Similar ao tênis, o badminton e o parabadminton são esportes de raquete que têm como objetivo, para marcar pontos, fazer a peteca cair na quadra do adversário. Sendo a modalidade de raquete mais rápida do mundo, também é o segundo esporte de raquete mais praticado.
Existente de forma oficial no Brasil desde 1984, o badminton não é um esporte mais conhecido, porém tem elevado seu número de praticantes desde as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. E é justamente nessa categoria que paratletas do Brasil, Peru, Colômbia, Índia, China, Inglaterra, Japão, Turquia, França, entre outros, competiram o V Campeonato Internacional de Parabadminton do Brasil, no Centro de Treinamento Paraolímpico Brasileiro, em São Paulo.
O campeonato encerra seu último dia de jogos neste domingo (16/04).
De 16 anos de idade, a peruana Rosa Velásquez é uma das esportistas que estava competindo. A Opera Mundi ela contou que começou a praticar o parabadminton em 2018, época que ainda era atleta de natação.
“Estava fazendo natação e sempre via na mochila do meu colega uma raquete, fiquei curiosa e perguntei. Ele falou do badminton e disse que um dia me levaria para conhecer. Chegando o dia, eu conheci tanto o convencional quanto o parabadminton, e gostei porque era muito diferente das outras modalidades”, disse.
Segundo ela, desde o momento que começou a praticar a modalidade, “não faria mais natação e ficaria no paradminton”.
Também representando o Peru, Andrea Castañeda, de 16 anos, afirmou que começou a trajetória no parabadminton no final de 2020, quando seu pai a chamou para conhecer um novo esporte. “Eu não queria, mas logo no começo eu gostei, e a partir disso comecei a treinar, participar dos torneios e ganhar medalhas no Parabadminton”, conta.
Em entrevista a Opera Mundi, as atletas também mencionam as dificuldades financeiras envolvidas na modalidade que escolherem. “Badminton é um esporte caro e há diferente gastos, como viagens, inscrição para os campeonatos, roupa, raquete e peteca. O Peru apoia diferentes paraesportes, mas precisamos pessoalmente arcar com os custos para vir competir também”, declarou Velásquez.
Para ambas as peruanas, “orgulho” é a palavra que define quando questionadas sobre o sentimento que têm em estar no Brasil representando o país andino no parabadminton.
Com rotinas de treino intensas e diárias, Velásquez e Castañeda têm expectativas de competir internacionalmente nos jogos Pan-Americanos do Chile em novembro deste ano e, possivelmente, nas paraolimpíadas de Paris em 2024.
Já a trajetória da norte-americana Jayci Simon, de 18 anos, é um pouco diferente em relação aos treinos, mas apresenta as mesmas dificuldades em relação ao apoio financeiro para praticar a modalidade. Ela contou estar sem treinador atualmente, se preparando sozinha na maioria das vezes.
Porém oportunidades como esta, no V Internacional de Parabadminton do Brasil, a permitem treinar com outras pessoas.
“Eu já praticava esportes contra pessoas com baixa estatura, mas eu não sabia da existência do Badminton. Fui recrutada e comecei a jogar em 2017, mas meu primeiro campeonato internacional foi em 2018”, conta a jovem que já passou pelo Peru, Colômbia, Suíça, Turquia, Canadá e Espanha para representar o esporte.
Ao falar sobre patrocínios e fundos em sua modalidade, Simon lamenta que os Estados Unidos poderiam fazer muito mais pelo parabadminton. “Eles não veem como valioso, então não temos nenhum fundo, por isso nós nos auto sustentamos aqui. Eu acho que se as pessoas na nossa federação fizessem algo pra lutar por nós, teríamos mais fundos”, completa.
Apesar das dificuldades, Simon, que está no Brasil pela primeira vez e não conseguiu conhecer a cidade de São Paulo, afirma que sua experiência tem sido “ótima” e que para ela “significa muito representar os Estados Unidos nessa competição, e espero que eu esteja representando bem”, conclui.
Duda Blumer
Paratleta peruana Rosa Velásquez compete na categoria dupla mista no Internacional de Parabadminton do Brasil
Opera Mundi também conversou com paratletas do Brasil. Uma delas é a Cris Lorenço, bicampeã brasileira e estadual de parabadminton. Ela começou a trajetória no esporte em 2020, quando estava enfrentando problemas de saúde, afirmando que “se encontrou” na modalidade que hoje representa o país no campeonato internacional.
