Indicado pela Organização das Nações Unidas como mediador entre os países árabes e o Estado de Israel, criado quatro meses antes, em maio de 1948, o conde sueco Folke Bernadotte é assassinado em 17 de setembro de 1948 por terroristas judeus em Jerusalém oeste.
Em fevereiro de 1945, Bernadotte, sobrinho do rei Gustavo V, havia conseguido libertar 30 mil judeus dos campos de concentração alemães.
O Conde Bernadotte era um diplomata sueco, fluente em seis idiomas, que ganhou reconhecimento internacional mediante seu trabalho com o chefe da Cruz Vermelha sueca durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 20 de maio de 1948, foi nomeado mediador pela Assembleia Geral da ONU e imediatamente se viu diante da volátil situação no Oriente Médio.
O duradouro conflito entre árabes e judeus na Palestina se acirrou após a resolução das Nações Unidas de 29 de novembro de 1947, estabelecendo a Partilha da Palestina. Quando Israel declarou sua independência em 14 de maio de 1948, cinco exércitos árabes invadiram Israel.
Durante o verão de 1948, Bernadotte permaneceu na Palestina a fim de mediar uma trégua e tentar negociar assentamentos. Em 11 de junho foi bem-sucedido em conseguir um cessar-fogo de 30 dias. Após visitar Cairo, Beirute, Amã e Tel Aviv, chegou a conclusão que a Partilha da ONU era um plano “desafortunado”, resolvendo propor seu próprio plano.
Bernadotte conclamava Israel a ceder o Neguev e Jerusalém à Transjordânia e em troca receber a Galileia ocidental. Defendia uma total desmilitarização de Jerusalém e acusava as forças israelenses de comportamento “agressivo” na cidade.
As fronteiras propostas eram similares àquelas desenhadas antes da votação da Partilha, mas a conjuntura era outra. Israelenses e árabes rejeitaram o plano. O conflito foi retomado violentamente em 8 de julho até que outro cessar-fogo tivesse sido negociado em 18 de julho.
O LEHI (Lutadores pela Liberdade de Israel) era um grupo extremista de direita, também chamado de “Gangue Stern”, engajado numa campanha de terror pessoal contra os britânicos. Quando o exército de Israel foi constituído em 31 de maio de 1948, o LEHI foi desmantelado e seus membros incorporados na tropa.
Contudo, em Jerusalém, o LEHI permaneceu como organização independente, alegando que à época da proclamação da independência o destino da cidade ainda não havia sido definido.
Colagem por Paola Orlovas/Opera Mundi
Indicado pela Organização das Nações Unidas como mediador entre os países árabes e o Estado de Israel, Folke Bernadotte é assassinado
Para o LEHI, o conde Bernadotte, como mediador da ONU para a Palestina, veio para simbolizar a opressão estrangeira. Classificou-o como agente britânico e disse que ele havia cooperado com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Considerou seu plano como uma ameaça à meta de um Israel independente com expansão territorial dos dois lados do rio Jordão. Bernadotte foi assassinado por um grupo do LEHI, ato que levou a sua eliminação pelo governo de Tel Aviv.
O primeiro ministro David Ben-Gurion reagiu em termos duros, denunciando o ato como um atentado terrorista. “Prendam todos os líderes da Gangue Stern. Cerquem todas as suas bases. Confisquem todas as armas. Matem a quem resistir”.
O exército regular posicionou-se em Jerusalém e as ordens eram para desbaratar o campo de treinamento do LEHI por meio de prisões em massa. O governo proibiu o ramo jerosolimita da organização e fechou sua publicação, Hamivrak.
Dois de seus líderes, Natan Yellin-Mor e Mattityahu Shmuelevitz, foram sentenciados a longas penas por uma corte militar, porém mais tarde libertados devido a uma anistia geral. Yitzhak Shamir, outro membro da direção do LEHI, que, como se comprovou, desempenhou um papel central na planificação do assassinato,jamais foi processado e se tornou, décadas depois, primeiro-ministro de Israel.
Um dos resultados da eliminação do conde Bernadotte foi a chegada do exército de Israel a Jerusalém. As tropas mantiveram sob controle israelense o setor ocidental da cidade mesmo depois que o armistício levou ao fim da Guerra de Independência, evitando que toda a área voltasse às mãos dos árabes.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.