Oito medalhas de ouro olímpicas conquistadas em apenas oito dias. Em agosto de 2008, o Cubo d’Água, centro aquático dos Jogos Olímpicos de Pequim, foi palco para o nadador norte-americano Michael Phelps e uma das maiores performances individuais da história do esporte. O atleta venceu todas as provas que disputou e, em sete delas, quebrou recordes mundiais.
Nascido em 30 de junho de 1985 em Baltimore, Phelps começou a nadar aos 7 anos, estimulado por suas irmãs, Hilary e Whitney, esta última campeã dos Estados Unidos nos 200 metros borboleta em 1994.
Aos 11 anos, Michael se encontrou com o técnico Bow Bowman, que logo percebeu as qualidades natas do garoto. Treinando-o no North Baltimore Aquatic Club, virou uma espécie de segundo pai para o menino, uma vez que com seu pai biológico, um policial aposentado, mantinha uma relação distante da família desde que se divorciou litigiosamente da mãe de Michael.
Com apenas 15 anos, em 2000, Phelps participou dos Jogos Olímpicos de Sydney, na Austrália. O jovem nadador chegou à final olímpica nos 200 metros borboleta, alcançando o quinto lugar. Em 2001, com 16 anos, venceu seu primeiro título: ouro nos 200 metros borboleta no Mundial de Fukuoka, no Japão. O então adolescente estabeleceu um novo recorde mundial para a prova, com 1:54,58 minuto, e se transformou no recordista mais precoce da história.
Em 2003, já com 18 anos, bateu na menos que oito recordes mundiais em 41 dias. Naquele ano, apenas no Mundial de Barcelona, venceu três medalhas de ouro, com recordes mundiais nas provas de 200 metros borboleta (1:53,93 minuto); 200 metros quatro estilos (1.56,04 minuto) e 400 metros quatro estilos (4:09,09 minutos).
“Bala de Baltimore”, “Menino Prodígio”, “Tubarão de Baltimore”. Não foram poucos os elogios da imprensa ao jovem atleta que, rapidamente, ganhou muita popularidade, apontado como o nadador de maior projeção da história.
Tudo em torno de Phelps era alvo máquina publicitária. A imprensa cobria, maravilhada, seu café da manha: três sanduíches de ovos fritos mais queijo, alface, tomate, cebolas fritas e maionese, um omelete de 5 ovos, um prato de sêmola de milho, três fatias de torrada cobertas com açúcar refinado, três panquecas com gotas de chocolate e duas taças de café. Segundo os médicos, Phelps precisava de 7.000 calorias diárias para repor as energias despendidas nos treinamentos.
As refeições não eram o bastante para saciar o apetite de Phelps, um homem com envergadura de 2,04 metros e pés tamanho 48, que funcionavam como “nadadeiras” na água, seu habitat natural. O mais interessante sobre o físico de Phelps é que, enquanto media 1,93m de altura, o comprimento de sua perna era de exatos 82 centímetros. Da cintura para baixo, Phelps media como se tivesse 1,78 de altura.
Em 2004, nos Jogos Olímpicos de Atenas, conquistou ouro nos 100 metros borboleta (51,25 segundos); 200 metros borboleta; 200 metros 4 estilos; 400 metros 4 estilos; revezamento 4 x 200 metros 4 estilos e revezamento 4 x 100 metros 4 estilos, prova que não competiu na final, porém ganhou o direito à medalha por ter participado e vencido nas semifinais. Além disso, ganhou dois bronzes: 200 metros 4 estilos e 4 x 100 metros livres.
Até então, somente um atleta na história dos Jogos Olímpicos havia vencido oito medalhas em uma mesma olimpíada: o soviético Alexander Dityatin, na ginástica artística (3 de ouro, 4 de prata e 1 de bronze), em Moscou, 1980. Com os 6 ouros, Phelps ficou a uma medalha de alcançar o compatriota Mark Spitz, que, no entanto, teve um calendário menos complicado e competiu somente nos estilos livre e borboleta, similares tecnicamente, e, ademais, nos 100 e 200 metros, provas virtualmente idênticas. Além disso, Spitz ganhou três ouros nos revezamentos, numa época em que os quartetos norte-americanos eram invencíveis.
