No programa SUB40 desta quinta-feira (28/04), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou o jornalista, fundador e editor-chefe da Revista Opera, Pedro Marín, que abordou a questão da tutela militar no Brasil.
Segundo ele, este seria o grande problema nacional e principal fator de instabilidade política no país atualmente: “as pessoas estão muito preocupadas em discutir se Bolsonaro é ou não fascista e deixaram de falar do óbvio, que é o problema militar. Aliás, caracterizaria seu governo como um governo militar ou de tutelagem militar”.
De acordo com Marín, a grande imprensa contribuiu para que se deixe de abordar a questão, já que não a trata como um problema, “toca o tema como se a fonte de instabilidade e crise que envolve os militares fosse Bolsonaro que os submete ou os organiza”.
“Na minha concepção, no mínimo os militares são mais decisivos, mas, mesmo que a gente não queira reconhecer isso, precisamos entender que instabilidade política e tutela militar são uma coisa só. Sinto que a imprensa não quer tratar desse problema para manter boas relações com os militares, mas essa sempre será uma relação desigual”, reforçou.
O jornalista discorreu sobre como superar essa questão. Ele é coautor do livro Carta no Coturno – a volta do partido fardado no Brasil, de caráter de denúncia, e contou que agora está trabalhando numa obra mais propositiva, assim como pretende oferecer um curso que seja “mais programático”.
“Acho que é uma questão de equilíbrio de poder. Se relaciona com a questão de classe, mas o que quero dizer é que os militares só não participaram da política em momentos em que o poder armados estaca submetido ou em disputa. Na Venezuela, por exemplo, essa questão está resolvida, porque se em algum momento os militares quiseram dar um golpe, o povo sabe onde estão as armas e como usá-la”, explicou.
Ainda que a via revolucionária seja, segundo ele, a ideal para resolver o problema de uma vez, Marín refletiu sobre medidas mais imediatas, reformistas, para aliviar o problema. Ele citou como exemplo a importância de se abolir a justiça militar especial e de se construir uma organização do poder armado descentralizada, em que o Exército não tenha tanto poder.
Revista Opera
Junto com um colega, Marín contou que fundou a Revista Opera aos 16 anos. Sabendo que não poderiam competir com a grande mídia a nível informativo, o projeto surgiu da vontade de interpretar a política internacional, vista a partir de um eixo contra-hegemônico, e analisar seus desdobramentos no Brasil.
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Pedro Marín foi o entrevistado desta quinta-feira (28/04) do SUB40
“A gente não quer só oferecer outra narrativa, queremos construir nesse espaço certos tipos de discussões, concepções e avançar também nas organizações políticas que estão efetivamente comprometidas com posições similares à nossa. Além disso, tem um aspecto de combater o jornalismo hegemônico, então é uma posição num campo de batalha. Não só de luta, mas de dar guarida”, contou.
Marín disse que Opera Mundi foi uma inspiração para a Revista Opera – os dois sites não têm relação – mas disse que colocar o mesmo nome foi um “erro terrível”. “Caio [Sousa, cofundador] e eu achamos, primeiro, um nome que era excelente. Fomos pesquisar na internet e tinha um blog de um coletivo de uma tendência petista lá no Ceará que tinha esse nome. Dissemos: 'então não pode, né?' Nos reunimos de novo, naquela fúria de fazer a coisa acontecer. Caio, então, falou: 'o que você acha de Opera? Por causa do movimento operário, vem do italiano “movimento”, do trabalho…'. Achei ótimo. Naquele dia mesmo fizemos a Revista Opera“, contou.
Para ele, a forma dos textos da revista também contribui para essa postura. Aproximando-se do que ficou conhecido como “new journalism”, os textos do veículo são mais longos, opinativos e analíticos, “para ligar os pontos para quem não tem tempo de fazê-lo”.
Já a linha editorial da Revista Opera é definida por um conselho editorial do qual não formam parte pessoas que militam de forma organizada em nenhum partido, já que, por ser um veículo pequeno, “queremos manter boas relações com todos”. Mas é determinado que o jornalismo praticado pela revista deve ter uma inspiração moral comunista, utilizando-se das ferramentas marxistas para “pensar a realidade nacional levando em consideração uma leitura geopolítica do que está ocorrendo no mundo”.
Sobre o perfil dos leitores do site, Marín revelou que são, na maioria, homens jovens localizados no Sul, Sudeste do país de classe média baixa, “mas queremos atingir novos públicos”. Sobre seu financiamento, atualmente o projeto se financia com campanhas de financiamento contínuo e apoio em trabalho voluntário, por exemplo de tradutores voluntários.