A seleção brasileira chegou às oitavas de final da Copa do Mundo do Catar 2022, e a partir de agora todo jogo é eliminatório. O primeiro desafio dessa reta final de campeonato – e tomara que não seja o último – será contra a Coreia do Sul, em partida que acontecerá nesta segunda-feira (5/12), no Estádio 974, na localidade de Ras Abu Aboud, nos arredores de Doha.
Quando se pensa em Coreia do Sul, ao menos em termos geopolíticos, o que vêm à mente primeiro são os conflitos históricos com Japão e China, e mais recentemente com a vizinha Coreia do Norte – embora essa guerra tenha separado, nos últimos 70 anos, um povo que possui uma história em comum muitíssimo mais antiga, de mais de mil anos.
Já os mais jovens devem associar o país asiático com os fenômenos da música, do cinema e da televisão: as bandas de K-Pop que se instalaram como algumas das mais famosas do mundo atualmente, e os filmes e as séries que sustentam outro boom cultural coreano, o K-Cine.
Conheça sete aspectos importantes sobre a Coreia do Sul para saber quem é que estaremos enfrentando nesta fase decisiva da Copa.
1. Território e População
A Coreia do Sul é um país de 51,7 milhões de habitantes, segundo dados oficiais de 2021. É o 27º país do mundo nesse aspecto. 100,3 mil quilômetros quadrados. Sua capital é a cidade de Seul.
Se uníssemos as estatísticas das duas Coreias, teríamos um país com 77 milhões de habitantes, a 17ª maior população do mundo, superando a Turquia e ficando pouco atrás da Alemanha.
O território das Coreias unidas seria de 220 mil quilômetros quadrados, o que não é muito em comparação com outras nações da Ásia, mas que na Europa a colocaria entre os 15 maiores territórios – teria pouco menos que os 235 mil da Romênia, que é o 12º maior país europeu.
A única fronteira terrestre da Coreia do Sul é justamente com a Coreia do Norte – esta por sua vez, tem fronteiras terrestres com a China e a Rússia.
Mas ambas as Coreias têm relações tensas com países muito próximos com quem compartilham águas territoriais: Japão e China. Essas tensões não são novas, vem marcando a história do povo coreano a milhares de anos.
2. Reinos pré-históricos e as primeiras dinastias unificadas
Há milhares de anos, no território da península coreana, havia diferentes reinos, como Koguryo (ou Goguryeo), Silla, Baekje e Balhae, cuja história remonta a períodos antes de Cristo.
Podemos chamá-los de pré-históricos, não em alusão à Pré-História em si – embora alguns desses são descendentes de povos pré-históricos do período Neolítico – e sim como referência à história antes de haver uma história unida da Coreia.
A primeira dinastia que conseguiu unir os diferentes reinos em um só foi estabelecida por volta do ano 918 pelo imperador Taejo, e nasceu assim o Reino de Goryeo, ou Koryo. Esta palavra, que significa “alto e belo”, é a que evoluiria a sua pronúncia até termos a que conhecemos hoje: Coreia.
Os Koryo se manteriam no poder até 1392, quando se estabeleceu a Dinastia Joseon, que existiu até 1897, ano de fundação do Império Coreano. Este último não teve vida longa, já que, em 1910, a dominação japonesa do território coreano iniciou uma nova fase de submissão do povo coreano que só terminaria com a o final da Segunda Guerra Mundial.
3. Guerra da Coreia
Depois de cinco anos de governos militares provisórios após a Segunda Guerra Mundial, estourou uma guerra entre os territórios do Norte da península coreana, influenciados por China, União Soviética e pelos países do Leste Europeu, e os territórios do Sul, que eram apoiados militarmente pelos Estados Unidos e pelos países ocidentais da Europa.
Oficialmente, o conflito durou apenas três anos, até meados de 1953, mas as consequências dele estão vigentes até hoje, já que o território e o povo coreanos estão divididos até hoje entre a República da Coreia (do Sul) e a República Popular Democrática da Coreia (do Norte).
Estima-se que a quantidade de mortos no conflito tenha sido próxima a um milhão de soldados das diferentes forças, e mais de um milhão de civis de ambos os lados.
4. Coreia capitalista
A partir da separação das duas Coreias, elas passaram a ser alvo da propaganda dos países do bloco socialista, como um exemplo comparativo sobre qual seria o melhor regime, questão central em tempos de Guerra Fria.
A Coreia do Sul foi muito ajudada financeira e militarmente pelos Estados Unidos durante as últimas décadas, incluindo os governos que não foram tão democráticos quanto se supõe.
Apesar de não ter a fama de “ditadura”, dada pela imprensa hegemônica à sua vizinha do Norte, Seul desenvolveu seu modelo capitalista graças a décadas de governos militares, agitações políticas e golpes de Estado, liderados por presidentes autocráticos, como o general Park Chung-hee, que governou o país entre 1961 e 1979 – ano em que foi assassinado.
Ainda assim, não se pode negar que houve um grande crescimento da industrialização no Coreia, especialmente nos períodos de governos militares, levando algumas empresas coreanas a se destacarem em mercados como o automobilístico e o da telefonia celular.
