A líder das Avós da Praça de Maio afirmou nesta segunda-feira (20/11) que a associação vai pedir uma audiência a Javier Milei, eleito presidente da Argentina, como fizeram “com todos os presidentes anteriores”, sobre as crianças desaparecidas na ditadura militar argentina:
“Sabemos como transformar a angústia em força e perseverança, mas nunca em desistência”, afirmou Estela de Carlotto.
Após reconhecer a vitória do ultradireitista do A Liberdade Avança, com 55,9% dos votos contra os 44,1% de Sergio Massa, do União pela Pátria, disse nesta segunda-feira (20/11) que já recuperou seu “alto astral.”
A Avós da Praça de Maio é uma associação importante da rede de organizações de direitos humanos. Nasceu na luta pela memória, verdade e justiça pelos crimes da última ditadura cívico-militar, e foi alvo de duros ataques negacionistas por parte de Victoria Villarruel, nova vice-presidente da Argentina.
Apesar do resultado das eleições presidenciais e de toda a “humilhação” que a associação sofreu durante a campanha eleitoral, Carlotto declarou que “este não é o momento de arrependimento, mas de continuar”:
“Lutamos sempre pela paz, pela justiça e pela verdade para os nossos netos, pela sua identidade, que é um direito. Não vamos deixar isso por atrás e vamos pedir que nos acompanhem”, afirmou a representante ao Página 12.
Um dia após as novas definições do governo argentino, Javier Milei já falou sobre a privatização da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) e dos meios de comunicação públicos. Além de assegurar medidas caracterizadas como “ideias da liberdade”, o governo considerou o genocídio da última ditadura argentina como uma “guerra” de “excessos”, e tem Villarruel como vice, uma filha de militar do regime ditatorial e sobrinha de torturador que não acabou preso por velhice.
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Estela de Carlotto, líder das Avós da Praça de Maio, afirmou que pedirá uma audiência a Javier Milei
Carlotto não foi apenas desqualificada pela nova vice-presidente durante a campanha eleitoral. Em setembro de 2022, a ultradireitista a chamou de “personagem sinistra”, chegando a questionar seu “caráter de vítima da ditadura”, acusando-a como “mãe de terroristas”.
São esses alguns dos motivos pelos quais Carlotto considerou os resultados eleitorais “um balde de gelo no coração”. Seu neto, Ignacio Montoya Carlotto, filho de Laura Carlotto que foi sequestrada grávida durante a última ditadura e assassinada após dar à luz no cativeiro em 1978, foi um dos “bebês” apropriados e “recuperados” pela luta, número 114, das Avós da Praça de Maio. Ele restaurou sua identidade em 2014.
“Não vamos mudar o que pensamos porque alguém que nos odeia está no governo. Não vamos parar de procurar nossos netos desaparecidos. Não vamos deixar de lembrar os centros de detenção clandestinos onde torturaram e violaram pessoas que mais tarde foram exterminadas e atiradas ao mar. Esta é uma prioridade para a verdadeira memória do nosso país. É de todos, não só de nós”, assegurou a presidente da associação.
Nesta terça-feira (21/11), a Avós da Praça de Maio organizará uma reunião sobre os rumos da luta a partir da gestão de Milei, que será oficialmente empossado em 10 de dezembro. Ao afirmar que a audiência será solicitada, assim como também foram em todos os governos anteriores, Carlotto lembrou que a única exceção foi Mauricio Macri: “Ele respondeu por mensagem que estava ocupado e nos enviou para conversar com Garavano (seu ministro da Justiça)”.
“Teremos que estar atentos, mas sabemos que a partir de agora eles nunca nos derrotarão. Nunca desistiremos de procurar aqueles que faltam, que são adultos que vivem sem saber quem são e que têm o direito de saber, que estão desaparecidos com vida. E vamos pedir ao próximo governo que nos acompanhe nesta busca”, concluiu a líder da associação.