Grande mestre da língua francesa, Pierre Corneille, a maior expressão do teatro clássico – o do “Grande Século”, o século 17 – que se definia pela célebre regra das três unidades (duração, ação e lugar) morre em 1º de outubro de 1684, em Paris.
É conhecido, sobretudo, por suas tragédias como “Le Cid”, “Cinna ou a Clémence d'Auguste”, “Polyeucte”… Mas era também um excelente autor de comédias – “L'Illusion comique”, “Le Menteur”… – como seu sucessor, Molière.
Nascido em 6 de junho de 1606, no seio de uma família burguesa de um Diretor de Águas e Florestas, Corneille foi destinado logo cedo ao Direito. Dá início à carreira de advogado ao mesmo tempo em que fazia encenar suas peças em Paris pelo célebre ator Mondory, fundador do Teatro do Marais.
A primeira peça, intitulada “Mélite ou Les fausses lettres” (1629), lhe foi inspirada pelas próprias aventuras amorosas. Consistia numa tragicomédia de gosto espanhol, então de moda.
Cedendo ao gosto do público, Corneille escreve uma tragédia, “Médée”, em 1635, retornando alguns meses depois à comédia com “L'Illusion comique”. O poderoso cardeal Richelieu acaba por notá-lo e o convida a formar com Boisrobert, Colletet, Estoile e Rotrou a Sociedade dos Cinco Autores, com vistas a escrever comédias baseadas em suas próprias ideias.
Ocorre que o primeiro-ministro do rei Luís XIII não se contentava em ser apenas um hábil político. Era também um homem de Estado consciente que a Cultura era um elemento chave na coesão nacional e no prestígio da monarquia. Ao mesmo tempo em que ajudava os autores de comédias, funda a Academia Francesa, onde se encontrariam ilustres escritores a cultivadores do idioma.
1637 marca uma guinada na carreira de Corneille. Era o “Ano da Corbie”, segundo o nome de uma fortaleza da província de Somme sitiada pelos espanhóis e depois libertada pelo exército francês. Esta vitória inesperada sobreveio quando a França acabava de se envolver na Guerra de Trinta Anos.
Corneille, sempre sintonizado com o público, faz encenar no Teatro do Marais o que marcaria sua obra mais conhecida, “Le Cid”. A trama se desenrola na Espanha: um jovem nobre, Rodrigue, é instado por seu pai a vingá-lo de uma ofensa infligida pelo pai de sua noiva, Chimène. Dividido entre a honra e o amor, entre o dever e a paixão, o jovem sairia com sorte desse dilema, situação pouco depois associada ao adjetivo ‘corneliano’.
A peça obtém um triunfo estrondoso. O rei, em sinal de reconhecimento, concede a condição de nobre não ao autor e sim a seu pai. Desconcertado, o dramaturgo resolve alardear bem ostensivamente seu sucesso, daí decorrendo a fúria de seus rivais que acusam Corneille de plágio e de traição.
O dramaturgo, com efeito, inspirou-se numa peça do espanhol Guillen de Castro e não teve escrúpulos de ridicularizar a “regra das três unidades” que regia o teatro clássico de sua época: unidade de ação; unidade de tempo (a ação deveria desenrolar-se em uma só jornada); unidade de lugar.
Querela
Não menos de 40 folhetos são publicados contra e a favor de “Le Cid”. A querela do “Cid” teve fim com a intervenção do cardeal, que pediu à Academia Francesa se constituir em tribunal de honra.
Essa querela do ano 1637 marcaria para a posteridade como sendo o “Ano do Cid”. Todavia, não se deve esquecer que, no mesmo ano, saía, em Haia, Holanda, uma publicação igualmente imortal: “O Discurso do Método”, de Rene Descartes.
Corneille, que se tornara “O Grande Corneille”, prosseguiu na carreira de sucesso enquanto levava uma existência tranquila de burguês em ‘robe de chambre’. Casou-se em 1640 e sua mulher lhe daria seis filhos.
O cardeal Mazarin, que sucedeu a Richelieu em 1642 à frente do governo, renovou a proteção a Corneille. Porém, os primeiros reveses sobrevêm nos anos 1650. Em 1662, resolve deixar Rouen e mudar-se para Paris a fim de sustentar sua reputação de grande dramaturgo da tragédia.
Contudo, o golpe de misericórdia a sua aura de trágico ocorreu em novembro de 1670 com a representação de Bérénice por um jovem ator, Jean Racine, 33 anos mais jovem que Corneille. O público se envolveu numa nova querela literária. Foram contrapostos os heróis racinianos, vencidos por suas paixões, aos seus homólogos conelianos. Dessa disputa, a última, o velho Corneille sai perdendo. No entanto, teve a felicidade de assistir em 1682, pouco antes de sua morte, a uma remontagem triunfal de “Andromède”.
Injustamente esquecido, o “Grande Corneille” bem que merecia ser comparado a Shakespeare. Fino observador da natureza humana, destacou-se, como o bardo inglês, em todos os gêneros da dramaturgia.
Também nesta data:
1791 – Primeira sessão da Assembleia Nacional francesa
1814 – Abertura do Congresso de Viena
1918 – Comandadas por “Lawrence da Arábia”, tropas árabes tomam Damasco dos turcos
1936 – Franco assume comando de governo nacionalista na Espanha
1944 – Nazistas iniciam experiências de castração em gays nos campos de concentração
1949 – Mao Tsé-Tung proclama a República Popular da China
1982 – Helmut Kohl assume cargo de chanceler da Alemanha
1987 – Dinamarca torna-se primeiro país a legalizar união civil para pessoas do mesmo sexo
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 201