Em seu último jogo na fase de grupos da Copa do Mundo de 2022 no Catar, e já classificado para as oitavas de final, o Brasil enfrenta nesta sexta-feira (02/12) a seleção de Camarões no Estádio Lusail, localizado ao norte da capital Doha.
Representando um dos cinco países africanos, de um continente que tem mais de 50 nações, no evento esportivo, é possível conhecer Camarões e um pouco da África a partir da seleção que compete para tentar garantir uma vaga na próxima etapa do campeonato.
Conheça sete características sobre Camarões para compreender o perfil do último adversário da seleção brasileira no Grupo G da Copa do Mundo.
1. Etimologia de “Camarões”
Fazendo jus ao que lembra, o nome “Camarões” é referente ao crustáceo. A atribuição ocorreu por conta do país, que fica na costa oeste da África, possuir uma abundância de camarões que existiam nas águas que banham o local, principalmente no chamado rio Wouri, também conhecido como “Rio dos Camarões”.
2. Território e População
Com a capital Yaoundé, Camarões tem uma população de cerca de 27 milhões de habitantes (sendo quase quatro milhões na capital), em um território de 475 mil quilômetros quadrados, ocupados principalmente por florestas tropicais. Para comparação, seria por volta de duas vezes o estado brasileiro de São Paulo. Apesar da extensão territorial, a maioria da população camaronesa vive no litoral do país.
País colonizado principalmente pela Inglaterra e França, mas também dominado pela Alemanha e Portugal, tem como principais idiomas o inglês e francês, mas não descarta as línguas dos povos originários, como os Bacas – que vivem no sudeste do país, mas também nos vizinhos República do Congo, Gabão e República Centro-Africana.
Quando o assunto é expectativa de vida, em 2020, o número era de 60 anos, sendo 61 para mulheres e 58 para homens. Também para comparação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa no Brasil é de 77 anos.
3. Turismo
Segundo a Organização Mundial do Turismo, em 2019, Camarões recebeu cerca de um milhão de turistas, o que gerou uma receita de 681 milhões de euros. Antes da pandemia da covid-19, o turismo representava cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, mas, apesar da baixa estatística, Camarões tem uma certa dependência no setor, que apresentou queda de 36% a partir de 2020.
Turistas que visitam Camarões normalmente procuram conhecer o continente africano apresentados a praias, montanhas, florestas, desertos e savanas camaronesas.
4. Futebol
A Copa do Catar em 2022 é a oitava competição mundial da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) que a seleção de Camarões participa. Apesar de ainda não ter conquistado um título de campeão mundial, chegou às quartas de final em 1990 contra a Inglaterra.
No evento que ocorre até 18 de dezembro, Camarões tenta ser a terceira seleção africana a se classificar para as oitavas de final. Porém, quando as competições se concentram na África, a seleção camaronesa já conquistou cinco títulos na Copa Africana de Nações.
Além disso, carrega em sua história o nome de Samuel Eto'o, ex-jogador de futebol que fez 59 gols com a camisa camaronesa.
5. Política: há 40 anos no poder, Paul Biya
Em questões político-administrativas, Camarões vive sob um sistema semi-presidencialista, no qual o presidente nomeia um primeiro-ministro que será encarregado das responsabilidades políticas do país.
Instagram/Samuel Eto’o
Em último jogo da fase de grupos da Copa do Mundo de 2022, Brasil enfrenta seleção camaronesa
Desde 1982, o país africano tem como presidente Paul Biya, do Movimento Popular Democrático Camaronês (RDPC). Assim, desde a independência em 1960, Biya é apenas o segundo chefe de Estado de Camarões.
Chegando ao poder após ser aliado e premiê do primeiro presidente camaronês, Ahmadou Ahidjo, Biya tem características autoritárias e amplos poderes legislativos e judiciários. Em 2018, em meio a denúncias de fraude eleitoral, venceu mais uma eleição presidencial para um mandato de sete anos, que deve acabar em 2025.
Desde 2019, o primeiro-ministro do país é Joseph Ngute, envolvido em investigações sobre a má-administração de fundos durante a pandemia da covid-19.
Para a Copa do Mundo no Catar, nem Biya nem Ngute participarão do evento, tendo apenas enviado uma carta de incentivo à seleção do país.
6. Direitos Humanos e liberdade de imprensa
Com a política camaronesa respingando na seguridade dos direitos humanos no país, o Relatório Mundial de 2022 da Human Rights Watch (HRW) resume, sobre eventos de 2021, que “grupos armados e forças governamentais cometeram abusos dos direitos humanos, incluindo assassinatos em massa”.
Grande parte da falta de proteção civil em Camarões se deve aos conflitos armados entre regiões separatistas, principalmente em locais anglófonos e o governo. Segundo o relatório, ao menos quatro mil pessoas foram mortas por conta dos combates.
Em relação à LGBTfobia, a organização considera que o governo camaronês “restringiu a liberdade de expressão e associação, enquanto a perseguição sancionada pelo Estado contra lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) se intensificava”. Para além, a Constituição do país criminaliza “relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo” com até cinco anos de prisão.
Quando o assunto se volta para a desigualdade de gênero, o relatório identifica que, na sociedade camaronesa, “os homens são os chefes de família (artigo 213.º), os maridos têm o direito de escolher o local de residência (artigo 215.º), homens e mulheres não têm direitos iguais aos bens imóveis (artigo 1428.º) e os cônjuges não têm igual autoridade administrativa sobre os bens durante o casamento (artigos 1421.º e 1428.º)”. Além disso, reconhece que não há criminalização da violência doméstica.
Já no quesito trabalho da imprensa, Camarões tem uma emissora pública de radiodifusão – Rádio Televisão dos Camarões (CRTV Radiodiffusion-television du Cameroun), que trabalha ao lado de diversas emissoras privadas.
A organização Repórteres Sem Fronteiras identifica que o país africano tem um cenário midiático diversificado, com cerca de 500 veículos independentes. Os principais são: Le Messager, Le Jour, The Guardian Post, La Voix du Centre, Défis actuels e o diário estatal Cameroon Tribune.
Apesar da diversidade, a grande maioria dos jornais se alinham ao governo e sofrem autocensura por conta do Conselho Nacional de Comunicação (CNC), órgão regulador da mídia que tem todos os seus funcionários indicados pelo presidente Biya.
Com destaque para dois casos ocorridos em 2021: Paul Chouta e Emmanuel Mbombog Mbog Matip que foram presos durante dois anos por “difamação”.
7. Boko Haram: um país assombrado
Por fim, Camarões é marcado pela violência do grupo extremista islâmico Boko Haram. Em 2016, o governo declarou vitória sobre o grupo, porém a situação continua instável. De acordo com a HRW, em 2021, o grupo foi responsável por ataques na região do extremo norte do país, matando 80 pessoas.
O relatório também menciona que a suposta morte do líder Abubakar Shekau aumentou a instabilidade e insegurança na região.