevistas com sobreviventes da Guerrilha do Araguaia.
Os números no título referem-se ao número da lei que criou a comissão, em 18 de novembro de 2011.
Sua pesquisa e trabalho sobre o tema da ditadura militar a aproximou do ambiente carcerário, de onde produz o minidocumentário Quanto Mais Presos, Maior o Lucro (2014), pela Agência Pública, a série de TV Eu Preso, sobre mães, LGBTQIA+ e menores encarcerados, e um curta-metragem sobre o coronavírus nos presídios.
Atualmente morando na França, Sachetta conta que trabalha em um docudrama ambientado na Itália e em um podcast com a Rádio Novelo, dois projetos que ainda não foram publicamente divulgados.