Áudios gravados de Vladimiro Montesinos e divulgados nesta sexta-feira (02/07) apontam que o ex-homem forte da ditadura de Alberto Fujimori (1990-2000) pretendia planejar uma intervenção norte-americana para barrar a vitória de Pedro Castillo no Peru. A informação foi publicada pelo jornal La República.
Segundo as gravações a que o periódico teve acesso, Montesinos pediu à equipe de campanha de Keiko Fujimori, filha do ex-ditador, que apresentasse à embaixada dos Estados Unidos no Peru as alegações de supostas fraudes eleitorais. O La Republica afirma que a intenção de Montesinos seria “atrapalhar o processo eleitoral em favor de Keiko”.
Ainda de acordo com o diário, o plano do peruano seria de apresentar tais denúncias ao gerente da embaixada, que é funcionário da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA, para “forçar a intervenção” norte-americana no país.
Montesinos está preso na Base Naval de Callao e fez as ligações de lá. O diálogo divulgado foi mantido com o coronel da reserva do Exército Pedro Rejas Tataje.
Na conversa, Montesinos tentava combinar com o coronel da reserva o que poderiam fazer para reverter o resultado que dá vitória a Castillo, do Peru Livre. Nos áudios, o ex-homem forte de Fujimori afirma que Mark Vito Villanella, marido de Keiko e cidadão norte-americano, deveria “levar toda a documentação de fraude” à embaixada e pedir que os papéis fossem entregues a Washington.
Agência Andina
Montesinos está preso na Base Naval de Callao condenado a 25 anos de prisão por violações de direitos humanos
Em outro momento do diálogo, Montesinos fala que, com essa medida, a Casa Branca poderia emitir uma nota “para impedir que Cuba, Venezuela e Nicarágua se imponham no Peru” e que tal declaração “teria um peso grande”.
No dia 23 de junho, no entanto, até os EUA reconheceram que as eleições que deram vitória a Pedro Castillo foram “livres, justas, acessíveis e pacíficas” e um “modelo de democracia”.
Montesinos, que é ex-militar, era responsável de facto pelo serviço de inteligência peruano durante a ditadura de Fujimori, marcada por violações de direitos humanos e casos de corrupção. O ex-agente também fez parte do Grupo Colina, um esquadrão para assassinar simpatizantes comunistas.
Em 2000, Montesinos fugiu para a Venezuela, mas foi capturado e condenado a 25 anos de prisão por violações de direitos humanos.
No sábado (26/06), o Ministério Público do Peru anunciou o início de uma investigação sobre áudios nos quais Montesinos planeja subornar membros do Júri Eleitoral Nacional (JNE) em ações ilegais para permitir que Keiko tivesse seus recursos aceitos e fosse declarada vencedora das eleições presidenciais do país.
O fato levou a Marinha de Guerra do Peru a anunciar que também investigaria o caso. Segundo o órgão, o ex-assessor de Fujimori tinha autorização para fazer ligações à esposa.