O presidente francês, Emmanuel Macron, sai do primeiro turno da eleição legislativa deste domingo (12/06) sem garantia de poder dirigir o país nos próximos cinco anos com uma maioria absoluta na Assembleia Nacional, condição para conseguir implementar seu programa de governo. O pleito, marcado pelos bons resultados da aliança de esquerda e por uma boa performance da extrema direita, obriga o chefe de Estado a esperar até o segundo turno, no próximo domingo, para saber qual margem de manobra terá durante seu mandato.
O primeiro susto do Juntos!, coalizão criada pelos aliados do chefe de Estado, foi o número de votos conquistados pelo NUPES, grupo formado por boa parte dos partidos de esquerda do país. A aliança, encabeçada pelo chefe da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, conseguiu entre 25% e 26,2% dos votos, contra de 25% a 25,8% para o grupo de Macron, segundo os primeiros resultados. Para Mélenchon, “o partido presidencial está derrotado”.
Em seguida, a legenda de extrema direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen, reuniu quase 20% dos votos. Com o resultado, o partido de Le Pen, que tradicionalmente sai prejudicado nas eleições legislativas em razão do sistema majoritário, poderá ultrapassar 15 deputados na Assembleia, algo que não acontecia desde 1986 e que representa uma progressão de 13,2% com relação a 2017. A candidata, que foi derrotada no segundo turno da eleição presidencial, mas obteve 55% na disputa como deputada neste domingo, convocou seus apoiadores a se mobilizarem para “enviar um grupo importante de deputados patriotas na nova Assembleia Nacional”.
Essa primeira etapa das legislativas confirma uma recomposição do tabuleiro político francês. Segundo as projeções, a aliança de Macron, que precisa obter no mínimo 289 cadeiras, pode terminar com um saldo entre 255 e, no máximo, 310 deputados.
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A aliança de Emmanuel Macron precisa obter no mínimo 289 cadeiras, das 577 da Assembleia Nacional
“Hugo Chávez francês” assusta partido governista
Esse pleito, que acontece menos de dois meses após a reeleição de Emmanuel Macron para a presidência, visa definir se o chefe de Estado centrista terá uma nova maioria parlamentar para implementar seu programa de governo. Após o segundo turno da eleição legislativa, que acontece em 19 de junho, o país saberá se Macron recebeu a confiança total dos franceses, se será obrigado a negociar com uma maioria relativa ou se terá que governar em um regime de “coabitação”, termo usado na França quando o chefe do governo e o presidente são de tendências políticas diferentes.
Segundo os primeiros resultados, essa possível “coabitação” pode acontecer entre os centristas de Macron e a esquerda que, pela primeira vez em 25 anos, conseguiu se reunir em uma coalizão. Ecologistas, comunistas, socialistas e a França Insubmissa (FI), partido da esquerda radical, concorreram em uma frente unida, liderada por Jean-Luc Mélenchon.
Batizada de Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES), a coalizão é encabeçada pelo próprio Mélenchon, o chefe da França Insubmissa. O político de 70 anos, que por pouco não chegou ao segundo turno da eleição presidencial, ao receber quase 22% dos votos em abril, vê nessa eleição legislativa uma revanche no que considera o “terceiro turno” da votação. Seu objetivo é impedir Macron de aplicar seu programa de linha liberal.
A França já conheceu mandatos com um governo e um presidente de tendências políticas diferentes. A última “coabitação” ocorreu entre 1997 e 2002, quando o presidente conservador Jacques Chirac teve que nomear o socialista Lionel Jospin como primeiro-ministro.
Como Jospin, que liderou a aliança Esquerda Plural nas legislativas de 1997, Mélenchon espera se tornar o próximo chefe de governo. Mas a ideia de ver no cargo de primeiro-ministro o “Hugo Chávez francês”, como é apelidado o chefe da esquerda radical, preocupa o partido governista.