Henry Ford, pioneiro da indústria automobilística dos Estados Unidos, era conhecido por suas ideias políticas ultraconservadoras. Segundo notícias à época, chegou a flertar com o nazi-fascismo em ascensão ao qual nutria simpatias.
Sua visão de classe, de exploração do trabalho humano, foi retratado genialmente por Charles Chaplin em seu magistral Tempos Modernos. Contudo, Ford era esperto e sabia jogar habilidosamente com as ferramentas do capitalismo.
Em 1º de maio de 1926, quando o mundo celebrava o Dia Internacional dos Trabalhadores instituído pela Segunda Internacional Socialista, reunida em Paris, em 1889, em homenagem aos trabalhadores de Chicago massacrados pela polícia norte-americana nos primeiros dias de maio de 1886, quando saiam às ruas para reivindicar melhores condições de trabalho, entre elas, a redução da jornada de trabalho de treze para oito horas diárias, a Ford Motor Company tornava-se a primeira empresa do país a adotar a jornada de 40 horas semanais e cinco dias na semana para os operários de suas fábricas automotivas. A medida se estenderia para os empregados administrativos no mês de agosto do mesmo ano.
A companhia automobilística de Henry Ford situada em Detroit já havia rompido com as práticas trabalhistas tradicionais desde então. No começo de 1914, contra o pano de fundo de amplo desemprego e crescente tensões sociais, Ford anunciou que pagaria aos seus empregados homens um salário mínimo de cinco dólares por uma jornada de oito horas, muito acima do salário médio anterior de 2,34 dólares por nove horas diárias. Estendeu essa prática para as mulheres trabalhadoras de suas fábricas somente em 1916.
Wikimedia Commons
Medida incrementou a produtividade na linha de montagem, criou um sentimento de lealdade à companhia e de orgulho em trabalhar para a Ford
Esta notícia chocou os empresários da época. Cinco dólares por dia eram mais do que o dobro da média da indústria automobilística. Mas a medida mostrou-se logo como um lance hábil e de efeito: incrementou imediatamente a produtividade na linha de montagem e criou um sentimento de lealdade à companhia e de orgulho em trabalhar para a Ford. Além de vender muitos automóveis e mais baratos para os seus próprios trabalhadores.
A decisão de reduzir a jornada semanal de seis para cinco dias havia sido originalmente adotada em 1922. De acordo com um artigo publicado no The New York Times em março daquele ano e assinado por Edsel Ford, filho de Ford e presidente da companhia, explicava que “todo homem necessita mais de um dia por semana para descanso e recreação. […] A companhia Ford sempre buscou promover uma vida doméstica ideal para os seus empregados. Acreditamos que para viver apropriadamente todo homem deveria dispor de mais tempo para passar com sua família.”
Henry Ford comentou com mais profundidade a decisão: “É mais do que tempo de nos desfazermos da noção de que tempo livre para os trabalhadores é tanto “tempo ocioso” quanto um privilégio de classe”.
Como o próprio Ford, porém, admitiu a “jornada de 40 horas semanais e cinco dias na semana foi também instituída para aumentar a produtividade. Embora o tempo de permanência dos operários tenha decrescido, espera-se deles que façam mais esforços enquanto lá permanecerem”.
Não demorou muito para que se instituísse pelo mundo afora o que se denominou de ‘semana inglesa’: trabalho de segunda a sexta-feira e descanso no sábado e domingo. A jornada semanal de 40 horas continua sendo objeto de luta dos sindicatos de trabalhadores na maioria dos países.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.