A grande novidade desta eleição para o Parlamento francês foi a união de praticamente todos os partidos de esquerda na coligação NUPES, ao contrário do que aconteceu na eleição presidencial, quando concorreram separadamente e seu líder, Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, ficou a menos de 2% percentuais de Marine Le Pen, que foi para o segundo turno.
No último domingo (12/06), encerrou-se o primeiro turno das eleições para o Poder Legislativo na França. Os departamentos ultramarinos e os franceses residentes no exterior já haviam começado a votar alguns dias antes.
As pesquisas de intenção davam o maior índice de votos para a coligação de esquerda, NUPES, Nouvelle Union Populaire, Écologique e Social, com 28%, e uma ligeira vantagem de 0,5% sobre a segunda colocada, a coligação que apoia o presidente Emmanuel Macron, chamada Juntos. O partido de extrema-direita, o Reagrupamento ou Reunião Nacional, liderado por Marine Le Pen, perdia pontos em relação à eleição presidencial, vindo em terceiro lugar, com 19,5%. A direita tradicional, dos Republicanos, vinha em quarto, com 11%, enquanto o outro partido de extrema-direita, o Reconquista, aparecia com 6%.
São 6 partidos nesta frente de esquerda: além da França Insubmissa, integram a frente o Partido Socialista, o Partido Comunista Francês, o Ecologia-Europeia – Verdes, o Junto! (não confundir com a coligação de Macron) e o Geração s. Esta é a sexta vez na história francesa que as esquerdas se unem para disputar eleições; o mesmo ocorrera em 1924, 1936 (com a Front Populaire), 1945, 1981, quando François Mitterand foi eleito presidente, e em 1997.
Sempre que se uniram, as esquerdas conseguiram resultados muito positivos e implementaram programas sociais relevantes. Em 1924, por exemplo, conseguiram impor a gratuidade do ensino secundário; em 1936, as férias remuneradas, a semana de 40 horas e o estabelecimento de convenções trabalhistas coletivas; em 1945, se institui a seguridade social universal; em 1981 houve a nacionalização dos grandes bancos, a aposentadoria aos 60 anos com a abolição da pena de morte; em 1997, a criação da semana de trabalho de 35 horas.
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No último domingo (12/06), encerrou-se o primeiro turno das eleições para o Poder Legislativo na França
Cálculo complicado
O sistema eleitoral francês para o Legislativo é bastante complicado. São 577 circunscrições eleitorais, e o percentual de votos por si só não estabelece o número de deputados que um partido ou uma coligação conseguem, no fim das apurações. É necessário que seus candidatos vençam nas circunscrições onde concorrem. E a votação se dá em dois turnos (desta vez o segundo turno acontece em 19 de junho).
Para que um candidato vença no primeiro turno, ele deve obter 50% + 1 dos votos na sua circunscrição e pelo menos 25% do total de eleitores nela inscritos. Se isto não acontece, disputam o segundo turno todos os candidatos que tenham obtido pelo menos 12,5% no primeiro. Isto significa que pode acontecer um segundo turno com mais de dois candidatos. Desta vez, ganha quem obtém a maioria simples dos votos.
Graças a este sistema complexo, as pesquisas de intenção de voto apontavam o favoritismo da coligação de Macron para obter a maioria absoluta no Parlamento: pelo menos 289 deputados.
O resultado do primeiro turno confirmou as pesquisas de intenção de voto, mas a futura composição do Parlamento segue indefinida, dependendo do 2° turno. O NUPES elegeu 4 deputados e teve 26,2 % dos votos. O Juntos, de Macron, elegeu 1 e ficou com 25,4.
A coligação de Mélenchon vai disputar o segundo turno em mais de 500 circunscrições, tendo conquistado o primeiro lugar em 194 delas. O Juntos chegou em primeiro em 203 circunscrições. Marine Le Pen ganhou 55% dos votos na sua circunscrição, mas ainda não se elegeu, pois o comparecimento foi muito baixo e não garantiu o quorum eleitoral. Seu partido, o Reunião Nacional, ficou em primeiro em 110 circunscrições, com 18,67% dos votos. O Republicanos, da direita tradicional, ficou em primeiro em 42 circunscrições, e teve 11,31 dos votos. O Reconquista, de Zemmour, teve um resultado fraco: 4,2%.
Nada está definido. Macron não tem garantida a maioria absoluta. A extrema direita recuou em relação à eleição presidencial. Mas uma coisa é certa: as esquerdas, agora unidas, renasceram das próprias cinzas, e voltaram a ser uma força de primeira grandeza no cenário político francês.