Os Estados Unidos não descartam implantar suas tropas no Haiti como parte de um esforço multinacional se a crise no país se agravar, mas o governo atualmente não considera a medida uma prioridade.
A fala foi dada por uma autoridade militar norte-americana em um evento em Washington.
A general Laura Richardson, chefe do Comando Sul do exército dos Estados Unidos (US Southcom), afirmou: “Estamos preparados e responderíamos se o Departamento de Estado e nosso Departamento de Defesa nos solicitassem”.
Ela acrescentou que “não se espera uma resposta exclusiva dos Estados Unidos em caso de um agravamento da situação haitiana”.
“Acredito que uma solução internacional, uma solução que também leve em consideração o ponto de vista dos haitianos, é muito importante, e a administração do presidente Joe Biden está trabalhando exatamente nessa perspectiva”, explicou.
No mês passado, a ONU aprovou o estabelecimento de uma Missão Multinacional de Apoio à Segurança (Mmas) no Haiti, liderada pelo Quênia, mas a iniciativa ainda não foi concretizada devido à crise institucional em Porto Príncipe e à falta de financiamento claro.
Histórico da intervenção dos EUA
Os EUA ocuparam o Haiti durante dezenove anos, começando em 1915. Remodelaram a sociedade haitiana, consolidando o poder na capital e criando as forças armadas, que ascenderam ao poder após a ocupação.
No final da década de 1950, houve uma tentativa de eleição de François Duvalier, que deu início a uma ditadura de três décadas que os EUA apoiaram. Um fator importante foi a proximidade do Haiti com Cuba. Duvalier era um anticomunista convicto, por isso os EUA apoiaram uma ditadura no Haiti como contrapeso a Fidel Castro em Cuba.
Em 1986, a queda de Duvalier marcou o início de um período de governos militares e de processos eleitorais interrompidos que culminou na eleição, em 1990, de Jean-Bertrand Aristide, um teólogo da libertação, que assumiu o cargo numa total mudança de expectativas. Ele durou nove meses no cargo antes de ser deposto por um golpe militar.
O governo de Bill Clinton enviou tropas ao Haiti para restaurar o deposto Aristide em 1994.
Intervenções econômicas entraram em jogo, porque o regresso de Aristide veio com condições. Essas condições foram a adoção de políticas econômicas neoliberais.
Quando o então presidente George W. Bush assumiu o cargo em 2001, os Estados Unidos bloquearam empréstimos de bancos de desenvolvimento, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, e reduziram as suas próprias despesas de ajuda ao Haiti.
Isso culminou na derrubada de Aristide em fevereiro de 2004, onde foi colocado num avião dos EUA e levado para o exílio. Ele foi mantido no exílio na África do Sul devido à pressão do governo dos EUA e não regressou ao Haiti até 2011 – o governo Barack Obama tentou pressionar o governo sul-africano para não deixar que ele voltasse ao Haiti, mas não conseguiu.
(*) Com ANSA