O rei Alexandre I da Iugoslávia é assassinado em Marselha em 9 de outubro de 1934 por um terrorista croata. O ministro francês de Relações Exteriores, Louis Barthou, que tinha vindo recebê-lo ao descer do navio, acabou mortalmente ferido no atentado.
Esse drama revelava a debilidade da Iugoslávia e de outros Estados multinacionais criados com a decomposição da Áustria-Hungria e do império turco. Era o momento histórico em que se instalava em Berlim o regime belicoso de Hitler.
Louis Barthou, 72 anos, chegou ao “quai d’Orsay”, local onde fica e como é conhecido o ministério francês de Relações Exteriores, após os distúrbios de 6 de fevereiro de 1934, quando teve lugar uma manifestação antiparlamentar organizada por diversos grupos de direita e a Liga de extrema-direita, que logo se transformou em motim na praça da Concórdia. Com razão, se inquietava com a ascensão de Hitler ao poder.
Tendo em vista frear sua influência, ele tenta uma reaproximação entre a França e os pequenos estados da Europa Central. Visita o rei Carol da Romênia e depois estende um convite ao rei Alexandre I, que havia sucedido em 1921 a seu pai Pedro I Karageorgévitch no trono da Iugoslávia.
Confrontado com as dissensões crescentes entre os sérvios, croatas e eslovenos, o jovem rei suspendeu as garantias da Constituição em 1929, forçando diversos opositores ao exílio. Entre eles o deputado croata Ante Pavelic, que funda em Roma um movimento terrorista, os “Oustachis” (insurgentes, em sérvio-croata) com o objetivo de lutar contra a hegemonia sérvia e o poder ditatorial do rei.
O rei Alexandre I chega a Marselha de navio, envolto numa atmosfera festiva. Às 16h, é recebido ao pé da passarela pelo ministro e, sob as câmeras de uma nuvem de jornalistas, sobem numa viatura a fim de depositar flores diante de um monumento patriótico, jantar na prefeitura para, por fim, tomar um trem em direção a Paris, onde os esperava o presidente do Conselho, Gaston Doumergue e o presidente da República Albert Lebrun, que havia sucedido a Paul Doumer, assassinado dois anos antes.
A viatura oficial se desloca a pequena velocidade pela Canebière, a principal artéria da cidade, em meio a uma multidão densa e entusiasmada. Não tinha andado mais de 300 metros quando um homem rompe a proteção policial, por sinal bastante escassa, e se joga sobre o automóvel gritando “Viva o rei!”.
Paola Orlovas
Rei Alexandre I da Iugoslávia é assassinado em Marselha em 9 de outubro de 1934 por um terrorista croata
Tomando a todos de surpresa, atira contra os passageiros. O rei, atingido por diversas balas, tomba sobre o banco. Fere igualmente um general que estava as suas costas na viatura. De pronto, instala-se uma confusão generalizada.
O assassino descarrega a arma em seu redor, atingindo diversas pessoas, antes dele mesmo ser atingido por múltiplas balas e o sabre de um oficial a cavalo. Os policiais da escolta, cedendo ao pânico, atiram em todas as direções. Muitas pessoas são alvejadas, dentre as quais quatro morreriam em decorrência dos ferimentos.
O rei agonizante é transportado a toda a velocidade à prefeitura onde chega morto. Ao mesmo tempo, seu anfitrião Louis Barthou, atingido por uma bala perdida, presumivelmente disparada por um policial, e por golpes de sabre, pôde ser conduzido por um policial a uma viatura da escolta e levado ao hospital. Tarde demais. Esvaindo-se em sangue, perde consciência e morre antes que os cirurgiões pudessem intervir.
O assassino, Petrus Kelemen, também conhecido por Vlado Tchernozemski, 37 anos, parecia ser um terrorista oustachi. Morre nos minutos que se seguem ao atentado. Todo a tragédia se desenrolou em menos de uma hora desde o acostamento do navio no cais dos belgas.
O atentado ao rei Alexandre I e a morte de Louis Barthou assestaram um golpe gravíssimo ao sistema de segurança coletiva consecutivo ao Tratado de Versalhes.
Pierre Laval, que sucedeu Barthou no ministério de Relações Exteriores, retoma por sua conta a ideia de uma segurança coletiva em relação à Alemanha. Viaja à Itália para se encontrar com Mussolini, depois a Moscou para dialogar com Joseph Stálin. A invasão da Etiópia pela Itália fascista iria colocar por terra sua iniciativa.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.