No dia 13 de abril de 1943, uma rádio alemã anuncia a descoberta de um cemitério clandestino na floresta de Katyn, perto de Smolensk, entre a Polônia e a Bielorússia. Lá repousavam os restos mortais de mais de quatro mil oficiais poloneses supostamente executados por tropas soviéticas durante a ocupação da parte oriental do país, entre 1939 e 1940. Durante várias décadas, a União Soviética acusaria os nazistas de terem praticado o massacre.
A maioria dos jovens oficiais poloneses estava trajando uniforme e fora abatida com balas na nuca. As descobertas se multiplicariam nos primeiros dias de abril daquele ano. O governo de Stalin negou imediatamente a responsabilidade sobre o ocorrido, lembrando que Goebbels declarara que, em 1940, os judeus da URSS haviam executado milhares de oficiais poloneses.
Dois dias depois, o chefe do governo polonês no exílio, general Wladislaw Sikorski, confirma publicamente a afirmação de Goebbels sem revelar qualquer indício. Sikorski pede já no dia seguinte uma investigação pela Cruz Vermelha Internacional. Stalin, irritado, rompe relações diplomáticas em 23 de abril. Churchill, que precisava de Stalin para combater Hitler, trata de se desfazer desse problema. Felizmente para o primeiro-ministro britânico, o intransigente Sikorski morre num acidente de avião em Gibraltar, em 4 de julho daquele mesmo ano.
A fim de debilitar o governo polonês, Stalin cria em 31 de dezembro um Comitê de Libertação Nacional composto, em sua maioria, por comunistas poloneses, que mais tarde seria conhecido como Comitê de Lublin. Esse grupo aceita sem hesitar a versão soviética sobre os massacres de Katyn.
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Durante várias décadas, a União Soviética acusaria os nazistas de terem praticado o massacre
Em maio de 1943, uma comissão da Cruz Vermelha conduz uma investigação “in loco” com a ajuda diligente dos alemães. Chega à conclusão irrefutável que os massacres foram cometidos em abril e maio de 1940, no momento em que os soviéticos ocupavam a região. Preocupada em não alimentar a propaganda nazista, a Cruz Vermelha guardou segredo sobre o relatório.
Viria à tona posteriormente que, a partir de março de 1940, homens da NKVD, polícia política soviética, haviam recebido do Politburo ordem de executar os poloneses considerados colaboradores do nazismo como meio de reforçar a segurança na fronteira ocidental da União Soviética.
Desta forma, milhares de oficiais extraídos do campo de prisioneiros de Kozielsk foram executados em Katyn. Calcula-se em 22 mil o número de militares sumariamente executados em várias etapas na zona ocupada pelos soviéticos.
Durante vários decênios, os soviéticos e o governo comunista de Varsóvia iriam tentar, contra ventos e marés, apagar a lembrança de Katyn, chegando a erigir como símbolo da barbárie nazista, um lugarejo homônimo arrasado pelos nazistas.
Teve de se esperar o fim da Guerra Fria e o ano de 1990 para que Mikhaïl Gorbachev reconhecesse, afinal, a responsabilidade dos soviéticos. Em 26 de outubro de 2010, a Duma, câmara baixa do parlamento russo, aprovou por 342 votos a 108, a resolução de que as provas documentais mostram que Stalin ordenou diretamente o massacre.
O Partido Comunista da Federação Russa se opôs fortemente à resolução, pois não admitia o envolvimento da polícia secreta soviética no massacre, continuando a sustentar a tese de que os alemães, que invadiram a região em 1941, tinham sido os responsáveis pelo crime. Os defensores da versão soviética argumentam que os documentos apresentados na década de 1990 eram falsos e foram fabricados por forças hostis à URSS para desacreditar o regime soviético. Há, em favor dessa versão, o parecer de um perito criminal que demonstra a utilização de duas máquinas de escrever diferentes na confecção do ofício 794/b, de março de 1940, no qual consta a decisão do Politburo pela execução dos poloneses.
Também nesse dia:
1964 – Sidney Poitier é o primeiro ator negro a ganhar o Oscar de Melhor Ator
1695 – Morre o autor de fábulas La Fontaine
1919 – Explode o massacre de Amristar contra o colonialismo britânico na Índia
1975 – Eclode a Guerra Civil no Líbano
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.