Num dos mais significativos discursos da Guerra Fria, pronunciado no dia 5 de junho de 1947, na Universidade de Harvard, em Nova York, o Secretário de Estado, George Marshall, conclama os Estados Unidos a prestar assistência à recuperação econômica da Europa pós-guerra. Seu discurso forneceu as bases do chamado Plano Marshall, que enviou bilhões de dólares à Europa Ocidental para a reconstrução dos países destruídos pelo conflito.
“A política dos Estados Unidos não é dirigida contra um país ou uma ideologia”, esclareceu Marshall, “mas contra a fome, a pobreza, o desespero e o caos.” E acrescentou: “Quem tentar bloquear a reconstrução de outros países não pode esperar ajuda”. Ele se referiu com isso ao bloco socialista do Leste Europeu, que foi realmente excluído da ajuda, aprovada em 3 de abril de 1948.
No círculo de poder norte-americano, porém, prevalecia a tese de George Kennan de que era necessário conter o comunismo. O simples fato do Exército Vermelho aquartelar-se em Berlim, distante alguns dias de marcha de Paris ou Londres, gerava preocupação aos Estados Unidos e seus aliados ocidentais. Os tempos da aliança militar tinham passado. Naquele momento, os dois colossos vitoriosos na guerra olhavam-se cada vez com mais desconfiança. O medo de que os partidos comunistas, em especial o francês e o italiano, pudessem assumir o poder, fez com que os norte-americanos se lançassem à guerra fria.
A Segunda Guerra Mundial deixou um rastro de imensa destruição e as paralisadas economias do Reino Unido e da França não tinham como revigorar a atividade econômica da região. A Alemanha, outrora o dínamo industrial da Europa Ocidental, jazia em ruínas. Desemprego, gente sem teto, fome, era o cenário vivido. Para Washington, a situação preocupava, por duas razões: o caos econômico propiciava terreno fértil de primeira qualidade para o avanço do comunismo. Por outra parte, a economia dos Estados Unidos, que retornava rapidamente ao estado de economia em tempos de paz, necessitava do mercado europeu para a própria sustentação.
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"A política dos Estados Unidos não é dirigida contra um país ou uma ideologia", esclareceu Marshall ao anunciar o plano de recuperação
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Ao discursar, Marshall sublinhara a calamitosa situação da Europa Ocidental defendendo a ajuda norte-americana a essas nações. “As necessidades da Europa para os próximos 3 ou 4 anos em alimentos e outros produtos essenciais do exterior é muito maior do que sua capacidade de pagamento, de modo que deve haver uma substancial ajuda adicional ou então nos veremos frente a uma deterioração política, econômica e social muito grave.” Numa referência velada à ameaça comunista, prometeu que “governos, partidos políticos ou grupos que busquem perpetuar a miséria humana para seu proveito político irão encontrar a oposição dos Estados Unidos.”
O Plano Marshall foi ousado. Entre junho de 1947 e o fim de 1951, os EUA ofereceram 13 bilhões de dólares para financiar a recuperação da Europa. Era o equivalente, na época, a 5,4% do PIB norte-americano em 1947. Seria o equivalente aos EUA dedicarem 750 bilhões de dólares em números de hoje.
Um fazendeiro francês que precisasse de um trator norte-americano o compraria com francos franceses. A administração do plano consultaria o governo francês a respeito da transação. Aprovada, o fabricante do trator nos Estados Unidos seria pago com fundos do Plano Marshall. Os francos do fazendeiro iriam para o Banco Central da França, permitindo que o governo francês gastasse o dinheiro na reconstrução, poupando sua reserva de dólares.
O Plano fazia duas coisas ao mesmo tempo, aliviava a pressão no balanço de pagamentos francês enquanto bombeava dinheiro para o plano de recuperação local. De acordo com um observador, cada dólar Marshall estimulou de 4 a 6 dólares em produção européia.
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05/06/1968 – É assassinado o senador Robert Kennedy
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05/06/1862 – Franceses tomam posse, pelo Tratado de Saigon, da Conchinchina
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.