Acabo de saber da morte do João Carlos Marinho, pai do Beto Furquim e autor de Sangue Fresco e O Gênio do Crime – coloco nesta ordem porque creio que estes são os dois melhores livros para crianças que ele escreveu. Li quase todos.
Marinho tem alguns contos para adultos ótimos também, publicados num livro pouco conhecido, Pai Mental e outras histórias, que encontrei por acaso na biblioteca da casa de campo de uma amiga, uns dez anos atrás.
No Estadão, tive o prazer de realizar uma entrevista com ele em Monte Verde, onde ele se hospedou para escrever um livro, O Gordo contra os pedófilos, salvo esteja sendo traído pela memória.
Foi uma situação incomum. Um dia inesquecível, da hora em que o encontrei no hotel, num quartinho minúsculo, com umas frutas na janela para atrair passarinho, ao fim do dia, depois um almoço longuíssimo falando de futebol. Ficamos amigos e chegamos a discutir, sem avançar, a possibilidade de eu editar seus livros. A verdade é que a Global fazia e faz um trabalho muito bom com a obra dele.
Sugeri, sem jamais o convencer, a fazer uma “obra completa”, com todos os seus livros reunidos. Às vezes a gente se falava e um dia ele me mandou uma tradução de Gargântua e Pantagruel, de Rabelais. Era uma versão “João Carlos Marinho”, não integral, que por razões comerciais julguei inviável lançar, e ele também não se interessou em bancar a edição.
João Carlos Marinho morreu neste domingo (17/03), aos 83 anos, e foi o melhor escritor que li na infância, certamente a fase em que proporcionalmente mais li apenas por prazer na vida. Tê-lo conhecido foi um privilégio.
De vez em quando, mandava umas perguntas pra ele, que ele respondia com algum mau humor, como neste caso aqui. Vou sentir saudades.
Reprodução/Facebook
João Carlos Marinho morreu neste domingo (17/03), aos 83 anos