Em 16 de abril de 1943, o químico suíço Albert Hofmann descobriu a droga alucinógena LSD (dietilamina de ácido lisérgico). Trabalhando para a indústria farmacêutica Sandoz, o cientista fez a descoberta por acaso, ao aspirar por descuido uma pequena quantidade de pó no laboratório.
Como surgiu o LSD?
Hofmann estava à procura de um estimulante para a circulação sanguínea quando se deparou com o fungo do centeio, muito temido na Idade Média como causa de pestes, o que lhe rendeu o nome de “vingança divina”. Sabia- se, por outro lado, que ele tinha efeitos positivos, como o de conter hemorragias no parto.
Não foram, porém, as propriedades curativas, mas, sim, os efeitos alucinógenos que transformaram o LSD num dos pilares do movimento hippie dos anos 60.
A Sandoz tentou lucrar com a descoberta, encarregando cientistas de testarem a droga na psiquiatria. O medicamento foi lançado no mercado sob o nome “Delysid”, para tratamento de fobias e neuroses, mas com a advertência de que provocava alucinações.
As pesquisas anteriores de Hofmann estavam direcionadas para plantas e fungos medicinais, tentando extrair e sintetizar substâncias psicoativas. Em 1938, isolou um dos componentes básicos e essenciais para todas as outras substâncias alcaloides terapêuticas da época: o ácido lisérgico.
O químico fez experiências com várias outras substâncias que acabaram originando estimulantes para respiração e circulação do corpo. Um desses estimulantes era o LSD-25 (ácido lisérgico dietilamida – 25).
Cinco anos mais tarde, tomado por um “pressentimento”, Hofmann retomou as pesquisas com o LSD-25. Durante uma de suas experiências, percebeu sensações estranhas: “Uma inquietude notável combinada com uma prazerosa sensação de leveza”.
Neste momento, Hofmann interrompeu seus estudos e foi para casa: “Quando cheguei em casa, deitei e me afundei em uma condição de intoxicação muito agradável, caracterizada por uma imaginação extremamente estimulada. Em um estado de sonho acordado, com os olhos fechados, achei que a luz do dia estava desagradavelmente brilhante, percebi uma série ininterrupta de figuras fantásticas, extraordinárias formas de muita intensidade, caleidoscópicos jogos de cores. Vontade de rir. Duas horas depois essa condição havia enfraquecido”.
Albert Hofmann, que descobriu o LSD, relatou "inquietude" e "sensação de leveza" ao utilizar a droga
Wikipedia Commons
Hofmann descobrira acidentalmente o que viria a se tornar uma das substâncias psicoativas de maior poder conhecido pelo homem. Três dias depois, em 19 de Abril de 1943, se preparou para a primeira experiência científica baseada em uma dose de 250 microgramas de LSD-25. Descobriu, então, toda a intensidade e o poder alucinógeno da substância.
Este dia, também conhecido como Dia da Bicicleta, ficou famoso, pois, após tomar a dose de LSD, Hofmann foi para casa de bicicleta sob os efeitos da substância. Era a primeira “viagem” de LSD da história.
Desde então, a vida de Hofmann se confunde com a história do LSD. Em 1958, obteve sucesso em isolar duas poderosas substâncias psicoativas, a psilocybin e a psilocin dos cogumelos mágicos (Rivea corymbosa) usados por xamãs mexicanos.
Uso do LSD como entorpecente
Enquanto o resultado do uso psiquiátrico do LSD era pouco satisfatório, o das experiências como entorpecente despertou o interesse dos movimentos alternativos dos anos 60. Já em meados dos anos 1950, a CIA havia comprado todo o estoque de LSD da Sandoz para usá-la como “droga da verdade”.
No início dos anos 60, a droga passou a ser consumida em massa. Era difundida pelos meios de comunicação e por escritores como Aldous Huxley. Artistas famosos, como Jimi Hendrix e os Beatles, ajudaram a criar o culto ao alucinógeno. O principal guru, no entanto, foi o professor norte-americano Timothey Leary, que considerava o LSD “um caminho imperial para uma nova consciência”.
Não demorou até que surgissem as primeiras histórias de horror da subcultura psicodélica. Como a droga provoca alterações visuais, despersonalização e até a sensação de que se pode voar, ocorriam casos de suicídios em que dependentes de LSD saltavam de pontes e viadutos. Muitos acabaram internados em clínicas psiquiátricas, onde o LSD ainda é usado em doses mínimas como terapia.
Estudos científicos demonstraram que, mesmo depois de parar de consumir a droga, há um fenômeno de ação retardada (flashback) que pode ter consequências graves. O excesso no consumo pode provocar a morte. As alterações de ânimo, do pensamento e, sobretudo, da percepção podem se assemelhar às verificadas na esquizofrenia.
Consciente dos problemas que acompanhariam sua descoberta, Hofmann dizia que o ideal seria termos duas vidas: uma com e outra sem LSD.
Albert Hofmann morreu de ataque cardíaco aos 102 anos, em abril de 2008.
Também nesta data:
1979 – Morre Jean Monnet, “pai da Europa” e negociador ímpar entre as duas grandes guerras
1521 – Fernão de Magalhães chega às Filipinas
1935 – Contrariando Tratado de Versailles, Alemanha restaura seu serviço militar
1968 – Tropas dos EUA cometem o massacre de My Lai
1988 – Cidade curda de Halabja é bombardeada por tropas iraquianas com armas químicas