Cerca de 24 milhões de peruanos estão convocados para retornarem neste domingo (06/06) às urnas para participar do segundo turno das eleições que decidirão o próximo presidente do país. A escolha é entre o esquerdista Pedro Castillo (Peru Livre), que aparece com vantagem, e a direitista Keiko Fujimori (Força Popular).
No primeiro turno, em abril deste ano, 18 candidatos concorriam à Casa de Pizarro. Após uma disputa no qual pesquisas apontavam empate técnico entre cinco candidatos, Castillo saiu vitorioso, com 18,92% dos votos. Professor do ensino básico, com 51 anos de idade, o nome do Peru Livre liderou, na segunda volta, a maior parte das pesquisas.
Logo após a definição do segundo turno, as primeiras davam 20 pontos de vantagem de Castillo sobre a filha do ex-ditador Alberto Fujimori. No entanto, o último levantamento antes do pleito apontou uma diminuição da diferença, mas com liderança do sindicalista: 51,1% dos votos válidos contra 48,9% de sua adversária.
O país teve quatro presidentes nos últimos três anos. Em 2018, Pedro Pablo Kuczynski foi destituído. Em novembro do ano passado, seu vice, Martín Vizcarra, também foi afastado do cargo. Após a saída de Vizcarra, Manuel Merino assumiu o poder, mas renunciou após uma semana. O quarto presidente, Francisco Sagasti, conduz um governo provisório e não se candidatou neste pleito.
Como será a votação
O Órgão Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) detalhou que os eleitores poderão votar neste domingo na mesma mesa e local designado no primeiro turno, no horário estabelecido das 7h00 às 19h00 (hora local). Assim como no Brasil, o voto no Peru é obrigatório. Em caso de não comparecimento, o eleitor pode ter que pagar uma multa.
Devido à pandemia do novo coronavírus, as autoridades eleitorais escalonaram os horários para evitar aglomerações nos centros de votação. Idosos terão um período estabelecido para realizarem o voto. Assim como uma escala de horários, o ONPE pediu que os peruanos utilizem duas máscaras de proteção na hora da votação.
Segundo levantamento da Universidade Jonhs Hopkins, o Peru contabiliza, desde o início da pandemia, 1.965.693 casos da covid-19 e 185.380 mortes. Além de infecções, o mapa aponta que o governo peruano aplicou 4.207.543 doses de vacinas contra o vírus.
Desde o último dia 31 de maio, entraram em vigor as restrições determinadas na legislação eleitoral para este segundo turno, homologadas pelo Júri Nacional de Eleições (JNE). A partir da meia noite (hora local), foi proibida a divulgação ou publicação de pesquisas de intenção de voto na mídia.
Além disso, desde sexta-feira (04/06), não foram mais permitidas reuniões ou manifestações de natureza política, ao passo que no sábado (05/06) foram suspensos todos os tipos de propaganda política.
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Keiko Fujimori e Pedro Castillo disputam segundo turno para definir quem será o próximo presidente do Peru
Castillo, Keiko e os debates
Castillo teve reconhecimento nacional em 2017, quando liderou uma greve de profissionais da educação peruana. Quando jovem, Castillo fazia parte de rondas campesinas, organizações que combatiam crimes que ocorriam nas zonas rurais do Peru, o que, ainda hoje, representa em suas caminhadas ao usar chapéu característico aos integrantes destes grupos.
Em sua campanha eleitoral, o candidato falou em participação popular e na convocação de uma Constituinte no Peru. Membro de um partido que se identifica como marxista-leninista-mariateguista, Castillo defende que a atual Constituição prioriza o interesse privado sobre o interesse público, o lucro sobre a vida e a dignidade. Para ele, a ideia é permitir que os peruanos decidam “democraticamente” se querem ou não uma nova Carta Magna.
Keiko, por sua vez, que chegou ao segundo turno após obter 13,4% dos votos, se apoia no legado do pai para vencer, defendendo a manutenção da estrutura do Estado como está. A atual Constituição peruana foi promulgada em 1993, durante o regime fujimorista.
Durante o único debate entre os presidenciáveis deste segundo turno, o duelo girou em torno do posicionamento entre os candidatos diante da emergência sanitária em decorrência do novo coronavírus, assim como a gestão da saúde e da educação. Em certo ponto, Keiko acusou seu concorrente de não falar publicamente sobre as mulheres, o que foi revidado por Castillo ao declarar que ela deveria pedir desculpas às peruanas que sofreram esterilizações forçadas no governo de Alberto Fujimori.
A prática da imposição de esterilizar mulheres era uma das medidas do Programa Nacional de Planejamento Familiar. Estima-se que mais de 300 mil mulheres e 25 mil homens em idade fértil e reprodutiva, sobretudo entre camponeses e indígenas, foram esterilizados sem consentimento. A política de Alberto foi defendida por Keiko, que, durante um evento, disse que as esterilizações tratavam-se, na verdade, de “planejamento familiar”.
Por outro lado, em sua campanha, Castillo tem repudiado as esterilizações forçadas do governo fujimorista: em 24 de abril, ele disse que, em seu mandato, caso seja eleito, “não irão encontrar um governo que queira arrancar o útero de mães e mulheres peruanas”.