Lourenço competiu durante esta semana tanto na categoria simples feminina, quanto na categoria dupla mista, com seu parceiro Fautino Saraiva. Ambos apresentaram jogos de alta performance durante o campeonato e têm em mente suas pontuações para as próximas competições.
Este foco na carreira não é necessariamente o objetivo de Renata Henrique. A paratleta brasileira conta que seu primeiro objetivo no campeonato é “honrar sua mãe” que sempre investiu nela, mas também aproveitar esta oportunidade única.
Migrante da paranatação, Henrique afirma que, diferente dos colegas, quando conheceu o parabadminton, não gostou da modalidade: “retornei após a pandemia, quando falaram que o esporte já tinha se desenvolvido no Brasil e tinha um certo suporte. Há quatro meses iniciei os treinos de vez e estou há um mês com o treino mais avançado”, afirmou.
Apesar das diferenças nos objetivos durante o campeonato, Henrique, juntamente com Lourenço e Saraiva, concordam quando o assunto são as dificuldades de levar o parabdminton como carreira e realizar treinos profissionais, considerando a falta de patrocínios privados ou fundos governamentais.
Essa é a realidade de Lourenço, que além de paratleta, também trabalha como empresária e enfrenta as dificuldades de não saber se vai conseguir competir em outros campeonatos internacionais pela falta de condições financeiras em arcar com os custos da viagem.
Para além, os atletas também mencionam a falta de oportunidade que o esportista brasileiro vive em comparação com os estrangeiros.
“Um atleta iniciante deles é um atleta que treina há três anos aqui no Brasil”, lamentam. Outro ponto mencionado pode parecer simples, mas como esportistas, sentem que faz muita diferença: “eles têm torcida e a gente não têm. Se esse campeonato é aqui no Brasil, por que as pessoas não torcem pela gente?”, questionaram.
Ainda que as dificuldades sejam grandes, os paratletas brasileiros apreciam a oportunidade de jogar com pessoas de outros países: “aqui estamos disputando e aprendendo com os melhores. Eles apresentam um nível muito bom e totalmente diferente de competições nacionais. É muito gratificante essa oportunidade, nos permite alçar voos mais altos”.
Informações gerais sobre o Internacional de Parabadminton do Brasil
O Internacional de Parabadminton do Brasil é um torneio organizado pela Badminton World Federation (BWF) junto a Confederação Brasileira de Badminton (CBBd).
Apresentando seis categorias de jogo, a competição contempla, majoritariamente deficiências físicas, sendo: WH1 – Cadeirantes que não possuem um bom controle do troco; WH2 – Cadeirantes que possuem um maior controle do tronco; SL3 – pessoas que tem amputação acima do joelho ou são bi-amputados abaixo do joelho ou tem paralisia cerebral severa; SL4 – pessoas com amputação abaixo do joelho ou paralisia cerebral menos severa; SU5 – pessoas com ausência total ou parcial de um dos membros superiores ou alguma deficiência que não lhes permita ter controle dos movimentos de um dos braços; SH6 – baixa estatura ou nanismo.
Os grupos são formados por sorteios e, a partir deste, já se tem um “caminho” até as finais. Os atletas que se classificam em primeiro ou segundo nos seus grupos vão para as fases de jogos eliminatórios, que são quartas de final, semifinal e final.
As disputas, para este torneio e para todos os demais de badminton e parabadminton, são nas modalidades: simples masculino, simples feminina, duplas masculinas, duplas femininas e duplas mistas.
A formação de duplas pode ser combinada previamente por técnicos e atletas ou realizada na hora do Congresso Técnico, que é uma reunião entre os oficiais da organização e os treinadores.
Cada torneio internacional como este conta pontos para o ranking da BWF. Este ranking é quem determina os paratletas que estarão classificados para competições como os Jogos Olímpicos.
Andrea Castañeda e sua dupla masculina canadense; Cris Lourenço e Fautino Saraiva se preparam para competir na categoria de duplas mistas/ Crédito: Duda Blumer
(*) Informações concedidas a Opera Mundi por Fabio Rocha, treinador e professor de Badmintone e Parabadminton.