Em 27 de maio de 1940, unidades da divisão das SS nazistas, cuja efígie era uma caveira, combatiam tropas inglesas a cerca de 80 quilômetros do porto de Dunquerque, no norte francês, enquanto a força expedicionária britânica prosseguia em sua tentativa desesperada de evacuar a França, inscrita na história da Segunda Guerra Mundial como a Retirada de Dunquerque.
Depois de ter mantido à distância uma companhia da SS até gastar totalmente a sua munição, 99 soldados do Regimento Real de Norfolk foram até uma casa de campo no vilarejo de Paradis, a apenas 80 quilômetros do porto de Dunquerque. Navios estavam ali ancorados aguardando que tropas da força expedicionária britânica subissem a bordo e os levassem de volta à Inglaterra.
Esses soldados tinham estado combatendo, em sua guerra defensiva, contra os invasores germânicos. Concordando em se render, o regimento inglês cercado começou a sair enfileirado da casa de campo, agitando com uma bandeira branca amarrada na baioneta. Viram-se diante das metralhadoras dos soldados alemães e agitaram novamente a bandeira de rendição.
O regimento britânico recebeu então ordens de um oficial germânico que falava inglês para se deslocar a campo aberto onde foram revistados e despojados de tudo que carregavam desde as máscaras anti-gás até cigarros. Foram levados em ordem unida até um fosso diante do qual estavam posicionadas metralhadores.
Chega então a fatídica ordem do comandante nazista: “Fogo!”. Os soldados britânicos que sobreviveram às rajadas de metralhadoras receberam como golpe de misericórdia ou espetadas de baionetas ou simplesmente um tiro de revólver diretamente na cabeça.
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Dos 99 membros do regimento, apenas dois sobreviveram, ambos soldados-rasos: Albert Pooley e William O’Callaghan
Dos 99 membros do regimento, apenas dois sobreviveram, ambos soldados-rasos: Albert Pooley e William O'Callaghan. Permaneceram, fingindo-se de mortos, entre os seus camaradas trucidados, até a noite. Então, em meio a uma tempestade, arrastaram-se até uma casa de campo, onde seus ferimentos foram pensados.
Sem ter para onde ir, renderam-se de novo aos alemães que os fizeram prisioneiros de guerra. A perna de Pooley estava tão terrivelmente ferida que ele foi repatriado para a Inglaterra em abril de 1943 em troca de alguns soldados germânicos feridos. No retorno ao Reino Unido, ninguém queria acreditar em sua história.
Somente quando O'Callaghan também regressou a casa é que foi feita uma investigação formal. Finalmente, após o término da guerra, um tribunal militar britânico em Hamburgo localizou o oficial nazista quem dera a ordem de fogo, capitão Fritz Knochlein. Capturado, foi julgado e condenado por grave crime de guerra, sendo executado na forca.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.