Em 13 de setembro de 1923, Miguel Primo de Rivera y Orbaneja encabeça um golpe de Estado na Espanha, dissolvendo o Parlamento e implementando uma ditadura. Primo de Rivera era um militar e ditador espanhol, fundador da organização fascista União Patriótica, inspiradora da União Nacional portuguesa.
Como general, em 1922 confrontou-se com graves problemas de ordem pública na Catalunha, nomeadamente o terrorismo anarquista e o pistoleirismo patronal, em pleno auge da luta pela autonomia da região. A estes problemas locais juntava-se a instabilidade ministerial e a rápida decomposição do sistema partidário.
Como reação, Primo de Rivera encabeçou o golpe, com a conivência de Afonso XIII e de boa parte do patronato, clero, forças armadas e meios conservadores. Na sequência, o general encabeçou um Diretório Militar (1923-1925), que concentrou todos os poderes do Estado, excluindo da vida política os partidos políticos e os movimentos sociais. Tendo em conta que substituira um regime desprestigiado, até os socialistas mantiveram uma neutralidade benévola, dando-lhe o benefício da dúvida.
Durante os anos do Diretório Militar limitou-se a perseguir os anarquistas, cujo sindicato, a CNT, foi proibido. Na ação política, afastou do governo os partidos e as instituições representativas da vida política, substituindo-os por tecnocratas conservadores, agrupados na União Patriótica.
O Diretório Militar deu lugar a um Diretório Civil (1925-30) e reuniu-se uma Assembleia Nacional (1927) que elaborou um anteprojeto de Constituição (1929). Aquele simulacro de Parlamento, mesmo assim mostrou a diversidade de posições políticas que havia entre os apoiadores da ditadura, contrapondo os católicos conservadores da velha cepa aos corporativistas autoritários, atraídos pelo fascismo.
Museo del Ejército/Ministerio de Defensa de España
Retrato de Miguel Primo de Rivera, feito durante a década de 1920
Biografia
O militar nasceu em Jerez de la Frontera, província de Cádis, em 8 de Janeiro de 1870 e pertencia a uma família de militares ilustres, na qual se destacava seu tio, Fernando Primo de Rivera (1831-1921). Seguindo a tradição familiar, ingressou no exército aos 14 anos e desenvolveu a maior parte da carreira em serviço nas colônias: Marrocos, Cuba e Filipinas, ao lado do tio. Primo de Rivera ascendeu rapidamente na hierarquia militar sendo que, em 1912, já era general.
Após intensa carreira política, desautorizado pelos altos comandos militares e pelo rei Afonso XIII, em 1930, Primo de Rivera demitiu-se e auto-exilou-se em Paris, onde morreu dois meses mais tarde, em 16 de março.
Seu filho mais velho, José António Primo de Rivera, sucedeu-lhe na atividade política, alegadamente para reabilitar a memória paterna, sendo uma das figuras centrais na implantação do franquismo e o mítico fundador da Falange espanhola.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.