Com muito pouco você
apoia a mídia independente
Opera Mundi
Opera Mundi APOIE
  • Política e Economia
  • Diplomacia
  • Análise
  • Opinião
  • Coronavírus
  • Vídeos
  • Podcasts
20 Minutos

Leonardo Sakamoto: trabalho escravo contemporâneo está mais nas empresas que nos governos

Encaminhar Enviar por e-mail

Para jornalista, reformas trabalhistas que reduzem direitos dificultam combate às formas violentas de superexploração; veja vídeo na íntegra

Pedro Alexandre Sanches

São Paulo (Brasil)
2022-06-15T20:30:00.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

O programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (15/06), discutiu com o jornalista e professor Leonardo Sakamoto o combate ao trabalho escravo no Brasil e no mundo. 

Ele afirmou que os principais escravizadores do mundo contemporâneo são as empresas, e não os governos, e que as reformas trabalhistas implementadas pós-impeachment de Dilma Rousseff vêm erodindo continuadamente a proteção da população brasileira contra as formas mais degradantes de trabalho.

Em sua avaliação, o trabalho escravo, mesmo sem ser essencial para o capitalismo, está presente em praticamente todas as cadeias produtivas globais importantes. 

“Olha que contraditório, por mais que o trabalho escravo não seja essencial para o desenvolvimento do capitalismo, ele é usado para o desenvolvimento do capitalismo para obter lucro fácil, cortar custos, aumentar competitividade, fazer concorrência desleal”, disse o diretor da organização Repórter Brasil, um importante centro de informações sobre combate ao trabalho escravo no país.

Como exemplos, Sakamoto citou as cadeias de carne, carvão vegetal utilizado pela indústria automobilística, minerais importantes para a indústria eletrônica, cacau para fabricação de chocolate, soja, algodão em diversas etapas da produção de vestuário, e assim por diante. O Brasil registra trabalho escravo em todas essas cadeias, que exportam produtos para o planeta todo. “A exploração pode acontecer a 50 quilômetros ou a 5 mil. Mesmo lugares extremamente desenvolvidos estão explorando alguém direta ou indiretamente”, diz.

Segundo Sakamoto, o trabalho escravo contemporâneo não é necessariamente resquício arcaico de exploração, mas um instrumento utilizado de forma sistemática pelo capitalismo para facilitar competitividade, acesso ao lucro, instalação de novos empreendimentos agropecuários etc. 

“O trabalho escravo atual é diferente daquele que havia até 1888, quando o Estado brasileiro reconhecia a possibilidade de uma pessoa ser dona de outra ou uma empresa ser dona de uma pessoa”, explica, declarando que seguiu "formas análogas de escravidão, que sujeitam e coisificam o ser humano, transformando-o em instrumento descartável de trabalho.” 

O jornalista avaliou o impacto das reformas trabalhistas implementadas a partir do governo Michel Temer na escravização contemporânea brasileira: “quando se vai erodindo a legislação trabalhista ao longo do tempo, acabam se tornando permissíveis condições degradantes que não são permissíveis”. 

Flickr
Jornalista e professor Leonardo Sakamoto é o convidado de Breno Altman no '20 MINUTOS ENTREVISTA' desta quarta-feira (15/06)

Ele lembrou que o governo Lula criou a lista suja do trabalho escravo, interrompida por Temer, retomada a partir de 2017 e mantida até o presente, mesmo sob gestão de Jair Bolsonaro. Para o especialista, o atual presidente não teve coragem de mexer diretamente nesse “vespeiro”: 

“A narrativa do desmatamento é mais palatável, ele vai falar ‘vocês querem desmatar ou comer?’, mas não ousa tentar defender trabalho escravo. Nem a bancada ruralista ousa defender publicamente, porque toma saraivada nas urnas”, pontuou o jornalista.

Escravização presente na sociedade

Entre outras formas de escravização ainda presentes na sociedade contemporânea, Sakamoto e o diretor de redação de Opera Mundi, Haroldo Ceravolo Sereza, discutiram o tráfico de pessoas, o trabalho obrigatório nas prisões e o trabalho doméstico. 

“O trabalhador de classe média, para dedicar mais tempo e gerar mais-valia para a empresa, precisa ter uma trabalhadora empregada doméstica na retaguarda, e há escravização de trabalhadoras domésticas nesse processo, inclusive na Europa e nos Estados Unidos”, alertou Sakamoto, lembrando a demora do Brasil em garantir os mesmos direitos às trabalhadoras empregadas domésticas e aos outros trabalhadores. 

