Essa pode ser a eleição presidencial francesa mais incerta dos últimos anos. O suspense devido ao crescimento da líder da extrema direita Marine Le Pen nas pesquisas, à previsão de recorde de abstenção, além do apelo de candidatos pelo voto útil, marcou a reta final da campanha. O primeiro turno da eleição acontece neste domingo (10/04);
As últimas pesquisas de intenção de voto mostram que a diferença diminuiu entre o presidente Emmanuel Macron (República em Marcha), que tenta se reeleger, e a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen (Reunião Nacional). Divulgada na tarde desta sexta-feira (8), a projeção do Instituto Harris Interactive Toluna aponta que Macron tem 27% das intenções de voto, contra 24% de Le Pen.
Veja as últimas pesquisas da disputa presidencial na França
Em terceiro lugar, chega o candidato da esquerda, Jean-Luc Mélenchon (França Insubmissa), com 18%. O outro representante da extrema direita, Eric Zemmour, está em quarto lugar, com 8,5% dos votos, seguido da conservadora Valérie Pécresse (Os Republicanos), com 8%.
Apelo ao voto útil
No entanto, as pesquisas também mostram que o grande volume de eleitores indecisos – cerca de 32% – pode mudar o rumo dos resultados e trazer surpresas. Não é à toa que alguns candidatos vêm apelando ao voto útil, principalmente Jean-Luc Mélenchon e Marine Le Pen.
Extremamente fragmentada, a esquerda francesa teve dificuldades para mobilizar o eleitorado e concentrar os votos em uma candidatura única. Para tentar encontrar um representante de todas as orientações, militantes chegaram a organizar as chamadas “primárias populares” no final de janeiro, que deu vitória à ex-ministra Christiane Taubira. No entanto, os outros candidatos progressistas se recusaram a aceitar a proposta.
No total, a esquerda tem seis representantes nessa eleição presidencial francesa. O mais popular deles é Jean-Luc Mélenchon, que concentra entre 17% e 18% das intenções de voto, segundo as últimas pesquisas. Em seguida, entre os candidatos progressistas, está o ecologista Yannick Jadot, que tem 5% das intenções de voto. Ele é seguido do comunista Fabien Roussel (3%), da socialista Anne Hidalgo (2%), de Nathalie Arthaud, do partido Luta Operária (1%) e o representante do partido anticapitalista Philippe Poutou (1%).
Observando essa divisão, Mélenchon vem tentando convencer os eleitores de esquerda a abandonarem o voto por convicção, em candidatos sem chance de ir para o segundo turno, em prol de uma escolha por orientação ideológica. A estratégia tem dado certo: o líder do partido França Insubmissa deu um salto nas pesquisas nas últimas semanas, passando do quinto para o terceiro lugar e desbancando Zemmour e Pécresse.
Quem também aposta no voto útil é Marine Le Pen. Em segundo lugar nas pesquisas, ela vem diminuindo a diferença de pontos com Macron. A líder do Reunião Nacional vem apelando aos eleitores da direita e principalmente de Zemmour. Analistas políticos apostam que, caso Le Pen obtenha parte dos votos dos ultraconservadores, ela poderia até chegar em primeiro lugar no primeiro turno.
Abstenção deve ser a grande vencedora
As pesquisas também apontam para uma provável abstenção recorde no domingo. Alguns institutos calculam que 30% dos eleitores da França não deva ir votar – algo inédito em um primeiro turno de uma eleição presidencial no país.
De fato, o cansaço com a classe política, a provável repetição do cenário de 2017 – Macron e Le Pen no segundo turno –, além do desgosto com o atual governo, desmotivam os eleitores. Esse, aliás, é um dos motivos que levam o chefe de Estado francês a recuar nas pesquisas. Macron não conseguiu se desvencilhar da imagem de “presidente dos ricos”, e vem acumulando críticas pelo mau gerenciamento da crise dos ‘coletes amarelos’, as contradições das medidas adotadas durante a pandemia, a queda do poder aquisitivo da população mais desfavorecida nos últimos anos e a proposta de passar para 65 anos a idade mínima para a aposentadoria.
Outro fator que pode mudar o rumo dos resultados é a desconfiança dos eleitores nas pesquisas de intenção de voto. Principalmente após o trauma de 2002, quando o então candidato da extrema direita Jean-Marie Le Pen conseguiu, ao contrário do que apontavam todas as sondagens, desbancar o socialista Lionel Jospin, e ir para o segundo turno.
Outras votações que tiveram resultados inesperados nos últimos anos – como o referendo do Brexit, as eleições de 2016 nos Estados Unidos que deram a vitória ao Donald Trump – também incitam essa desconfiança nas pesquisas de intenção de voto na França.
De fato, se os indecisos e os abstencionistas resolverem se mobilizar no próximo domingo, o resultado pode trazer surpresas. E alguns analistas já não descartam a hipótese de Marine Le Pen ser a próxima presidente da França.