Em 22 de abril de 1915, as tropas germânicas horrorizaram os soldados aliados ao longo do front ocidental ao lançar mais de 150 toneladas de gás clorídrico contra duas divisões francesas em Ypres, Bélgica. Foi o primeiro grande ataque a gás que devastou as linhas aliadas.
Fumaças tóxicas haviam sido ocasionalmente utilizadas desde tempos remotos. Em 1912, os franceses usaram pequenas quantidades de gás lacrimogêneo em operações policiais.
Com a deflagração da Primeira Guerra Mundial, os alemães começaram a desenvolver ativamente armas químicas. Em outubro de 1914, os germânicos colocaram algumas pequenas caixas de gás lacrimogêneo em alguns obuses disparados contra Neuve Chapelle, França, porém as tropas aliadas não foram expostas a ele. Em janeiro de 1915, os alemães lançaram obuses carregados com brometo de xileno, um gás mais letal, sobre as tropas russas em Bolimov no front oriental. Devido ao frio hibernal, a maior parte do gás congelou, mas, apesar disso, os russos relataram mais de mil baixas fatais como resultado dessa nova arma química.
Em 22 de abril, os alemães lançaram sua primeira e única ofensiva do ano. Conhecida como a Segunda Batalha de Ypres, começou com o habitual bombardeio de artilharia contra as linhas inimigas. Quando o canhoneio amainou, os defensores aliados aguardavam pela primeira onda de ataque das tropas germânicas, mas ao invés foram levados ao pânico quando o gás clorídrico flutuou pela terra de ninguém e penetrou em suas trincheiras. Os alemães direcionaram o gás venenoso distantes seis quilômetros do front com a ajuda do vento e dizimaram duas divisões de soldados franceses e argelinos. As linhas aliadas ficaram rompidas, mas os germânicos, talvez tão chocados quanto os aliados pelos efeitos devastadores do gás venenoso, deixaram de tomar plena vantagem e os aliados puderam manter a maioria de suas posições.
Imediatamente após o ataque alemão a Ypres, a França e o Reino Unido começaram a desenvolver suas próprias armas químicas e máscaras de gás.
Com os alemães tomando a dianteira, um extenso número de projéteis preenchidos com substâncias letais poluíram as trincheiras da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O gás mostarda, introduzido pelos germânicos em 1917, cobriam de bolhas a pele e afetavam olhos e pulmões, matando milhares.
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Imediatamente após o ataque alemão a Ypres, a França e o Reino Unido começaram a desenvolver suas próprias armas químicas e máscaras de gás
Estrategistas militares defendiam o uso de gás venenoso afirmando que reduzia a capacidade do inimigo de responder e em consequência salvavam vidas nas ofensivas. Na verdade, defesas contra o gás venenoso caminhavam pari passu com o desenvolvimento das ofensivas e ambos os lados empregavam sofisticadas máscaras e roupas de proteção que negavam na essência a importância estratégica das armas químicas.
Os Estados Unidos, que entraram na Primeira Guerra Mundial em 1917, também desenvolveram e utilizaram armamento químico. O futuro presidente Harry Truman (1945-1953) era capitão de uma unidade de artilharia de campo que disparou gás venenoso contra os alemães em 1918. No total, mais de cem mil toneladas de agentes químicos foram despejadas na guerra, cerca de 500 mil soldados foram feridos e cerca de 30 mil mortos.
Nos anos que se seguiram a Primeira Guerra Mundial, Reino Unido, França e Espanha usaram armas químicas em vários conflitos coloniais, apesar da crescente crítica internacional à guerra química.
Em 1925, o Protocolo de Genebra baniu o emprego das armas químicas na guerra mas não proibiu seu desenvolvimento ou armazenagem. A maioria das grandes potências formou importantes reservas de armas químicas.
Nos anos 1930, a Itália empregou armas químicas contra a Etiópia e o Japão as usou contra a China. Na Segunda Guerra Mundial não ocorreu guerra química, principalmente porque os beligerantes possuíam tanto as armas quanto as suas defesas que faziam delas ineficazes. Além do mais, num conflito caracterizado por blitzkrieg (guerra relâmpago) e movimentos rápidos, os estrategistas opunham-se a tudo o que pudesse retardar as operações. A Alemanha, no entanto, usou gás venenoso para exterminar milhões em seus campos de concentração.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), armas químicas foram empregadas apenas em um punhado de ocasiões: no Iêmen (1966-67), na Guerra Irã-Iraque (1980-88). Em 1990, os Estados Unidos e a União Soviética assinaram um acordo para cortar em 80% seus arsenais químicos, com o objetivo de desestimular nações menores a armazenar tais tipos de armas. Em 1993, um tratado internacional foi assinado banindo a produção, a estocagem e o uso de armas químicas, ratificado por 128 nações.
Também nesta data:
404 a.C – Esparta subjuga Atenas pela fome até a rendição
1616 – Na mesma data, morrem William Shakespeare e Miguel de Cervantes
1961 – Generais franceses na Argélia tentam aplicar golpe de Estado
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.