O general George Smith Patton era amado e odiado pelos seus soldados. Amado por tratar-se de um guerreiro e estrategista nato; odiado pelo fato de ser rígido ao ponto de não admitir que seus soldados sofressem fadiga de batalha. Patton também era famoso por não ter papas na língua, o que lhe causou muitos problemas.
No dia 22 de setembro de 1945, em uma coletiva aos correspondentes da Segunda Guerra, o general diz que não via necessidade nessa “coisa de desnazificação” e compara a controvérsia sobre o nazismo a uma “luta eleitoral entre democratas e republicanos”. Uma vez mais, Patton metia os pés pelas mãos —seria a última.
Descendente de uma longa linhagem de militares, Patton graduou-se na Academia Militar de West Point em 1909 e serviu no Corpo de Tanques durante a Primeira Guerra Mundial. Como resultado dessa experiência, tornou-se um entusiasta defensor da Guerra de blindados.
Durante a Segunda Guerra Mundial, como comandante do 7º Exército, capturou Palermo, Sicília, em 1943 exatamente por esse meio. A audácia de Patton tornou-se evidente em 1944, quando, como comandante do 3º Exército, invadiu boa parte do norte da França valendo-se de estratégia pouco ortodoxa e implacável.
Era um homem cheio de extravagâncias: falava francês, fazia poesias e gostava de desenhar seus uniformes, usava uma pistola Colt 45 com cabo revestido de marfim e suas iniciais gravadas em preto. Acreditava em reencarnação. Jurava ter lutado em Troia, tomado parte das legiões romanas de Júlio César contra Vercingetórix, ter sido o comandante cartaginês Aníbal e ter participado das guerras napoleônicas.
A língua ferina de Patton, no entanto, provou-se tão perigosa para a sua carreira quanto os alemães. Quando repreendeu e estapeou um soldado hospitalizado, diagnosticado com neurose de Guerra, a quem acusou de “se fazer de doente”, Patton teve sua cabeça pedida pela imprensa. O general pensou que seria retirado da ativa, não fosse a intervenção dos generais Dwight Eisenhower e George Marshall. Após meses de inatividade, voltou ao campo de batalha.
Paola Orlovas
Patton metia os pés pelas mãos pela última vez ao dizer que não via necessidade nessa ‘coisa de desnazificação’
De fato, na Batalha da Bélgica, durante a qual foi bem-sucedido em empregar uma estratégia complexa e engenhosa, conseguiu contornar o avanço alemão em Bastogne, empreendendo uma contra-ofensiva, empurrando os germânicos para leste cruzando o Reno até atingir a Tchecoslováquia.
Patton teve mais uma chance de exibir sua astúcia na Batalha das Ardenas, na fronteira da Bélgica com a Alemanha. Durante cinco dias, os alemães isolaram 18 mil soldados americanos na cidade de Bastogne. Patton foi convocado para salvá-los. Em apenas três dias, resgatou os compatriotas.
O destino seguinte era o coração da própria Alemanha. Quando cruzou o Reno, Patton violou novamente ordens que proibiam o 3º Exército de atravessar o rio. Uma noite, ouvindo uma transmissão da BBC, escutou um discurso de Churchill atribuindo ao britânico General Montgomery a façanha de ser o primeiro militar a atingir o Reno. Patton enfureceu-se e, diante dos auxiliares, arriou as calças e urinou no Reno gritando: Eu fui o primeiro!
Patton possuía muitos dons, contudo a diplomacia não era um deles. Após a Guerra, estacionado na Alemanha, criticou o processo de “desnazificação” e a remoção de antigos membros do partido nazista de posições políticas administrativas e governamentais.
No entanto, as declarações politicamente incorretas resultaram na sua destituição do cargo de comandante dos Estados Unidos na Baviera. Foi transferido para o 15º Agrupamento, como forma de punição, o que marcou o fim de sua participação na Segunda Guerra. Em dezembro de 1945 quebrou o pescoço em um acidente de carro que o deixou tetraplégico, vindo a falecer menos de duas semanas depois, aos 60 anos.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.