Caríssimo Eduardo, o Geleia dos nossos muito divertidos anos de Ouro Preto. Peço desculpas por tornar pública essa conversa. Mas isso me dá a oportunidade de me explicar, ou me justificar, para outras pessoas queridas.

Fiquei extremamente tocado com a generosidade de ter me oferecido de presente uma bicicleta nova e moderna, uma atitude que, como me contou, é compartilhada por outras pessoas amadas, ou “parças”. 

Preciso, diante disso, contar algumas coisas sobre a minha parceria com a Monark Barra Circular 2003 verde. Das três bicicletas que há em casa – nenhuma minha, ela é a mais velhinha e, certamente, a mais machucada pelo tempo e uso.

Tem uma bem mais moderna, dotada de um monte de marchas, que nos legou um sobrinho, o Gustavo. A outra é uma Monark, vermelha, daquelas de cestinha. Tentei usar a mais sofisticada e até a de cestinha. Mas voltei correndo para a Barra Circular. Nós nos entendemos.

É até um pouco desnecessário dizer, por evidente, que sou um cara retrô, analógico. E também que, em boa parte por necessidade, fui me desfazendo ao longo da vida de um bocado de vaidades.

Um chegado aqui da terra, Ramiro Grossi, uns cinco anos mais novo, me sugeriu comprar uma bicicleta adequada. Ele é um atleta das magrelas, chega a rodar uns 150 quilômetros num dia. Expliquei a ele que não consigo me ver transformando o ciclismo em esporte.

Para mim, é um meio de transporte, o mais prático de que disponho para ir ao Sítio Córrego de Ubá. As outras opções são trilhar a pé (é muito demorado para minha ansiedade); de “Circulenta”, uma linha de transporte coletivo, e mais um quilômetro a pé, ou de táxi (é muito caro).

Hoje, troquei a corrente da Barra Circular, que estava muito gasta. O cara da oficina, meneando a cabeça e torcendo levemente o nariz, apontou outros sinais de ruína na guerreira. Um dia, certamente, ela vai se acabar, como todas as máquinas há muito tempo em uso. Então, será necessário comprar uma nova.

Até lá, sigo com ela. Agradecido, digo que se os “parças” querem me presentear, me mandem livros. Tenho na cabeça uma lista de títulos que adoraria ler. Mas os amigos também podem fazer suas próprias escolhas. Assim, cada presente se tornará algo mais pessoal. Sinto apenas que, neste momento, não esteja em condições financeiras de retribuir.

Um grande abraço,

Bernardino