Sexta-feira, 18 de abril de 2025
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Em 17 de outubro de 1968, o Comitê Olímpio Internacional anunciou medidas para punir os medalhistas de ouro olímpico, Tommie Smith, e o de bronze, John Carlos, nos 200 metros rasos, por levantaram seus punhos numa saudação “Black Power” durante a cerimônia de entrega das medalhas. A fotografia da agência de notícias Associated Press da cerimônia é uma das mais familiares e duradouras imagens de uma era tumultuada. 

Numa coletiva de imprensa no dia seguinte, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Avery Brundage, deplorou a atitude dos atletas, uma “postura ultrajante” que viola “os princípios básicos dos Jogos Olímpicos”, afirmou.

Em 16 de outubro, Smith e Carlos terminaram em primeiro e terceiro lugar nos 200 metros nos Jogos Olímpicos do México. Smith estabeleceu um novo recorde mundial: 19 minutos e 83 segundos.

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Anteriormente, ambos os atletas participavam de um grupo chamado de Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos, que tentava estimular os atletas afro-americanos a boicotar os jogos. “Mesmo que você ganhe uma medalha”, dizia Carlos, “isto não vai ajudar sua mamãe, nem vai ajudar sua irmã ou suas crianças. Lhe dará 15 minutos de fama, mas e o resto de sua vida?”

Durante a cerimônia de entrega das medalhas, Smith e Carlos subiram ao pódio trazendo uma insígnia do Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos sobre seus agasalhos desportivos. O segundo colocado na corrida, um atleta brancos australiano, apoiou o protesto usando o mesmo agasalho. Descalços, os atletas simbolizavam a pobreza que aflige os negros norte-americanos.

Carlos dedicou a vitória “para aquelas pessoas que foram linchadas ou assassinadas e para quem não se rezou sequer uma oração, para aqueles que foram enforcados cruelmente. E para aqueles que foram arremessados para fora dos barcos no meio do caminho”. Já Smith usava um cachecol preto e ao lado do companheiro inclinou a cabeça, ergueu o braço com a mão coberta de luva e permaneceu em silêncio enquanto o hino era executado.

Em cerimônia no pódio dos 200 metros livres, dois atletas negros dos EUA ergueram o braço na saudação "black power" e perderam suas medalhas

Wikicommons

Em cerimônia no pódio dos 200 metros livres, dois atletas negros dos EUA ergueram o braço na saudação "black power" e perderam suas medalhas

No mesmo instante pessoas em meio à multidão vaiavam e maldiziam os atletas, levando o COI  a reunir-se no dia seguinte, determinando que Smith e Carlos perdessem o direito as suas medalhas e abandonassem a Vila Olímpica e o México imediatamente. O Comitê Olímpico norte-americano se recusou a cumprir as medidas, e Brundage chegou a ameaçar de expulsão toda a equipe norte-americana.

A punição foi seguida de uma reação violenta contra os atletas nos Estados Unidos. Jornais comparavam-nos a nazistas. Brett Musburger, comentarista esportivo da ABC, chamou-os de “polícia de assalto de pela negra.” A revista Time considerou seu ato como “asqueroso e desagradável”. Suas atividades “não-americanas” levaram Smith a ser desincorporado do exército e alguém arremessou uma pedra partindo o vidro do quarto onde estava o berço de seu bebê. Durante anos os dois receberam ameaças de morte.

Mas essa opinião não era unânime: o imperialismo norte-americano no Vietnã e a força do movimento negro internacional levaram o gesto a ser apoiado em diversos espaços, e hoje Smith e Carlos são um símbolo de resistência política e de coragem. Em 2005, a Universidade Estatal de San José inaugurou uma estátua de 6 metros de altura em homenagem aos dois homens.