Em Atenas, Phelps nadou os quatro estilos, em distâncias que vão dos 100 aos 400 metros. Nos revezamentos, só conquistou duas medalhas de ouro. O processo para chegar à final também foi mais intenso, uma vez que Spitz só competiu em 14 provas em 8 dias, enquanto Phelps teve de nadar em 19. No dia 19 de agosto de 2004, apenas 20 minutos depois de superar o recorde dos 100 metros borboleta nas semifinais, Phelps ganhava a final dos 200 metros medley.
Nos Jogos Olímpicos de Pequim, 2008, Michael Phelps chegou como uma das maiores estrelas do evento. Focado na competição, evitou a cerimônia de abertura, manteve-se afastado da piscina de treinamento, e passou a maior parte do tempo na Vila Olímpica com colegas da equipe de natação.
Phelps já havia conquistado a medalha de ouro, batendo recordes mundiais nas provas de 400 metros medley individual, no revezamento 4×100 estilo livre, nos 200 metros livres, nos 200 metros borboleta – seu quarto ouro nesses Jogos e sua 10ª medalha de ouro, fazendo dele o atleta que mais medalhas de ouro conquistou em toda a história olímpica – e no revezamento 4×200 livre, quando, em 16 de agosto, a organização da competição o deixou com 9 minutos de diferença entre a cerimônia de entrega de medalhas para os 200 metros medley individual e a semifinal dos 100 metros borboleta. Recebida a medalha, atirou, como de hábito, as flores para sua mãe que estava na arquibancada e partiu para mais uma prova, após rápido exercício respiratório.
Na final da prova, o maior desafio de Phelps era o sérvio Milorad Cavic, o qual havia declarado que só poderia ser considerado um bom nadador se conseguisse derrotar o norte-americano.
Os dois estavam lado a lado nos blocos de partida e, após uma fraca saída de Phelps, parecia que Cavic poderia alcançar o quase impossível. Logo atingem a borda oposta e partem para os 50 metros finais. Phelps seguia atrás de Cavic nos 99,9 metros de uma prova de 100 metros, mantendo porém o instinto, a lucidez e a motivação, a fim de que, no derradeiro instante, momento final, enquanto Cavic deslizava em direção à borda já comemorando antecipadamente o ouro, se esticasse todo e com seus 2,04 metros de envergadura, tocasse antes por uma fração de décimo de segundo a última borda.
O cronômetro eletrônico confirmou que Phelps tocara a parede um centésimo de segundo à frente do sérvio. A equipe de Cavic apresentou recurso, alegando que Phelps ao tocar a corda que separa as raias, provocara uma onda que bateu na placa sensível ao tato. Recurso negado: o relógio só podia ser interrompido por um toque humano.
A oitava medalha de ouro foi conquistada no revezamento 4×100 medley. Phelps foi o terceiro homem – borboleta novamente – e registrou um tempo acima de um segundo mais rápido que seu competidor mais próximo. Quando Jason Lezak saltou para os derradeiros 100 metros, nado livre, tudo fazia crer que a vitória estava garantida.
Nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2 de agosto de 2012, o norte-americano conseguiu sua 20ª medalha olímpica, ao vencer a prova de 200 metros medley, e se tornou o primeiro nadador a ganhar a mesma prova em 3 olimpíadas diferentes, fato que se repetiria nos 100 metros borboleta. Em 4 de agosto, sua última medalha de ouro em Jogos Olímpicos foi no revezamento 4×100 quatro estilos.
Em maio de 2014, venceu a medalha de ouro do GP de Charlotte, nos EUA. Após uma suspensão de seis meses, voltou às piscinas em abril de 2015 para, no GP de Mesa, nos EUA. Em 2016, no Rio de Janeiro, Phelps voltou a surpreender: ganhou outras seis medalhas – cinco de ouro e uma de prata. Depois das Olimpíadas do Brasil, com 28 medalhas no total no peito, o nadador se aposentou.
*A série Grandes Momentos Olímpicos foi concebida e escrita no ano de 2015 pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.