Em 7 de abril de 1949, o musical South Pacific estreava no palco do Majestic Theatre de Nova York. A produção é considerada um dos maiores clássicos produzidos insuperável dupla Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II.
O musical, baseado em histórias extraídas do livro de James Michener, Tales of the South Pacific, traz como tema central a história de amor vivida por Nellie Forbush, jovem enfermeira da Marinha norte-americana, e Emile de Becque, agricultor francês de meia-idade. Há também o romance vivido por Joseph Cable, jovem soldado da Marinha norte-americana, e Liat, nativa da ilha de Bali Ha’i, filha de Bloody Mary, uma sarcástica vendedora de utensílios e trajes típicos.
O tema é excepcionalmente dramático para um musical da Broadway e é a defasagem entre o tema e o roteiro que fez dela uma obra híbrida e um pouco obscura. Teria sido mais judicioso ter montado uma obra séria, a exemplo de West Side Story. Todavia, o público norte-americano do pós-guerra queria assistir a verdadeiras comédias musicais pontilhadas de belas canções.
No entanto, o racismo dos protagonistas é velado para não comprometer o sucesso do espetáculo, sendo o maior defeito que se pode imputar ao musical, bem mais interessante que parece à primeira vista.
Mas não se pode negar a coragem dos autores, visto que a história integra um certo número de elementos chocantes para o público da época: uma enfermeira norte-americana branca se apaixona por um homem negro, criminoso e com filhos negros.
De resto, um elegante tenente, tendo já uma noiva, se enamora por uma moça autóctone, filha de uma megera de negócios nebulosos.
A adaptação cinematográfica de 1958 deixa transparecer uma nova ambiguidade: a homossexualidade latente de “marines” e, em particular, do tenente marcado por dois elementos classicamente utilizados para sugeri-la: esquece rapidamente de sua noiva para cair amoroso de Liat e morre nos braços de um homem.
A maioria das canções tem a marca “Rodgers e Hammerstein”, com a participação de Joshua Logan em algumas letras, ou seja, uma construção sutil, partindo de um fundo operístico sustentando linhas melódicas ligeiras, porém sofisticadas.
Os autores acrescentaram à partitura fragmentos cômicos, exóticos ou jazzísticos, justificados pelo contexto político do tema: Pacífico, guerra, anos 1940. “A cockeyed optimist”; “Some enchanted evening”; “Bloody Mary”; “There is nothin’ like a dame”; “Bali Ha’i”; “I’m gonna wash that man right outa my hair”; “A wonderful guy”; “Younger than springtime”; “Happy talk”; “Honey bun”; “Carefully taught”; “This nearly was mine”.
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‘South Pacific’ recebeu o Prêmio Pulitzer na categoria Drama em 1950 e foi o vencedor de 10 prêmios Tony
South Pacific recebeu o Prêmio Pulitzer na categoria Drama em 1950 e foi o vencedor de 10 prêmios Tony, incluindo melhor musical, música, libreto e melhor direção. Além disso, o espetáculo é o único musical a receber prêmios Tony em todas as categorias de interpretação: melhor Ator, atriz, ator coadjuvante e atriz coadjuvante.
As críticas da época retrataram o musical como um acontecimento de raro encantamento, rico em substância dramática e equilibrado em relação ao humor e ao romance. O cantor de ópera italiano Ezio Pinza e Mary Martin foram os protagonistas do elenco original.
Após 1.925 apresentações, é o quinto musical há mais tempo em cartaz da história da Broadway. “South Pacific” ainda coleciona uma versão cinematográfica (1958), quatro produções em Londres, um concerto no Carnegie Hall, cinco remakes na Broadway, além de inúmeras produções internacionais.
O remake de 2008 na Broadway foi o vencedor do Prêmio Tony de melhor revival de musical e trouxe no elenco o brasileiro Paulo Szot, vencedor do Prêmio Tony de melhor ator por seu Emile.
A produção original de “South Pacific” estreou na Broadway com 400 mil dólares em vendas antecipadas de ingresso e foi um dos mais lucrativos musicais da história, tendo inclusive vendido mais de um milhão de cópias de CDs.
O relativo fracasso de Allegro, após as revoluções teatrais representadas por Oklahoma! e Carrossel. levou Rodgers e Hammerstein a optar por uma ótica distinta. A partir de “South Pacific”, quase todos os seus trabalhos contaram as alegrias e os dramas de babás em meio a tormentas passageiras de países distantes – “O Rei e Eu” e “A Noviça Rebelde”.
É interessante notar que, a princípio, os autores quiseram elaborar sua obra como uma ópera: tema dramático, contexto histórico portador de paixões, conflitos internos dos personagens, histórias paralelas que se entrecruzavam, entrecortadas por árias, especialmente cuidadas e ausência quase total de coreografia. A obra seria provavelmente considerada no mesmo nível que “West Side Story” ou “Porgy and Bessse”, caso os autores não tivessem cedido aos apelos comerciais. Não obstante, as composições plenas de belas melodias e canções cômicas e sincopadas cativaram as plateias e a crítica.
Richard Rodgers & Oscar Hammerstein são, até hoje, reconhecidos como a maior parceria da história do Teatro Musical. Richard Rodgers foi a primeira pessoa a vencer todos os maiores prêmios do show business: Emmy, Grammy, Oscar, Tony e Pulitzer, sendo igualado apenas por Marvin Hamlisch (“A Chorus Line”, “Sweet Smell of Success” e incontáveis trilhas para o cinema).
Com mais de 850 músicas, Oscar Hammerstein II escreveu as letras e o libreto de O Barco das Ilusões (1927) com música de Jerome Kern e visto como um divisor de águas na História do Teatro Musical que, até então, trazia aos palcos apenas operetas, comédias musicais leves e teatro de revista. Hammerstein também acumulou oito prêmios Tony e dois Oscars.
Richard Rodgers e Oscar Hammerstein legaram aos amantes de música em todo o mundo obras emblemáticas como Oklahoma! (1943), Carousel (1945), Allegro (1947), South Pacific (1949), The King and I (1951), Cinderella (1957), Flower Drum Song (1958) e The Sound of Music (1959).
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(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.