Caiu como uma bomba a notícia – transmitida no dia 13 de outubro de 1943 – de que o governo da Itália havia declarado guerra contra seu ex-aliado e parceiro do Eixo, a Alemanha nazista, juntando-se aos aliados na luta contra a Wehrmacht.
Quando Benito Mussolini regressou a Roma depois de mais um encontro com Adolf Hitler, em 19 de julho daquele ano, viu um cenário muito pior do que os destroços deixados pelo primeiro ataque aéreo dos aliados contra a capital italiana.
Líderes fascistas rebeldes, encabeçados por Dino Grandi, Giuseppe Bottai e conde Ciano, seu genro, exigiram a convocação do Grande Conselho Fascista, que não se reunia desde dezembro de 1939.
O ‘Duce’ foi alvo de violentas críticas pelo desastre que ocasionara ao país e, por 19 votos a 8, foi aprovada uma resolução exigindo a restauração da monarquia constitucional com um parlamento democrático. Determinava também que o comando das Forças Armadas fosse restituído ao rei.
Na noite de 25 de julho, Mussolini foi chamado ao palácio real pelo rei Vittorio Emmanuelle. Lá, foi sumariamente destituído de seu cargo e conduzido preso em uma ambulância para um posto policial.
Paola Orlovas
Nem um só tiro foi disparado – nem mesmo por parte da milícia fascista – para salvá-lo
O rei não poupou tempo para trazê-lo de volta à realidade: “Meu caro Duce, nada mais adianta. A Itália está desmantelada. Os soldados não querem mais lutar. Nesse momento, és o homem mais odiado da Itália”, afirmou.
Nem um só tiro foi disparado – nem mesmo por parte da milícia fascista – para salvá-lo. Houve, ao contrário, júbilo geral, e o próprio fascismo caiu por terra com o seu fundador.
Roma, cidade aberta
Com a deposição de Mussolini, assume seu lugar o marechal Pietro Badoglio, seu antigo chefe do estado-maior. O marechal formou um governo apartidário, de generais e civis. O partido fascista foi dissolvido, os fascistas afastados dos postos-chave e os antifascistas postos em liberdade.
Badoglio iniciou então negociações com o general Eisenhower, tendo em vista uma rendição condicional da Itália aos Aliados, que se tornou realidade com a permissão do governo italiano, em 8 de setembro, dada às tropas aliadas de se estabelecerem em Salerno no sul do país, fundamental para empurrar os alemães para o norte.
Os alemães também partiram para a ação. A partir do momento em que começou a vacilar, Hitler planejou invadir a Itália para impedir que as tropas aliadas ganhassem uma base de operação que permitisse alcançar facilmente a região balcânica ocupada pelos nazistas.
No dia da rendição da Itália, Hitler resolve lançar a operação “Axis”, destinada a ocupar a península. Assim que as tropas alemãs entraram em Roma, o marechal Badoglio e a família real escaparam para Brindisi, ao sudeste, onde estabeleceram o governo.
Em 13 de outubro, Badoglio pôs em marcha o passo seguinte de seu acordo com Eisenhower: declarou guerra ao seu antigo parceiro e dispôs-se a cooperar totalmente com o que restava das forças italianas a fim de expulsar os invasores de Roma.
A operação foi extremamente lenta, descrita por um general britânico como “uma escalada morro acima”: tempo ruim, cálculos errôneos, consolidação de posição de cada região capturada esperando a junção das tropas, fizeram do avanço sobre Roma uma eternidade. Declarada Roma cidade aberta, salvaram-se os tesouros artísticos ali existentes e libertou-se a Itália do fascismo.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.