Na primeira edição de 2022 do programa SUB40, nesta quinta-feira (10/03), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou Preta Ferreira, multiartista, ativista do Movimento Sem Teto e ex-âncora do Boletim Lula Livre.
Ela destacou as dificuldades de ser uma mulher negra no Brasil, que já eram muitas, “e agora com Bolsonaro eu não tenho domínio sobre o meu corpo. Eu sou um alvo ainda mais fácil do que já era”.
Segundo Ferreira, o racismo de Bolsonaro é planejado, “assim como todo o resto de seu desgoverno”, e fruto de seus financiadores: “ele é racista, machista, fascista, porque seus financiadores o são”.
“Ainda vivemos uma ditadura, aliás. Um governo que prende militantes, pessoas inocentes. Fiquei presa 108 dias, meu irmão 109, minha mãe e cunhada ficaram foragidas. Perseguiram minha família”, relembrou Ferreira, que ainda aguarda julgamento por uma série de acusações feitas contra ela quando era âncora do Boletim Lula Livre. A multiartista relatou a experiência em detalhe no livro Minha carne, diário de uma prisão (Editora Boitempo).
Mesmo assim, essa expressão social do racismo não a surpreendeu, como confessou, “porque todos os brancos são racistas, ser racista é usufruir dos benefícios do racismo só por ser branco e não devolver nada aos pretos”.
Ela enfatizou que o racismo é um problema que supera Bolsonaro, está intrínseco ao capitalismo: “A branquitude é a dona do capitalismo, é quem detém o poder financeiro, as oportunidades… enquanto houver capitalismo, haverá racismo. Então os brancos precisam se aprofundar de verdade nesse tema porque ainda reproduzem um discurso muito raso, seja de esquerda ou direita. O racismo existe em todos os lados, então precisamos olhar bem para nossos atos”.
Antirracismo
Dito isso, ela celebrou as conquistas do movimento negro e o fortalecimento da luta antirracista que, por exemplo, acarretou em importantes políticas públicas durante os governos petistas voltadas à inclusão da população negra.
Facebook/Preta Ferreira
A multiartista e ativista Preta Ferreira foi a entrevistada da primeira edição de 2022 do SUB40
“Lula e Dilma lutaram muito, criaram as cotas, por exemplo. Fez uma diferença absurda, tínhamos no governo pessoas como Leci Brandão, Orlando Silva, a gente tinha abertura para as nossas pautas. Hoje nem constrangimento há mais em dizer-se racista”, ponderou.
Para além de políticas específicas, Ferreira ressaltou a importância do combate à fome, à sede, ao desemprego, o fortalecimento da educação e a criação de programas como o Bolsa Família, que beneficiou em grande medida a população negra.
“Foi um governo que mais do que matar a fome e a sede, deu garantias, deu possibilidades. O filho da empregada virou doutor. Foram governos que entenderam o que era política pública e fizeram sua obrigação”, complementou.
Por isso, ela declarou seu voto em Lula nas eleições que se aproximam e defendeu que os movimentos negros se unam para abraçar sua candidatura: “se a gente não se alinhar com ele, com quem vamos nos alinhar? Com quem nunca fez nada por nós?”.
Por outro lado, ela lamentou a possibilidade de que Geraldo Alckmin forme parte da chapa do ex-presidente. Disse entender como funciona o jogo político, “mas a gente não pode esquecer quem é Geraldo Alckmin”.
Assim, para evitar contradições num eventual governo de esquerda, Ferreira sublinhou a importância de o PT se aproximar da base, ouvir a base, e de o movimento negro cobrar posições e reivindicar suas pautas já desde as eleições.
“Mais do que cobrar posições, a gente tem que saber que essa é uma condição que já vai ter que estar posta na candidatura de Lula, porque ele não vai governar sozinho e a maioria da população é negra”, reiterou.