O que não significa que a distribuição de renda no país também seja um modelo para o mundo. A Coreia do Sul é membro da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), e se posiciona entre os países que têm maior diferença de renda entre ricos e pobres dentro da entidade, com índices sociais similares aos latinos Chile e México, e muito atrás dos europeus e norte-americanos.
Parte dessa desigualdade social é claramente observável nos filmes coreanos, responsáveis por uma das grandes ondas culturais coreanas.
Twitter / KFA
Jogadores da seleção sul-coreana de futebol
5. K-Cine
O cinema coreano já dá o que falar no mundo desde o começo deste século. Películas como Oldboy (2002), de Park Chan-wook, e Casa Vazia (2004), de Kim Ki-duk, fizeram sucesso em circuitos alternativos, e o país manteve esse espaço por duas décadas.
Até que, em 2019, uma produção coreana rompeu um muro que parecia intransponível. O filme Parasita, de Bong Joon-ho conquistou o Oscar de Melhor Filme, se tornando a primeira obra em língua não inglesa a faturar essa categoria. Também ganhou os prêmios de Melhor Filme em Idioma Estrangeiro, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem e Melhor Direção de Arte, naquela mesma edição, sem contar as muitas premiações que colecionou em outros festivais.
A façanha de Parasita coroou o trabalho de Bong, um dos mais talentosos diretores coreanos, que já tinha uma filmografia com obras destacadas como Memórias de um Assassino (2003), O Hospedeiro (2006), Expresso do Amanhã (2013) e Okja (2017).
Essa vitória acabou criando um nome fantasia para o movimento de cineastas da Coreia do Sul: o K-Cine, parecido ao K-Pop da música, embora as produções do país não se restringissem apenas ao cinema.
Em 2021, a Coreia do Sul mostra o seu segundo sucesso audiovisual: a série Round 6, de Hwang Dong-hyuk, que se tornou, em poucas semanas, a série mais assistida da plataforma Netflix, com mais de 111 milhões de telespectadores.
6. K-Pop
O fenômeno cultural do K-Pop não é novo e houve um forte apoio financeiro do Estado para impulsionar as agências que produziram e difundiram os artistas que consolidaram essa posição.
As bandas e artistas solos da Coreia do Sul se estabeleceram como algumas das mais ouvidas em todo o Leste da Ásia desde o final dos anos 90 e início dos anos 2000. Nomes como o do trio de hip-hop DJ Doc e o da cantora Kown Bo-ah (BoA) chegaram inclusive a fazer algum sucesso no circuito alternativo de países de língua inglesa.
Em paralelo a isso, foram crescendo no começo dos anos 2000 o espaço para as primeiras boys e girls bands coreanas que ganharam as paradas no mundo inteiro. Ainda que seu sucesso fosse restrito a certos nichos da juventude, ele foi crescendo em proporções importantes desde então e até agora.
Ainda assim, o primeiro grande sucesso global da música coreana foi o do artista Psy, com seu “Gangnam Style”, de 2012. A música virou febre no mundo inteiro, e se colocou nos primeiros lugares das paradas em mais de 30 países.
Anos depois, os grupos pop adolescentes da Coreia também aumentaram significativamente seu sucesso nos rankings musicais do mundo inteiro, também com os conjuntos femininos, como o Red Velvet, mas principalmente graças às boys bands.
Nesse sentido, é impossível nas destacar o caso do BTS, que é talvez a banda pop de maior sucesso da atualidade, superando a muitos artistas de países do Ocidente. A prestigiada revista Billboard chegou a publicar um artigo comparando a idolatria gerada pelo grupo de jovens coreanos com a produzida pelos Beatles nos anos 60.
7. Seul 1988 e Copa de 2002
Nos esportes, a Coreia do Sul começou a se destacar a partir de 1988, após a realização dos Jogos Olímpicos em Seul, sua capital. Naquela edição dos jogos, o país conseguiu instalar uma nova modalidade na programação oficial do evento: o taekwondo, arte marcial originária do país.
O futebol da Coreia do Sul sempre foi um dos mais desenvolvidos da Ásia, conquistando duas vezes a Copa Asiática de Nações, em 1956 e 1960.
Porém, em Copas do Mundo, sua melhor performance foi na edição de 2002, quando foi uma das sedes do torneio, junto com o Japão. A seleção sul-coreana chegou à semifinal naquele ano, sendo eliminada pela Alemanha, em derrota por 1×0. Depois, perdeu a disputa do terceiro lugar para a Turquia, após derrota por 3×2.
Ainda assim, muitos analistas esportivos reclamam que aquele resultado contou com a ajuda de muitos erros de arbitragem, que permitiram que os coreanos eliminassem seleções fortes como a Itália e a Espanha, nas oitavas e nas quartas-de-final, respectivamente.
Nesta edição do Catar, a Coreia do Sul se classificou como a segunda colocada do Grupo H, atrás de Portugal e à frente de Gana e do Uruguai. Seu principal craque é o atacante Son Heung-min, de 30 anos.