O arte-educador, grafiteiro e escritor Rodrigo Smul defendeu no programa SUB40 desta quinta-feira (18/08), com o diretor de redação de Opera Mundi, Haroldo Ceravolo Sereza, a arte como forma de resistência política.
“A arte não tem barreiras nem limites, mas teve um retrocesso muito grande nos quatro anos de [Jair] Bolsonaro. Esse governo reprimiu os artistas, o que era difícil se tornou ainda mais difícil”, ressalva.
Nascido em Santo André, no ABC paulista, ele trabalha desde 2010 ministrando oficinas de grafite aos jovens da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa), do governo estadual de São Paulo, e afirmou que o grafite, particularmente, é uma ferramenta de transformação social
O sistema, ele conta, não costuma enxergar a cultura como primordial para a ressocialização dos adolescentes e meninos: “a Fundação Casa foi feita para dar errado. Não tem um modelo de gestão para ressocializar o jovem”.
Smul enfrenta dificuldades e preconceitos no trabalho dentro da instituição, por parte de agentes de segurança, pedagogos e gestores mais opressores. A sociedade também tende a encarar com preconceito os jovens que se encontram na instituição.
Muitos dos internos jamais tiveram contato com uma escola, mas são, segundo o educador, os menos resistentes a seu projeto artístico-pedagógico. “Tem jovens que são alfabetizados dentro das próprias unidades. Os meninos detidos para cumprir medida socioeducativa estão envolvidos no crime por necessidade. Não têm realmente o que comer e, em consequência disso, são analfabetos”, explica.
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“A arte não tem barreiras nem limites, mas teve um retrocesso muito grande nos quatro anos de [Jair] Bolsonaro", afirma Smul
Smul começou como pichador e desenhista e se tornou grafiteiro ao entrar em contato com o movimento hip-hop e ingressar na faculdade de artes plásticas. A escolha pela profissão de arte-educador se deu no contato permanente com as comunidades de periferia no ABC e na Grande São Paulo.
Primeiro livro
Filiado ao Partido dos Trabalhadores e ex-candidato a vereador de Santo André em 2020, o artista está atualmente com livro em pré-venda, o primeiro de Smul, Pombo Branco e as Crônicas da Casinha, tem o objetivo de “furar a bolha” da intelectualidade consumidora do gênero.
“Com todo respeito às livrarias e academias, quero o livro nas escolas, nas praças públicas, nas ocupações de moradia, nas bibliotecas comunitárias”, define. A obra surgiu de uma espécie de diário de bordo das oficinas e relata a vivência do autor dentro da Fundação Casa.
O arte-educador revisa histórias como a de sua participação numa rebelião de jovens, que eclodiu durante uma aula noturna. Enquanto os funcionários foram tomados como reféns e amarrados, o “senhor Smul” (como os meninos o tratam) foi incumbido de zelar por um aparelho de televisão, para que não fosse danificado à entrada da tropa de choque na unidade. “Consegui ajudar alguns de certa forma, e não esqueço jamais a consideração que tiveram por mim. Você é visto como um dos meninos pelos funcionários, que não entendem a importância das aulas. O sistema é mais complicado que propriamente a população de meninos”, conclui.