Robert Boyle, filósofo natural, químico, físico, inventor e teólogo irlandês, morreu em Londres em 30 de dezembro de 1691. Como cientista é conhecido pela formulação da Lei de Boyle além de ser considerado como o primeiro químico moderno. Sua obra The Sceptical Chemist (“O Químico Cético”, em português) é fundamental na história da química. Boyle nasceu no condado de Waterford, Irlanda, em 1627. Foi o 14.º filho de um total de 15 do aristocrata inglês Richard Boyle e de Catherine Fenton, sua segunda esposa.
Linda criança, Robert aprendeu a falar latim, grego e francês, sendo enviado aos oito anos ao Colégio de Eton. Aos 15, foi morar cerca de dois anos em Gênova, passando o inverno em Florença estudando a obra de Galileu.
Regressou à Inglaterra em meados de 1644 com grande interesse pela investigação científica. Seu pai, morto no ano anterior, deixou propriedades, o que lhe permitiu dedicar-se inteiramente à pesquisa científica. Logo ocupou um lugar destacado no grupo de investigadores conhecido como o “Colégio Invisível”.
Em 1654, Boyle parte para Oxford. Depois de ler em 1657 sobre a bomba de ar de Otto von Guericke dedica-se a projetar melhorias em sua construção. Em 1659 desenvolve a “máquina boyleana” ou “motor pneumático”, com o que inicia uma série de experimentos sobre as propriedades do ar. Uma resenha dos trabalhos de Boyle com a bomba de ar foi publicada em 1660 sob o título “Novos experimentos físico-mecânicos sobre a elasticidade do ar e seus efeitos”. Faz a primeira menção da lei que estabelece que o volume de um gás varia inversamente com sua pressão, a que se conhece hoje como Lei de Boyle ou Lei de Boyle-Mariotte.
Em 1663 o Colégio Invisível se converteu na Royal Society de Londres para a Melhoria de Recursos Naturais e Conhecimento. A carta de constituição outorgada por Carlos II designou Boyle como um dos membros do conselho.
Boyle é autor de 24 possíveis inventos que incluíam “O Prolongamento da Vida”; a “Arte de Voar”; a “Luz Perpétua”, “A fabricação de armaduras muito leves e extremamente duras”; um “barco capaz de navegar com todo tipo de ventos e um navio que não afunda”; uma “maneira prática e exata de determinar longitudes”; “drogas suficientemente poderosas para alterar ou exaltar a imaginação, despertar a memória e outras funções e mitigar a dor, adquirir sonho inocente, sonhos inofensivos” etc. A lista é extraordinária porque, com exceção de alguns poucos, quase todos se tornaram realidade.
Em 1689 sua saúde começa a debilitar-se, cessando suas comunicações com a Royal Society. Tornou público seu desejo de não receber convidados “a não ser em ocasiões extraordinárias” às terças e sextas-feiras pela manhã e quartas-feiras e sábados à tarde. A saúde se agrava em 1691, vindo a falecer em 30 de dezembro daquele ano.
O grande mérito de Boyle é que materializou os princípios que Francis Bacon defendeu em sua obra Novum Organum, embora não se considerasse seguidor do mesmo. Apreciava a aquisição de conhecimento com um fim em si mesmo, sem desprezar as aplicações práticas da ciência nem menosprezar o conhecimento decorrente.
Foi um alquimista convencido da possibilidade da transmutação dos metais, chegando a realizar experiência. No entanto, foi elemento-chave na revogação, em 1689, da lei de Henrique IV contra a criação de ouro e prata por meio da alquimia.
Wikicommons
Como cientista é conhecido pela formulação da Lei de Boyle além de ser considerado como o primeiro químico moderno
Realizou importantes contribuições no campo da física: a lei de Boyle, o descobrimento do papel do ar na propagação do som, as investigações acerca da força expansiva no congelamento da água acerca da densidade relativa, a refração em cristais, eletricidade, cor, hidrostática, etc. Não obstante, a química foi sempre sua área predileta. Em 1661 publicou o The Sceptical Chemist em que criticava os “experimentos pelos quais vulgares alquimistas se esforçam em provar que sal, enxofre e mercúrio são os verdadeiros princípios das coisas”.
Para Boyle, a química era a ciência da composição das substâncias e não uma arte auxiliar para o alquimista. Avançou para a visão moderna dos elementos como os constituintes dos corpos materiais e compreendeu a diferença entre as misturas e os compostos, realizando progressos consideráveis nas técnicas para a determinação de seus componentes, um processo que batizou de “análise”.
Realizou estudos acerca da combustão e da respiração, descobrindo a intervenção do oxigênio, assim como experiências em fisiologia [foto à esquerda], que costumavam ser contidos em virtude da “sensibilidade de sua natureza”, que o impedia de realizar dissecações anatômicas, especialmente em animais vivos.
Além de ser um diligente filósofo da natureza, Boyle dedicou muito tempo à teologia cristã, mostrando uma inclinação aos aspectos práticos e indiferença pelas polêmicas. Recusou a ordenação, na crença que seus textos sobre temas religiosos teriam um maior valor na medida em que fossem obra de um laico e não de um ministro a soldo da igreja.
Como diretor da Companhia das Índias Orientais gastou grandes somas na missão evangelizadora, contribuindo com sociedades missionárias e a tradução da Bíblia ou fragmentos em distintos idiomas.
Sua magna obra publicada um ano antes de morrer, O Cristão Virtuoso seria mais tarde retomada por John Locke em The Reasonableness of Christianity, as Delivered in the Scriptures.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.