Em 2 de março de 1807, a Câmara dos Comuns do Reino Unido aprova a abolição do comércio e do tráfico de escravos entre as colônias britânicas na África e nas Américas. A medida já havia sido aplicada pela Dinamarca desde três anos antes. Agora, a Inglaterra exortaria as demais nações a renunciar ao tráfico – inclusive por meio da força. Não hesitaria em visitar e fiscalizar os navios suspeitos de transportar escravos, tornando-se assim verdadeiras patrulhas dos mares.
Muitos defensores do abolicionismo saudaram a conquista; outros questionaram a decisão por não prever a indenização aos proprietários de escravos, inclusive a Igreja Anglicana. Para a maioria, abolir a escravidão era algo aceito como um ato humanitário. Para outros, os fatores econômicos eram a principal razão, afirmando que a situação dos proprietários de escravos no Caribe a partir de 1790 era decrescente.
O Reino Unido não era o único país a estar envolvido com o tráfico, nem o único a se beneficiar financeiramente. Muitos países europeus mantinham-se ativos no comércio e tráfico de escravos negros, inclusive a França, Espanha e Portugal e suas respectivas colônias. Mas o Reino Unido era o líder na atividade mercantil. Governantes e mercadores africanos ajudavam no suprimento de escravos.
Os membros da Sociedade pela Abolição do Comércio de Escravos, em Londres, haviam decidido concentrar-se na campanha para persuadir o parlamento a proibir o comércio de escravos por razões táticas. Achavam que, assim, seriam mais bem-sucedidos do que exigir a abolição da escravatura em todo o Império Britânico. Acreditavam ainda que, com o fim do tráfico, a própria escravidão iria definhar.
Nos primeiros anos da campanha, os abolicionistas tiveram grande sucesso em obter apoio da opinião pública. A Sociedade coletava provas, dava conferências, entrava com petições no parlamento e distribuía milhares de panfletos. No entanto, o primeiro projeto de lei para abolir o comércio de escravos, votado em 1791, foi rejeitado por 163 votos a 38.
As chances da abolição tornaram-se mais favoráveis quando William Grenville – extremamente simpático à causa – tornou-se primeiro-ministro. No cargo, apresentou o projeto de abolição do comércio de escravos em 2 de janeiro de 1807, na Câmara dos Lordes. A casa votou a favor da abolição em 5 de fevereiro, por 100 votos a 34, apesar do forte lobby da Companhia das Índias Ocidentais. Finalmente, no dia 2 de março, a Câmara dos Comuns aprovou o projeto de lei por 283 votos a 16. Em 25 de março daquele ano, a lei foi sancionada pela Coroa, extinguindo esse comércio em todas as colônias do Reino Unido e tornando ilegal o transporte de escravos em navios britânicos.
Embora a lei que proibia o comércio transatlântico de escravos tivesse sido aprovada, somente em 1838 os escravos se tornaram totalmente libertos no Reino Unido. No continente americano, a escravidão prosseguiu até a segunda metade do século XIX. Os Estados Unidos aboliram-na em 1866 e o Brasil, só em 1888.
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Reprodução do quadro "O Comércio de Escravos", de Auguste-François Biard (1840)