Fui ver ‘Pretoperitamar’, o espetáculo em homenagem ao Itamar Assumpção. Itamar é um artista blindado de saudosismo.
Mesmo ausente dessa vida que a gente vive hoje, ele está presente. Eu não tô falando de transcendência, porque eu não tenho essa capacidade, é apenas o simples.
Digo isso por causa da música e da experiência que Itamar Assumpção construiu e compartilhou, eu insisto em não esquecer essa palavra.
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Eu vivia falando que o Itamar é patrimônio de nossa geração. Bobagem. Itamar é patrimônio da cultura negra desse Brasil.
O único privilégio foi ter visto ao vivo, vivido isso com ele, com as iscas e com as orquídeas.
Na São Paulo provinciana dos 80, século passado, Itamar não cabia confortável em lugar nenhum.
Os que eram do rock não podiam ignorar, os da mpb não sabiam onde por, porque era grande demais; sobre os que insistiram em não ver, azar o deles.
Como ele próprio cantava “Me arrasta daqui pra Bagdá, me empurra pra lá, me puxa pra cá”.
Agência Tonico / Flickr
O músico paulista Itamar Assumpção
Ontem, eu fiquei ali ouvindo, olhando, lendo o espetáculo na cadeira desconfortável do Sesc Pompéia e a cabeça viajando para outros tempos e outras salas: Funarte, Centro Cultural, Mambembe, outros Sescs, e o tempo não parou ali.
Eu demorei bastante para entender que alguns artistas não vieram para cá para gerar nostalgia, Itamar é um deles.
É um artista que não cabe em resumo, é indivisível. Sigo aqui sem saudade do Itamar, porque ele nunca foi embora.
Sempre é bom aprender essas coisas que parecem simples.
Nesse 2020 é bom entender e sentir que algumas coisas não morrem nunca, mesmo que o enredo nos faça acreditar que tudo morre.
Vou parar por aqui porque o Itamar ensinou que chavão abre porta grande e tô na beira de fazer redundância.
Agradeço à minha companheira Gabriela Junqueira Calazans e à longeva amiga Regina Facchini por terem insistido na minha ida ao SESC. Foi bonito de viver.