“Muita gente, permeando direita e esquerda, usou discursos do tipo 'as domésticas vão morrer de fome’. É com isso que você está preocupado de verdade?”, ironiza.

A nova modalidade de superexploração gerada pelos aplicativos de entrega e transporte impõe, na opinião do jornalista, uma análise caso a caso para determinar se novas condições análogas à escravidão vêm sendo inventadas sob a capa do “empreendedorismo”. “A gente tem facilidade de chamar trabalho muito ruim de escravo, mas é preciso ter cuidado, porque se muita coisa é trabalho escravo, na verdade nada é, e fica difícil combater. Mas é uma forma indigna de exploração que também precisa ter regulamentação e garantia de direitos", disse.

Para Sakamoto, as estratégias de boicote às empresas que figuram na lista suja do trabalho escravo são eficazes em alguns casos, mas deveriam ser cobradas menos dos consumidores finais que das empresas intermediárias na cadeia produtiva.  

"O boicote mais poderoso é o do varejista, do banco. Os 33 milhões de brasileiros passando fome não têm condição de fazer boicote”, defende. 

Você que chegou até aqui e que acredita em uma mídia autônoma e comprometida com a verdade: precisamos da sua contribuição. A informação deve ser livre e acessível para todos, mas produzi-la com qualidade tem um custo, que é bancado essencialmente por nossos assinantes solidários. Escolha a melhor forma de você contribuir com nosso projeto jornalístico, que olha ao mundo a partir da América Latina e do Brasil.

Contra as fake news, o jornalismo de qualidade é a melhor vacina!

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
20 Minutos

Manuela d’Ávila: esquerda precisa se reconectar com a vida cotidiana do povo urgentemente

Encaminhar Enviar por e-mail

Para ex-deputada, setores progressistas negligenciam solidariedade no combate à fome e deixam espaço aberto para extrema direita; veja vídeo na íntegra

Pedro Alexandre Sanches

São Paulo (Brasil)
2022-07-06T20:48:00.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

A ex-deputada federal pelo Rio Grande do Sul, Manuela d’Ávila, afirmou, no programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (06/07), que setores progressistas brasileiros se afastaram da esfera pública tanto no mundo virtual como no real e, portanto, se desconectaram da vida cotidiana da maioria do povo.

"Muitos de nós resistimos a iniciativas de solidariedade prática, como quem diz que é assistencialismo, mas são espaços de articulação de saídas para o dia a dia do povo”, disse a ex-parlamentar filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), defendendo uma adoção imediata de ações emergenciais para o combate à fome na base da população brasileira.

Para d'Ávila, o período da pandemia evidenciou ainda mais essa ausência de articulação e de atuação prática. “Como não tivemos um grito unificado em defesa das cozinhas das escolas públicas abertas produzindo alimento para o povo? Não tem explicação para isso”, diz, acrescentando que tais espaços vagos, como já vinha acontecendo, acabaram preenchidos por comunidades de base como as reunidas em torno de igrejas evangélicas.


A partir da institucionalização que acomodou os governos progressistas de 2003 a 2016, argumenta a comunista, a extrema direita avançou sobre os espaços deixados vagos e continuará forte quaisquer que sejam os resultados eleitorais de 2022. 

Em sua avaliação, o bolsonarismo está bem organizado e terá entre 15% e 25% do Congresso Nacional. Nesse sentido, ela ainda faz um alerta para uma das consequências graves do processo de afastamento entre governos progressistas e a massa da população. “Só vamos ter a interrupção do bolsonarismo porque Lula resgatou seus direitos políticos e, no alto de seus 76 anos, topou disputar a eleição. Se não fosse ele, nós não teríamos força para derrotar esse grupo”, opina.  

Manuela, que foi candidata a vice-presidenta da República em 2018 na chapa de Fernando Haddad, identifica os “feixes de luz” que despontaram na “escuridão severa” pós-2014: estão representados pela juventude que se manteve na rua, pelas mulheres mobilizadas a partir da construção do golpe contra Dilma Rousseff e pelos negros e negras que constituem a base trabalhadora do país e se expressam em bancadas antirracistas em diversas instâncias legislativas. 

