O funeral do presidente do Haiti Jovenel Moise foi iniciado na manhã desta sexta-feira (23/07), 16 dias depois do assassinato do mandatário. A cerimônia teve um forte esquema de segurança. O chefe de Estado, morto a tiros aos 53 anos por um grupo armado no último dia 7, será sepultado em Cap-Haitien, capital do Departamento do Norte, vizinho de sua região natal.
Policiais patrulhavam as ruas de toda a cidade desde a quinta-feira (22/07), em preparação ao funeral. O caixão com o corpo de Moise foi recoberto pela bandeira nacional e a faixa presidencial. O corpo foi protegido por soldados do exército haitiano e deve ser enterrado ao lado do pai do presidente, morto em 2020.
A viúva, gravemente ferida no ataque, estava presente com o braço ainda enfaixado, depois de ter recebido cuidados médicos em um hospital da Flórida, nos Estados Unidos. Diplomatas estrangeiros e integrantes do governo também marcam presença. Soldados fortemente armados circularam pelo local da cerimônia fúnebre.
Ajuda do FBI
Até o momento, 26 pessoas foram presas pelo ataque, a maioria colombianos, além de três outras, que foram mortas. A polícia afirma que o plano foi organizado por haitianos com ligações fora do país e ambições políticas. Porém, o caso continua com muitas perguntas sem resposta.
Três cidadãos do país são procurados, dos quais dois são ex-policiais. Eles poderiam estar nos Estados Unidos, conforme aponta Léon Charles, diretor da polícia nacional, que pede ajuda ao FBI norte-americano para localizá-los e prendê-los.
O Haiti é atormentado pela insegurança e a ação de gangues, uma situação que foi agravada durante a presidência de Moise. A morte do presidente reacendeu tensões históricas entre o norte do Haiti e o oeste, onde fica a capital, Porto Príncipe. Entre outros fatores, existe um antigo antagonismo entre os negros descendentes de escravos do norte e os mestiços, também chamados mulatos, do sul e do oeste.
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Moise foi assassinado a tiros por um grupo armado na madrugada de 7 de julho
Os moradores do norte lembram que Moise é o quinto chefe de Estado daquela região a ser assassinado no oeste, depois de Jean-Jacques Dessalines, Cincinnatus Leconte, Vilbrun Guillaume Sam e Sylvain Salnave. Alguns chegaram a erguer barricadas nas estradas que levam a Cap-Haitien para impedir que as pessoas da capital comparecessem ao funeral.
Homenagens sob tensão
Neste contexto de insegurança, muitos haitianos preferiram não se deslocarem ao local por medo de incidentes ou um novo ataque. “Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para honrá-lo da forma que ele merece, conforme sua importância para a nossa cidade”, disse o prefeito de Cap-Haitien, Yvrose Pierre, na quinta-feira.
Várias cerimônias em homenagem ao presidente assassinado foram realizadas durante a semana em Porto Príncipe. Uma delas contou com a presença de Ariel Henry, o novo primeiro-ministro, que assumiu na terça-feira prometendo restaurar a ordem para organizar as eleições exigidas pela população e a comunidade internacional.
O Departamento de Estado dos EUA nomeou nesta quinta-feira um novo enviado especial ao Haiti, com a tarefa de ajudar a promover a organização do pleito. Por enquanto, o país não tem um parlamento operacional e poucos senadores foram eleitos. O governo interino instalado nesta semana não tem presidente.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, ligou para Henry nesta quinta-feira para expressar o “compromisso de Washington em apoiar o povo haitiano após o hediondo assassinato” de Moise. Os Estados Unidos e a França pediram a realização de eleições legislativas e presidenciais livres e justas no Haiti o mais rápido possível.
Moise governou o país, o mais pobre das Américas, por decreto depois que as eleições legislativas de 2018 foram adiadas devido a várias disputas. Além das eleições presidenciais, legislativas e locais, o Haiti tinha marcado para setembro um referendo constitucional, que já foi adiado duas vezes devido à pandemia do coronavírus.