Em 6 de outubro de 1908, a monarquia dual Áustria-Hungria anuncia a anexação da Bósnia e da Herzegovina, duas províncias na região dos Bálcãs na Europa Meridional, anteriormente sob o controle do Império Otomano.
Embora Bósnia e Herzegovina estivessem ainda em 1908 nominalmente sob o controle do sultão otomano, o império austro-húngaro vinha administrando essas províncias desde o Congresso de Berlim de 1878, quando as grandes potências da Europa concederam à monarquia dual o direito de ocupá-las, ainda que elas permanecessem legalmente vinculadas à Turquia.
Apesar das províncias virem sendo cobiçadas por muitos, com efeito, somente a Áustria-Hungria manifestou abertamente esse desejo. A decisão que havia sido tomada em Berlim foi na verdade uma medida temporária destinada a preservar o delicado equilíbrio de poder na Europa.
Para tornar as coisas ainda mais complicadas, a população majoritariamente eslava das duas províncias tinha suas próprias ambições nacionalistas, visto que seus vizinhos eslavos da Sérvia ansiavam por anexá-las a fim de levar adiante suas ambições paneslávicas.
Quando o Comitê de União e Progresso – os assim chamados Jovens Turcos – comandou a rebelião que tomou o poder no Império Otomano em 1908, o barão Aloys von Aerenthal, ministro do Exterior do Império Austro-húngaro, vislumbrou a oportunidade de confirmar seu domínio dos Bálcãs.
À parte a debilidade do sultão, a Rússia, a grande rival da monarquia austro-húngara na luta pelo poder nos Bálcãs também balançava, após a derrota na guerra russo-japonesa e a revolução interna de 1905.
Paola Orlovas
Anúncio da anexação pela Áustria-Hungria da Bósnia e Herzegovina rompe o frágil equilíbrio de poder nos Bálcãs
O anúncio da anexação pela Áustria-Hungria da Bósnia e Herzegovina rompe o frágil equilíbrio de poder nos Bálcãs, irritando a Sérvia e os nacionalistas eslavos em toda a Europa. Embora a enfraquecida Rússia tivesse, humilhantemente, de se submeter, sua política externa ainda via as ações da Áustria-Hungria como abertamente agressivas e ameaçadoras, a despeito das garantias de Aerenthal de que não tinha planos de tomar a Macedônia, outra disputada província do antigo Império Otomano.
A resposta da Rússia teve o condão de excitar o sentimento pró-Rússia e anti-Áustria na Sérvia e outras províncias balcânicas, provocando temores em Viena do expansionismo eslavo na região.
Em janeiro de 1909, no auge da crise Bósnia-Herzogovina, Franz Conrad von Hotzendorff, chefe do Estado Maior do exército austríaco, procurou Helmuth von Moltke, seu colega alemão de mesma hierarquia, para lhe perguntar o que faria a Alemanha se a Áustria invadisse a Sérvia e isto provocasse a intervenção de Moscou.
Significativamente, Moltke retrucou que, a despeito da natureza meramente defensiva da aliança germano-austríaca concluída em 1879, a Alemanha apoiaria o Império Austro-Húngaro, ainda que fosse este o agressor no conflito, e declararia guerra não somente à Rússia mas também à França, poderoso aliado russo no ocidente.
No verão de 1914, ocorreria exatamente isto, quando a disputa pelo poder nos tumultuosos e instáveis Bálcãs transformou-se num devastador conflito internacional, conhecido à época como a Grande Guerra e, mais tarde, como a Primeira Guerra Mundial.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.