Quanto à questão religiosa, D’Ávila combate a ideia de um “sujeito universal” evangélico, difundida habitualmente à esquerda, e diz não reconhecer uniformidade na população neopentecostal. “Na primeira vez que fui a um templo desses, o que me impactou foi a autoestima das mulheres negras superexploradas no trabalho, vítimas de violência, que chegam ali e celebram, cantam, se arrumam”, declara. De modo análogo, ela questiona a uniformização corrente da “classe operária” ou “classe trabalhadora” na compreensão da desigualdade brasileira.

flickr/PCdoBnaCamara
'A esquerda tem que enfrentar a desigualdade, e no Brasil igualdade sem recorte de raça e de gênero não existe', diz Manuela d'Ávila

A ex-deputada, que se afirma marxista, rejeita a avaliação de que suas posições políticas sejam “identitaristas”: “quem são os trabalhadores mais explorados do nosso país? Falar em negros e negras é falar de trabalho precarizado”. A rejeição ao “identitarismo" seria então, segundo ela, a reafirmação de uma determinada identidade, do homem branco em posição de poder. 

"Não sei que sujeito universal é esse que fica revoltado quando falo que existe uma estrutura de poder que privilegia determinadas pessoas em determinadas posições”, afirma.

Entre esses elementos concretos, cita a diferença salarial entre homens brancos e mulheres negras em cargos e posições iguais, a população carcerária majoritariamente negra, a ausência de pensadores negros na bibliografia acadêmica nacional e o próprio passado brasileiro. 

"Tivemos cinco milhões dos 10 milhões de mulheres e homens escravizados na África. Se nós, marxistas, não colocarmos isso no centro da nossa formação estamos olhando para o lugar errado. Tem a ver com certo tipo de pensamento muito eurocentrado, que desconecta o debate da nossa realidade concreta”, argumenta.

Esse conjunto de dados tem implicação direta no dia a dia político, em sua avaliação: "Tem servido apenas para não percebermos o que o povo já percebeu, que sua representação política precisa ser mais plural e estar mais conectada com a classe trabalhadora. E, surpresa, a classe trabalhadora no Brasil tem negros e tem mulheres, e isso não é sobre identidade, é sobre desigualdade. Vocês acharam que estavam na Suécia e não estão”. 

Manuela d’Ávila explica também as razões pelas quais tende a não participar da disputa eleitoral neste ano, ligadas à necessidade de buscar a unidade política mais ampla possível para derrotar o bolsonarismo no Brasil e no Rio Grande do Sul. Em seu estado natal, o objetivo da “reconstrução de relação” seria evitar o que aconteceu nas duas eleições mais recentes, quando o segundo turno foi ocupado por uma alternativa de extrema direita e outra da direita neoliberal. 

Mas também contempla na decisão o que outros chamariam de “identitarismo" e ela entende como fator primordial para o avanço progressista: “Minhas candidatas a deputada federal e estadual vêm da bancada antirracista de Porto Alegre. Não é valorizar identidade em detrimento de projeto político. A esquerda tem que enfrentar a desigualdade, e no Brasil igualdade sem recorte de raça e de gênero não existe”. 

Você que chegou até aqui e que acredita em uma mídia autônoma e comprometida com a verdade: precisamos da sua contribuição. A informação deve ser livre e acessível para todos, mas produzi-la com qualidade tem um custo, que é bancado essencialmente por nossos assinantes solidários. Escolha a melhor forma de você contribuir com nosso projeto jornalístico, que olha ao mundo a partir da América Latina e do Brasil.

Contra as fake news, o jornalismo de qualidade é a melhor vacina!

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!
Opera Mundi

Endereço: Avenida Paulista, nº 1842, TORRE NORTE CONJ 155 – 15º andar São Paulo - SP
CNPJ: 07.041.081.0001-17
Telefone: (11) 4118-6591

  • Contato
  • Política e Economia
  • Diplomacia
  • Análise
  • Opinião
  • Coronavírus
  • Vídeos
  • Expediente
  • Política de privacidade
Siga-nos
  • YouTube
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
  • Google News
  • RSS
Blogs
  • Breno Altman
  • Agora
  • Bidê
  • Blog do Piva
  • Quebrando Muros
Receba nossas publicações
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

© 2018 ArpaDesign | Todos os direitos reservados