Vista como o torneio de futebol feminino mais acompanhado dos últimos anos, a edição de 2023 da Copa do Mundo Feminina começou nesta quinta-feira (20/07) na Nova Zelândia, país que divide a sede do torneio com a Austrália. Para que o campeonato tivesse tal repercussão, houve um avanço no investimento para a evolução do futebol feminino. Essa é a análise de Alicia Klein, colunista do Uol Esporte.
A mudança de sentimento em relação ao futebol feminino é positiva, já que a primeira Copa do Mundo das mulheres ocorreu em 1991, 60 anos após a estreia do torneio masculino. Agora, são 32 anos que separam a primeira edição e a deste ano.
“Eu não tenho dúvida que teve um avanço muito grande nas condições de investimento, não somente da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa), mas também dos países que levam suas seleções para a Copa. Mas é um torneio diferente, que 30 anos atrás ninguém ia assistir e hoje está na televisão aberta”, disse Klein a Opera Mundi.
A mudança de postura citada por ela também é observada no fato de que esta edição está sendo coberta “de uma forma que até então nunca tinha sido”. A colunista afirmou que esse cenário se deve à “evolução do futebol feminino em si, do crescimento e da modernidade, além do interesse das pessoas”.
Para ela, um dos motivos que dificultaram a consagração desse avanço foi o machismo. Klein apontou o preconceito contra as mulheres que jogam futebol como um dos fatores que impôs na sociedade a ideia de que elas não merecem as “mesmas oportunidades”.
Segundo a também comentarista do SporTv, a narrativa que coloca as mulheres como inferiores dificultou que o futebol feminino ganhasse espaço: “essa visão explica a parte mais importante dessa diferenciação. A partir do momento que você diz que o corpo feminino não foi feito para jogar futebol, que proíbe legalmente e depois não coloca investimento nenhum, faz parte desse discurso. Até hoje ouvimos que o futebol é espaço de homem”.
Não que o machismo tenha acabado, pelo contrário. Klein relatou que o preconceito quanto ao futebol ser um lugar de homens ainda é utilizado. A Opera Mundi, ela relatou que recebe elogios nos textos que escreve, mas quando discordam de sua opinião, especialmente em pautas sociais, “muita gente vai direto para o ‘vai arrumar uma louça para lavar’ e ‘vai lavar roupa’, que são, obviamente, ofensas misóginas”.
Para Klein, não há dúvidas que o machismo é a “principal razão desse retrocesso”. No entanto, as mulheres e o futebol feminino buscam avançar de “maneira mais rápida, já que não é um caminho fácil vide os anos que estivemos em impedimento”.
Os investimentos entre futebol masculino e feminino
A Opera Mundi, Klein disse que uma das grandes diferenças entre o futebol masculino e o feminino é o tipo de investimento feito nessas modalidades. “As pessoas defendem que deve ser investido aquilo que é gerado. Então se o futebol feminino não gera, não se investe e cria-se um ciclo vicioso que não permite seu desenvolvimento”, afirmou.
Rafael Ribeiro / CBF
Seleção brasileira estreia contra o Panamá na segunda-feira (24/07), às 08h
Na análise da especialista, o futebol masculino tem uma dívida em relação às mulheres, uma vez que cresceu em detrimento do lugar das atletas femininas. Assim, o investimento na modalidade “não pode ficar a cargo da boa vontade de um movimento organizado”.
Como solução para o impasse do investimento no futebol feminino, Klein avalia a importância de que haja obrigatoriedade nas aplicações, de maneira “mais incisiva”, para que as pessoas possam consumir e descobrir “que o futebol feminino é um produto excelente”.
Para ela, para comparar o futebol masculino e o feminino é necessário levar em consideração o tempo em que existem as Copas do Mundo de cada modalidade. Vale recordar que o primeiro torneio masculino aconteceu em 1930, enquanto o feminino, em 1991.
“O Brasil vem se mantendo em alto nível só na base do talento, mas isso não é suficiente. Esse investimento precisa ser feito para que o produto alcance a qualidade que pode ter”, completou.
Marta e a nova geração do futebol feminino
Existem rumores de que quando a atacante Marta se aposentar, a Seleção Brasileira Feminina pode sofrer uma entressafra. Klein disse não concordar com essa leitura: “quando ela se aposentar pode ser o fim de uma era e a aposentadoria da maior jogadora de futebol, entre homens e mulheres, que essa geração já viu. Ela certamente tem um peso, mas no quesito técnica, ela não é mais a estrela do time, por questão de idade e lesões”.
A analista citou como exemplo as jogadoras Tamires, Bia Zaneratto e Debinha como atletas que estão em alto nível na seleção atual e em seus clubes (Corinthians, Palmeiras e Kansas City Current, respectivamente)
“Vejo cada vez mais meninas praticando esportes, mas ainda é muito pouco e depende muito de uma vontade imensa da criança e da família para que se tenha acesso. Ainda são poucos os clubes e o número de vagas é pequeno. A parte estrutural também é complicada, porque vemos grandes clubes jogando em estádios menores, com péssimas condições de gramado, por exemplo. Vejo uma evolução, mas é de longo prazo. Não tenho dúvida que é um trabalho que só cresce, mas gostaria de ver mais investimento, mais clubes e mais acesso para que essa evolução pudesse ser mais rápida”, disse.
Sobre o desempenho do Brasil na competição deste ano, Klein confessou ser uma “eterna otimista”, mas reconhece que a seleção tem um caminho difícil pela frente.
“O Brasil precisa ter um bom desempenho dentro do seu grupo, inclusive contra a França, para avançar na fase de grupos e tentar evitar a Alemanha nas oitavas. Depois depende muito dos adversários. Mas eu acho que se o Brasil chegar a uma semifinal e disputar o pódio, isso já seria um excelente resultado. Torço sempre para que a Seleção cresça, ainda mais durante a competição, e chegue à final”, completou.
Confira agenda dos jogos brasileiros:
– Brasil x Panamá – 24 de julho (segunda-feira), às 08h
– França x Brasil – 29 de julho (sábado), às 07h
– Jamaica x Brasil – 2 de agosto (quarta-feira), às 07h