Enquanto a Guerra ameaçava os Bálcãs, a atenção de grande parte do povo francês estava voltada para o sensacional caso da Madame Henriette Caillaux, cujo julgamento pela morte de Gaston Calmette, editor do jornal Le Figaro, é aberto em 20 de julho de 1914, em Paris.
Joseph Caillaux, um político de esquerda, havia sido indicado primeiro-ministro da França em 1911. Foi obrigado, porém, a renunciar no ano seguinte após ter sido acusado de excessiva leniência com a Alemanha. Escolhido novamente como ministro em 1913, o pacifista Caillaux permaneceu sob constante ataque da direita.
Em sua vida pessoal, ele não era nada discreto, ostentando amantes por todo lado durante sua vida de solteiro e mantendo um caso de amor secreto com uma delas, sua futura segunda mulher, Henriette, enquanto ainda estava casado com a primeira esposa.
Embora Caillaux tenha sido um velho amigo de Raymond Poincaré, eleito presidente da França em março de 1913, tornaram-se acérrimos adversários ainda antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1919), que teria início no verão seguinte.
Pouco depois de sua eleição, Poincaré defendeu uma legislação que estenderia o pagamento de impostos com fins militares de dois para três anos, uma medida que parecia necessária a muitos como meio de compensar a enorme vantagem populacional da Alemanha – 70 milhões a 40 milhões – em caso de guerra.
A despeito da oposição de Caillaux e de outros liberais, inclusive o líder socialista, Jean Jaures, a lei foi aprovada em agosto de 1913. Como Caillaux continuava a criticá-la, tornou-se alvo de uma grande campanha difamatória conduzida por Gaston Calmette, o mais poderoso jornalista da França e editor do maior jornal, de linha direitista, o Le Figaro.
Começando em dezembro de 1913, Calmette afirmava que ele poderia e iria publicar certos documentos que provariam que Caillaux, enquanto servia como Ministro das Finanças em 1911, obstruíra a justiça num escândalo financeiro em que estava pessoalmente envolvido. Além do mais, Calmette ameaçou publicar cartas de amor trocadas entre Caillaux e Henriette, quando ainda estava casado com a primeira esposa.
Quando Calmette ameaçou publicar comunicações telegráficas interceptadas, supostamente demonstrando a simpatia de Caillaux pela Alemanha – uma afirmação que provocou enérgico protesto do governo alemão contra a interceptação de sua correspondência oficial – Caillaux foi a Poincaré para pedir-lhe que Calmette evitasse revelar os documentos.
Caso Poincaré desistisse, Caillaux avisou: ele próprio tornaria público telegramas interceptados em seu poder, revelando as negociações secretas do presidente francês com o Vaticano.
Tal revelação, certamente, irritaria os apoiadores seculares e anticlericais de Poincaré. O governo francês emitiu em seguida uma nota oficial negando a existência dos telegramas germânicos. Não obstante, Calmette prosseguiu com as ameaças de publicar as cartas de amor de Caillaux.
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Retrato de Madame Henriette Caillaux, feito em 1914, que estampou os jornais franceses durante seu julgamento
Em 16 de março de 1914, Henriette Caillaux tomou um táxi em direção à sede do Le Figaro na rua Drouot. Após esperar uma hora pela chegada do editor-chefe, caminhou com ele até sua sala. Alvejou-o com seis tiros de sua pistola automática. Abatido, Calmette morreu naquela mesma noite.
Enquanto no leste, em Viena e Berlim, avançavam os planos que desembocariam na Primeira Guerra Mundial, os parisienses estavam fascinados pelo caso Caillaux e completamente alienados da iminente crise na Europa. Além de ter sido um crime que causou comoção, o caso estabeleceu também um estridente conflito entre os políticos de esquerda e de direita.
O julgamento de Madame Caillaux começou em 20 de julho de 1914. Oito dias mais tarde, o júri a inocentou alegando tratar-se de um crime passional. No mesmo dia, a Áustria-Hungria declarava Guerra à Sérvia.
Outros fatos marcantes da data:
20/07/1807 – O engenheiro Robert Fulton realiza o primeiro teste de seu barco a vapor
20/07/1951 – Rei da Jordânia é assassinado
20/07/1969 – Neil Armstrong é o 1º homem a pisar na Lua
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.